Nas largas centenas de artigos que compus ao longo dos quatro últimos anos saliento com orgulho um sobre o bacalhau fritado, contributo seminal que dei para o acervo de conhecimentos úteis à comunidade e marcadores da originalidade portuguesa no mundo, como tal pacificamente reconhecido por mais de duas pessoas.
E todavia, ainda que seja capaz de estrelar um ovo de forma superlativa (com o sal grosso, umas pitadas, distribuído com dois dedos judiciosos e tempestivos, a fina película cozida mas não o interior da gema, o ovo sem clara crua mas também sem tostado - um prodígio) confesso que os meus conhecimentos de culinária são limitadíssimos.
Era o que faltava se, para ter opiniões sobre culinária, fosse preciso saber cozinhar - as coisas são bem mais complicadas. Aliás, era o que faltava se, para preopinar sobre economia, fosse necessário ser economista, ou, para ter opiniões definitivas sobre a organização política e administrativa da Nação, se requeresse um cartão de deputado.
Não. Não apenas o conhecimento técnico das coisas não qualifica, só por si, ninguém, como, com frequência, desqualifica - porque deforma, afunila, impede recuo, distorce o sentido das proporções. O engenheiro Belmiro de Azevedo, há uns anos, inquirido sobre as reformas necessárias do País, começou pelo organograma do Governo, pobre homem; quem resolvesse reorganizar o trânsito baseado na opinião dos motoristas de táxi estabeleceria decerto uma cidade melhor para os taxistas - e pior para todos os outros condutores; e não há, modernamente, desastre grande ou pequeno na economia que não se inspire no receituário de alguns economistas ilustres, adequadamente albardados de diplomas e papers.
Dito isto, a experiência não é tudo o que conta, mas conta. E conta tanto mais quanto o nosso percurso de vida não nos permite avaliar, por falta de referências, a realidade sobre a qual queremos agir.
Gabriel Mithá Ribeiro conta aqui a sua história de vida, com patente sinceridade, e diz a certo passo: "Se me sinto afortunado foi porque cheguei a Portugal numa altura em que ninguém me estendeu a muleta do coitadinho, ninguém me viciou na ideologia dos subsídios. De então para cá vi-a crescer, institucionalizar-se e radicalizar-se sem que o mal social de fundo fosse debelado".
Ou seja, de uma penada rebenta com boa parte do fonds de commerce da Esquerda. Isto, vindo de quem se espera que tenha o discurso do ressentimento e da reivindicação, deve doer.
Não a mim, que não enfiei a carapuça. E, se tivesse enfiado, ocorrer-me-ia tentar explicar por que razão a história não suporta a conclusão; mas nunca me passaria pela cabeça tachar o atrevido de pretinho salazarista.
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