Quinta-feira, 8 de Maio de 2014

Custos de com tachos

Há muito tempo, teve enorme divulgação nos meios de comunicação social, em todo o Mundo, a existência, creio que sobre os polos, de um buraco na camada de ozono.

 

A comoção durou para cima de dois anos. Nessa altura, como hoje, eu fabricava frigoríficos, e vi-me de repente no grupo de inimigos da humanidade que usava gases com efeitos deletérios naquela preciosa camada. Com a atenuante todavia de ter ficado na companhia das senhoras que usavam sprays com freon, para efeito de porem laca no cabelo e desodorizante nas axilas. Este estatuto deu-me um grande conforto, porquanto, a ter que ser responsabilizado pelo aumento exponencial de cancros na pele, mais valia efectivamente estar em agradável companhia.

 

As revistas do meu ramo profissional produziam artigo atrás de artigo, prodigalizando conselhos. Uma ou outra, raramente, referia a opinião de uns poucos maduros que chamavam a atenção para o facto de o tamanho do buraco nunca ter sido, na história da Terra, estável, nem as provas laboratoriais do desastre serem convincentes - mas disso a opinião pública não curava, porque a inexistência de problemas e de maus não constitui, por definição, notícia. E a associação industrial a que naquele tempo pertencia chegou em determinada altura a recomendar-me, e aos meus colegas, uma mudança de mentalidade, visto que aquela da qual éramos portadores estava consideravelmente obsoleta.

 

Signifiquei na altura a quem de direito que me recusava a mudar de mentalidade, por ter com esta uma relação antiga e pacífica. E aproveitei para retirar a empresa da associação - sempre poupava nas quotas e me punha ao abrigo de injunções patetas.

 

O mercado acabou por produzir gases diferentes, inócuos para a camada de ozono, que ainda hoje, como toda a gente, uso. Estes gases, porém, obrigavam à substituição de maquinaria e componentes e eram, claro, mais caros.

 

Embora os modelos matemáticos previssem que o buraco se alargaria ainda durante décadas, mesmo que se suprimisse o uso do freon, deixou de se falar no assunto, e efectivamente ignoro se por esta altura se terá transformado num buraquinho ou num buracão. E também não estou ao corrente da evolução dos cancros cutâneos, que aparentemente não cresceram de modo a dar nas vistas, não obstante as pessoas não se terem começado a vestir como tuaregues.

 

Tenho fortes suspeitas de que, não fosse o oportunamente descoberto aquecimento global, hoje transmutado em alterações climáticas, e ainda não teríamos saído do buraco... do ozono.

 

São precisas causas para entreter os radicais; fundos para alimentar a investigação; normas para gerar comportamentos desviantes que alimentem agências, inspecções, polícias e multas; pretextos para cimeiras, mesas-redondas e viagens; perigos, mesmo que imaginários, para aumentar o poder de políticos e burocracias; e notícias, para vender papel, conquistar audiências e ter receitas de publicidade.

 

O público crê: dantes nas forças do Além, que mandavam terramotos e desgraças sortidas, que era preciso aplacar com sacrifício de indivíduos desviantes da norma; e hoje na variedade de cientistas que querem reformar a Humanidade e que esta os adore e ouça, porque eles sabem - mesmo que outros menos conhecidos digam, com boas razões, que na realidade são apenas fanáticos ou oportunistas, os mesmos de antigamente e de sempre.

 

Pois bem: fui há pouco tempo inteirado de que os novos gases têm efeito de estufa - bem me parecia que era apenas uma questão de tempo até os malditos mostrarem os seus recônditos defeitos. Por mim, apreciador do calor como sou, ficaria bem mais preocupado se produzissem um aumento de cáries dentárias, às quais sou bastante achacado. Mas não: efeito de estufa it is.

 

E por causa deste efeito recebi há dias a seguinte comunicação de um fornecedor:

 

"Informamos que, na sequência do disposto no futuro Regulamento de Gases Fluorados a ser publicado nos próximos meses, a partir de 1 de janeiro de 2015, a venda de gases fluorados com efeito de estufa só poderá ser efetuada a empresas certificadas que prestem serviços a terceiros nesta área, ou a empresas que, não prestando serviços a terceiros nesta área, possuam técnicos certificados.

Alertamos, deste modo, para que os nossos estimados clientes verifiquem com a maior brevidade possível a sua situação, de forma a estarem em cumprimento com a legislação.

Para mais informações sobre a certificação dos técnicos e  empresas, transcrevemos abaixo o comunicado da APA (Agência Portuguesa do Ambiente)".

 

Já estou a estudar o assunto e, faltando-me ainda uma quantidade de informações e diligências, já conheço o resultado: vou gastar muito mais para produzir o mesmo, sem nenhum valor acrescentado para o produto.

 

O Governo ia diminuir aos custos de contexto? Ia, não ia? Respondo em inglês, para não chocar:

 

My ass.

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publicado por José Meireles Graça às 17:33
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4 comentários:
De Apache a 11 de Maio de 2014 às 02:58
“Há muito tempo, teve enorme divulgação nos meios de comunicação social, em todo o Mundo, a existência, creio que sobre os polos, de um buraco na camada de ozono.”
Um “buraco” maior no Pólo Sul (que é bastante mais frio) que no Pólo Norte. O termo “buraco” (que os charlatães usaram) não é correcto, não há buracos em gases (nem em líquidos, só em sólidos). Trata-se de uma redução, sazonal, da concentração (já de si, muito pequena) daquele gás.

“Este estatuto deu-me um grande conforto, porquanto, a ter que ser responsabilizado pelo aumento exponencial de cancros na pele, mais valia efectivamente estar em agradável companhia.”
É curiosa a forma como a charlatanice (do “buraco” do ozono) gera charlatanice (do aumento dos cancros de pele por causa do alegado “buraco”.
Nunca ninguém se lembrou de perguntar aos médicos como é que um fenómeno que ocorre em latitudes maiores que 50º Sul causa cancros de pele em latitudes a rondar os 40º Norte?
De Apache a 11 de Maio de 2014 às 02:59
“O mercado acabou por produzir gases diferentes, inócuos para a camada de ozono”
Como os anteriores, que tinham o defeito de estar a acabar as ‘royalties’ e, portanto, poderiam ser produzidos por muito mais empresas concorrentes com diminuição do seu preço e perda de lucro para as empresas que detinham as patentes.

“Embora os modelos matemáticos previssem que o buraco se alargaria ainda durante décadas, mesmo que se suprimisse o uso do freon, deixou de se falar no assunto, e efectivamente ignoro se por esta altura se terá transformado num buraquinho ou num buracão.”
O “buraco” está mais ou menos na mesma. E assim permanecerá (provavelmente por mais umas centenas ou milhares de anos) enquanto o Sol não aumentar (de novo) significativamente a sua actividade e puser um fim a esta “idade do gelo”.
O ozono forma-se quando os raios ultravioleta (mais energéticos, de tipo C) produzidos pelo Sol acertam nas moléculas de oxigénio da nossa atmosfera. Como nos Pólos os raios solares incidem quase tangentes à superfície da Terra (no Equador incidem quase perpendicularmente) estas regiões são muito mais frias e no final do longo Inverno e início da Primavera (Março e Abril, no Hemisfério Norte; Setembro e Outubro, no Hemisfério Sul) as quantidades de ozono são muito menores que durante o resto do ano.
De Apache a 11 de Maio de 2014 às 03:03
“Tenho fortes suspeitas de que, não fosse o oportunamente descoberto aquecimento global, hoje transmutado em alterações climáticas, e ainda não teríamos saído do buraco... do ozono.”
O “buraco” do ozono foi um teste importante para medir a nossa crença na charlatanice pseudocientífica (já haviam sido feitos outros testes de menor impacto). O “aquecimento global”, agora “alterações climáticas” (porque a Terra deixou de aquecer há 15 anos e é difícil esconder o facto porque alguns dos falsificadores dos valores de temperatura foram despedidos dos seus empregos) é uma coisa em grande.

“Pois bem: fui há pouco tempo inteirado de que os novos gases têm efeito de estufa.”
Nem imagina a quantidade de gases destes que os fabricantes de frigoríficos de há 12 milhões de anos atrás usam. Nessa época, Lisboa (como quase todo o planeta) era uma selva tropical com uma temperatura média uns 8ºC acima da actual e pelo vale de Chelas passeavam bichinhos “simpáticos”, como este “pequenote” que mediria cerca de 9 metros de comprimento. http://www.pavconhecimento.pt/roteiro3_locais_conhecimento/pt/img/13_crocodilos_lx_b.jpg
Mas na densa mata que (ao que parece) se estendia até ao Lumiar deveriam existir vários com cerca de 12 metros de comprimento (religiosamente alimentados, todas as manhãs, pelos não menos simpáticos fabricantes de frigoríficos).
De José Meireles Graça a 12 de Maio de 2014 às 01:17
Fico contente por ver que os cépticos andam por aí, Apache. E com bons argumentos - melhor.

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