Já há pelo menos 35 reguilas que estão "a exigir à Volkswagen a troca do seu carro por um novo ou a alteração das condições de garantia por causa do caso de manipulação das emissões poluentes por parte do gigante alemão da indústria automóvel, revelou a Deco, a associação de defesa dos consumidores".
A Volkswagen far-lhes-á, claro, um manguito. Porque a aldrabice no software consistiu em fazer com que os automóveis, poluindo mais em utilização normal do que quando em teste, andem um pouco mais e gastem um pouco menos. Ou seja, a ter havido danos, eles foram para o ambiente, não para os proprietários.
A seu tempo, os bons cidadãos, respeitadores das leis e crentes na bondade das regulamentações europeias, irão às oficinas da marca e virão de lá com carros piores mas "verdes"; as autoridades imporão multas cujos valores serão suficientemente altos para impressionar o cidadão aflito com as agressões ao ambiente, mas suficientemente baixos para não prejudicar os postos de trabalho, a criação de riqueza, a importância da indústria automóvel, das exportações e do pé-ré-pé-pé; a indústria de produção de normas, testes e pareceres, verá acrescidos os seus poderes e multiplicadas as suas exigências; e daqui a uns tempos já ninguém se lembrará do incidente.
Não é provável que vá alguém preso, porque a febre justiceira da opinião pública não manda ainda tanto no poder político, e no sistema penal, como no outro lado do Atlântico; apenas a cabeça de Martin Winterkorn rolou metaforicamente, ainda que 60 milhões de Euros tenham porventura amaciado a dor da decapitação; e um outro aldrabão lhe ocupará o lugar, com igual eficiência.
No pasa nada, portanto. Fica por esclarecer por que razão, se as normas europeias são tão indiscutivelmente boas, as que se aplicam nos EUA são a tal ponto diferentes que o parque automóvel local quase não tem diesel, enquanto no europeu é mais de metade; e isto quando, nos dois espaços, as autoridades desveladamente se ocupam do ambiente, num lado porque o CO2, seja lá essa merda o que for, nos vai fazer morrer afogados por efeito da subida do nível das águas, e no outro porque as partículas nos vão dar, além de tosse, uma fatal inclinação para morrermos de variados tipos de cancro.
Circulo a gasolina - sempre evitei o diesel porque o barulho me impede de ouvir música. E, sem sucesso, recomendei a alguns membros da família que se abstivessem de apurar se os respectivos automóveis têm ou não a aldrabice teutónica incorporada.
Nada, nada, aquilo é gente que cumpre as normas e regulamentos. E depois, um destes dias, não é verdade, as inspecções periódicas, e as operações stop, passarão a exigir o certificado de que a correcção foi feita.
A defesa do ambiente faz-se com certificados. E eu, se tivesse um diesel Volkswagen, não deixaria de pedir ao concessionário: passe-me aí o papel, chefe, mas não faça nada. A sua representada pode, mas eu não? Era o que faltava.
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