A Deco, uma prestigiada organização de consumidores que tem como escopo reclamar mais leis, regulamentos e fiscais para resolver problemas que existem e outros que inventa, dá-nos esta notícia sobre um moço sonhador que imaginava ser proprietário de um automóvel, baseado no facto pueril de o ter pago e de circular legalmente com ele.
O jovem imprudente resolveu vender o veículo mas, mesmo que mortos de curiosidade, ficamos na ignorância do motivo: Perdeu o emprego? Decidiu passar à condição ecológica de pedestre? Teve um desgosto de amor e não suporta mais a recordação da ninfa (ele vive perto do rio Cávado) com a qual trocou gratificantes impressões no banco de trás, em noites de lua nova? Precisa de ir a Lisboa, e quer-se arruinar com um carro novo, para não infringir as proibições do edil (em tempo parcial) Costa?
Não sabemos. Do que somos inteirados é que o imprudente colou um papel no vidro de trás com o seu número de telemóvel, a cilindrada e a potência do carro.
Tivesse ele colado uma caricatura de Aníbal com os dizeres "Cavaco é burro" ou um autocolante com a foice e o martelo orlados com o bordão célebre "Abaixo o Fascismo e quem o apoiar" e a Polícia encará-lo-ia com bonomia - liberdade de expressão e essas coisas que até os senhores guardas entendem.
Não contente com indiscretamente anunciar o seu número de telemóvel e os dados do veículo, este ser antissocial "estacionou o carro em frente a casa, num lugar de estacionamento".
Isto foi a gota de água. Tivesse ele estacionado numa rotunda ou descampado livre, ainda vá que não vá, é permitido. Agora, num lugar de estacionamento? "Coima de € 30 a € 150, no mínimo".
Vai a Deco reclamar a revogação do artigo iníquo e abusivo do Código da Estrada que estabelece a proibição? Vai aconselhar o associado a reclamar, recorrer, reagir, protestar? Vai investigar se quem assinou o diploma tinha ligações a concessionários ou stands de automóveis usados?
Não, que ideia. "Se vai vender um carro, o primeiro passo será fazer uma pesquisa nos classificados, concessionários e agências para saber o preço de mercado. Pode colocar o carro à venda em anúncios em jornais ou sites específicos" - é o que se lhe oferece dizer.
Diz que é uma associação de defesa dos consumidores. Consumidores de quê? De asneiras?
Blogs
Adeptos da Concorrência Imperfeita
Com jornalismo assim, quem precisa de censura?
DêDêTê (Desconfia dele também...)
Momentos económicos... e não só
O MacGuffin (aka Contra a Corrente)
Os Três Dês do Acordo Ortográfico
Leituras
Ambrose Evans-Pritchard (The Telegraph)
Rodrigo Gurgel (até 4 Fev. 2015)
Jornais