Manuela Ferreira Leite e Bagão Felix têm atacado, por vezes com inusitada violência, o actual Governo
Ser alvo de tão frequentes e impetuosas críticas consubstancia um activo ou aspecto meritório, do actual Governo, note-se, que nem sempre tem sido devidamente sublinhado, incluindo pelo próprio Governo.
Manuela Ferreira Leite e Bagão Felix representam, em certa medida, o pior da política portuguesa: um gosto tremendo pela manutenção de um status quo que os favorece, a utilização do acesso fácil aos meios de comunicação social para defender interesses próprios que nunca vão declarados à cabeça, um desprezo total pelo mundo real e pela novas gerações, uma vontade férrea de se quererem perpetuar.
Tudo, claro, devidamente temperado com um irritante ar devoto, que usa e abusa do interesse público e colectivo que, invariavelmente, confundem com o seu.
Vem isto a propósito da carta aberta aos Senhores Deputados, à qual espero que não cedam.
Defende Manuela Ferreira Leite, hoje, porventura com o mesmo despudor com que defendeu que políticos reformados deveriam poder acumular essa retribuição com a do cargo para o qual foram eleitos, que apesar de se ter corrigido a “injustiça” de os reformados não poderem continuar a desempenhar funções em instituições públicas (igual discurso ouvi a Bagão Felix), falta ainda que possam ser remunerados pelas despesas de representação incorridas.
Erra duplamente.
Não se corrigiu qualquer injustiça. Infelizmente, o que se fez foi ceder ao lobby de Ferreira Leite e Bagão, ao permitir-se novamente que reformados possam continuar a exercer cargos públicos.
Sejamos claros: é a própria noção de reformado que impõe que não possam nem devam continuar a exercer qualquer cargo. Pela simples e óbvia razão de que se reformaram.
Esta é claramente a regra que, como todas, consentirá um número maior ou menor de excepções, mas que deveria continuar a ser a regra. Tendo-se alterado – mal já se vê – a regra o mínimo que se impunha é que a acumulação de cargos com a qualidade de reformado seja fortemente desincentivada, não se permitindo qualquer tipo de remuneração, incluindo despesas de representação.
Dir-se-à, ou melhor, dirão Ferreira Leite e Bagão: mas não se pode desperdiçar a nossa sabedoria, a nossa experiência, a nossa disponibilidade. Para alem de elogio em boca própria ser vitupério, a verdade é que a ser assim nunca haveria renovação.
Blogs
Adeptos da Concorrência Imperfeita
Com jornalismo assim, quem precisa de censura?
DêDêTê (Desconfia dele também...)
Momentos económicos... e não só
O MacGuffin (aka Contra a Corrente)
Os Três Dês do Acordo Ortográfico
Leituras
Ambrose Evans-Pritchard (The Telegraph)
Rodrigo Gurgel (até 4 Fev. 2015)
Jornais