Vital Moreira foi, com 30 anos, deputado do PCP à Constituinte, e é especialista na interpretação do aborto que aquela Assembleia pariu, para cuja gestação deu um precioso contributo. De 1976 até 1982 foi deputado pelo mesmo partido, do qual se veio a afastar no fim da década para, em 1996, reaparecer como deputado independente pelo PS à Assembleia da República, cuja (do PS) lista encabeçou para as eleições ao Parlamento Europeu de 2009.
É frequente ler no blogue Causa Nossa artigos seus repassados de pontos de vista social-democratas, naturais na agremiação à qual hoje se acolhe, mas não poucas vezes com doses de senso que o afastam de alguns camaradas mais fracturantes, quando não estabanados. E tornou-se num fervoroso europeísta, vírus que com frequência infecta quem, durante uns anos, se não tiver vigorosos anti-corpos, é exposto ao ambiente de Bruxelas e Estrasburgo.
Que um comunista evolua para democrata não é raro, é desejável, e não acho que as pessoas que saltaram o muro fiquem com qualquer espécie de capitis diminutio (o prof. Vital gosta decerto destes bordões latinos, como os seus colegas lentes). Mas o processo mental que pode ter levado a que um catedrático de Direito abandone convicções tão arreigadas e fundas como têm que ser as de um comunista (afinal eles não defendem a evolução, defendem a revolução, não querem melhorar esta sociedade, querem outra, e acham que os fins justificam os meios, digam o que disserem) por volta dos 45 anos é intrigante, ao menos para mim.
O Causa Nossa optou por alinhar na tese da cabala, um direito que lhe assiste, e há já uma saraivada de posts, alguns dos quais, aliás, tocando em vários pontos da actuação das autoridades judiciais que, na ausência de explicação destas, causam alguma perplexidade, que protestam a inocência de Sócrates, com pouca margem para dúvida, e insinuam - mais, declaram, como fez Vital neste artigo de jornal - que a magistratura se está a vingar de Sócrates.
A ideia de que uns magistrados tomaram sobre si a cruzada da perseguição de um político saliente como retaliação pelas ofensas que terá feito à classe (classe que de resto conta com não poucos socialistas), com isso arriscando o prestígio da Justiça e o brilho das suas carreiras, é um delírio, tributário das teorias de conspiração pelas quais algumas mentes radicais se deixam contaminar.
Sucede que numa pequena frase, perdida no meio de um post, lê-se isto: "Pessoalmente não acredito que isso [corrupção] tenha ocorrido no caso de JS".
Ora bem: cada qual tem direito às suas convicções íntimas; certezas absolutas sobre a inocência ou culpabilidade de terceiros só os imprudentes têm; mas por tudo, que é muito, o que se sabe de Sócrates, "não acreditar" na acusação de corrupção é bem a demonstração de que Vital se deixa com facilidade cegar: dantes pelo sol de Moscovo, depois pelo internacionalismo das salas cheias de apparatchicks europeus e agora pela personalidade avassaladora do alegado engenheiro.
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