Muita água ainda vai correr até à aprovação da proposta grega no domingo próximo. Mais ainda, correrá depois para aprovação por parte dos restantes parlamentos nacionais onde a proposta deve passar por força da lei.
Mesmo com a aprovação de todos os parlamentos, não há qualquer garantia sólida de que os gregos cumpram o escrito. A hipótese é que a Grécia seja irreformável, liderada por um partido contra a austeridade, obrigado a aceitar um acordo de austeridade sem precedentes, depois de um referendo contrário à austeridade e depois de a dívida pública grega (vai subir!) ter sido declarada iníqua pela comissão do parlamento grego.
Neste momento, não há na oposição grega quem se apresente como alternativa defendendo a austeridade. Esta, vai durar mais do que o actual ciclo legislativo e há o sério risco de radicalização ainda maior, por parte do eleitorado grego. A Aurora Dourada (extrema-extrema-direita) espera que o poder lhe caia nas mãos, com a ajuda do sofrimento da classe média grega.
Há muito mais incerteza no resultado positivo do que probabilidade de sucesso e o menor risco, é que daqui a quatro anos estejamos de novo a questionar toda a organização da zona euro, com a radicalização ainda maior das posições de todos (notemos como nos últimos dias a opinião pública esteve em autêntica efervescência).
A economia europeia está há 3 semanas parada no que diz respeito a decisões de investimento. As empresas simplesmente não sabem com o que contar. Vamos ter nova recessão? O Euro vai continuar? Em limite, arriscamos uma nova guerra com o perigo geopolítico representado por uma saída da Grécia da UE?
Dito isto, em termos práticos, o que poderia ter sido feito?
A pergunta do referendo grego poderia ter sido:
- É a favor de uma saída organizada, mesmo que temporária, da zona euro com apoio dos restantes 18 estados?
Assim, os gregos decidiriam em consciência ficar ou partir, sendo responsáveis pelas futuras reformas se quisessem ficar ou sair do Euro. Os restantes ajudariam, a Grécia reformar-se-ia, ou não, e o Euro seria fortalecido podendo continuar a tímida retoma.
Tal como está agora previsto, somos todos nós, Europeus, responsáveis e fiadores das acções que não controlamos, de um povo obrigado a fazer algo muito doloroso, contra a sua própria vontade.
Tem tudo para correr mal, mas deixámos que um grupo de radicais, interessados em rebentar com tudo por motivos ideológicos, nos manobrassem durante seis meses. E vão andar por aí, alimentando-se de todas as fragilidades da integração europeia.
Estamos prestes a dar-lhes mais uma fragilidade com a aprovação do acordo: a ideologia alimenta-se do sofrimento e da emoção ressentida.
Blogs
Adeptos da Concorrência Imperfeita
Com jornalismo assim, quem precisa de censura?
DêDêTê (Desconfia dele também...)
Momentos económicos... e não só
O MacGuffin (aka Contra a Corrente)
Os Três Dês do Acordo Ortográfico
Leituras
Ambrose Evans-Pritchard (The Telegraph)
Rodrigo Gurgel (até 4 Fev. 2015)
Jornais