O Presidente da República fala muito, e muito bem, e tem uma capacidade ímpar de criar empatia com os ouvintes.
Talvez por isso, desperta em quem o ouve com alguma ligeireza a ilusão, ora que tem uma identidade de pontos de vista com o ouvinte, ora que a devia ter mas não a evidencia suficientemente, encantando uns e desiludindo outros. Mas estas ilusões podem resultar de os ouvintes se esforçarem tanto a semi-cerrar os olhos para lhe ler as entrelinhas que perdem de vista o que ele escreve nas linhas. E, mais tarde, uns e outros correm o risco de se virem a sentir enganados pelo que lhes pareceu ouvir agora.
Um blogue literário deve prestar aos seus leitores o serviço público de os ajudar a ler o que efectivamente diz o primeiro magistrado da Nação. Vamos lá então fazer um exercício de interpretação de uma frase do Presidente.
O que é que disse o Presidente?
Um deficit de 2,7% não é tão bom como um de 2,2%, mas é historicamente muito bom? Facto!
Quer o deficit real venha a confirmar a previsão do Governo, quer venha a confirmar a de Bruxelas, será inferior a 3%? Facto! O governo vai conseguir um deficit abaixo dos 3%? Não está no texto.