Estranhei na quarta-feira à noite, quando ouvi no noticiário da Sic. A história começou com um desacato entre bandos de miudagem; depois de separados, dois deles seguiram um miúdo de 15 anos, apanharam-no sozinho, e aplicaram-lhe um ensaio de pancada com toda a brutalidade. Foi encontrado, sem sentidos, pelos homens do lixo. Sabemos que os bombeiros o trouxeram de helicóptero para um hospital de Lisboa, onde ficou internado entre a vida e a morte.
"Os agressores, ambos estrangeiros, já foram identificados", dizia a voz do jornalista. Mostrava a fachada do prédio, esticava o depoimento do padrasto que, confirmando a tradição da grande escola portuguesa de jornalismo, não tinha visto nada nem sabia de coisa nenhuma. E a reportagem não desistia, era facto atrás de facto, e o bocado de alcatrão ensanguentado onde o miúdo tinha caído com o crânio desfeito por dois estudantes da escola de pilotos, "ambos estrangeiros".
E a nacionalidade dos "estrangeiros"? Nada. E o que fazia um par de "estrangeiros" na escola de pilotos de Ponte de Sor? Nada, e mais nada, nem a mais pequena pista. O canal do "interesse público", compreensivelmente, em lugar de notícias passava um jogo de futebol. Já o dr. Balsemão paga às suas redacções para lhes dar soltura, deixando-as ao critério de quem calha publicar notícias de fancaria aldrabadas pelos códigos do politicamente correcto.
Quem quiser saber o fim da história pode agradecer ao Correio da Manhã. Os jovens criminosos são iraquianos, filhos do senhor embaixador.
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