Sabe, não se deixe enganar: este país, a despeito das aparências, não é seguro. Não é que tenhamos a Mafia, ou bandos de miúdos a importunar e assaltar o forasteiro desprevenido; nem separatistas, fanáticos religiosos ou membros de seitas obscuras, com inclinação para pôr bombas ou raptar e assassinar gente loura de shorts. Não: na verdade, os únicos grupos organizados que perturbam a paz pública são os fanáticos de futebol e a CGTP, e mesmo esses em dias certos, permitindo ao cidadão avisado fechar as janelas ou escolher um caminho que não se cruze com a turba.
É que, meu caro turista, o governo não nos liga. A gente trata de um bem essencial, que é o monopólio da violência. Sem ele, impera a lei do mais forte sobre o mais fraco e do ladrão sobre o proprietário, ao mesmo tempo que deixa de haver maneira de impôr as decisões dos tribunais. Mas o governo, em vez de reconhecer este facto comezinho e, discretamente, nos pôr ao abrigo dos rigores a que submete os seus outros servidores, meteu-se-lhe em cabeça levar tudo a eito: juízes, militares e nós. Isto, como é evidente, não pode ser. Esmaguem o professor, o técnico de manutenção, o reformado e o contínuo, mas nós - não.
Por isso, já sabe: se o assaltarem, não vale a pena queixar-se porque estamos assim a modos que em greve de zelo, percebe? É da fraqueza.
Ai acha isto uma chantagem ignominiosa? Pois habitue-se: nós por cá temos um vírus epidémico - chama-se dereitos. Não há cura, apenas tratamentos paliativos, a que se chamam cedências. Costuma funcionar, portanto venha cá noutra altura, de momento anda por aí um surto.
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