Terça-feira, 21 de Abril de 2015

A mama do Estado

Pergunta-se:

 

É do interesse público que as mulheres possam interromper o trabalho para amamentarem os seus filhos?

 

É. Há um número crescente de velhos porque estes, estupidamente, teimam em morrer tarde, enquanto nascem cada vez menos crianças. A assim continuar, Portugal virá a ser um dia um asilo da terceira idade, em instalações decrépitas, à espera que as heras tomem conta de tudo. O que facilite a vida das mulheres com filhos não as beneficia tanto a elas - apenas lhes torna o fardo mais ligeiro - mas beneficia-nos sobretudo a nós.

 

E as mulheres que não têm leite, mas têm filhos bebés, não têm necessidade de tempo para amamentar? Sim, têm, mas o leite de mama é, por assim dizer, vinho de outra pipa, razão por que dessas degeneradas que nem leite têm o CITE (fui ver: quer dizer Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego) não fala. Faz todo o sentido: afinal de contas pôr um biberão a esguichar é mais fácil do que uma mama, e a tarefa pode ser desempenhada, sem chocar sensibilidades, por qualquer dos sexos.

 

Resta que a verdadeira razão pela qual os senhores médicos pediram às senhoras enfermeiras para exprimirem a sua condição de mães pelo expediente de espremerem as mamas é a suspeita de que há casos de ardilosas que abicham as duas horinhas de dispensa sem leite, nem filhos que ainda mamem. E, embora a lei exija apenas um atestado médico, e mesmo esse só depois de um ano sobre o nascimento, estamos em Portugal - não é verdade? - e um atestado os médicos sabem o que vale.

 

Tudo está bem quando acaba bem: as senhoras enfermeiras viram a sua justa reivindicação premiada; os senhores médicos queixar-se-ão, com redobradas razões, de falta de pessoal de enfermagem; quem tinha que se indignar indignou-se; e ficamos a saber que existe um organismo que dá pelo nome de CITE, que faz uma grande falta.

 

Agora por isso, ó abençoado CITE: se é do interesse público que as mulheres sejam dispensadas duas horas por dia para amamentar (a meu ver, aliás, é demasiado pouco tempo), por que razão esse custo recai não sobre o erário público mas sobre os empregadores? É que, CITE do meu coração, a igualdade entre os sexos deveria consistir não apenas em não haver distinções no que cada um ganha, mas também no que cada um custa.

 

Eu sei que seria mais um encargo público, num orçamento que não está ainda equilibrado. Mas não sou desses que reclama despesas sem sugerir cortes. Razão por que, sem ir ver números, suspeito que a extinção do CITE deveria chegar para cobrir os custos da amamentação de um bom número de lactentes.

publicado por José Meireles Graça às 22:51
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