Fui hoje à terra do meu avô paterno, para o enterro de uma filha dele. Morte devida há muito, que uma doença debilitante e dolorosa tinha transformado a vida num calvário, todavia suportado com um estoicismo, suspeito, alimentado a fé.
Era uma tia que tomou conta de mim num tempo que não lembro, por ser muito novinho. E contou-me, já muito doente e acamada, que o bebé, desde que lhe enchessem adequadamente o bandulho e estivesse seco, queria era dormir, embalado pela camioneta em que se fazia o traslado de uma aldeia para outra, cujas passageiras miravam com encanto o sossego do anjinho, espantadas, parece, com as longas pestanas que eram o enlevo dela.
Isto me disse de mão dada comigo, a voz já fraca, imensamente contente pela minha rara visita.
Não sei o que foi feito das pestanas e receio que o sono nem sempre seja tão descansado como, a acreditar na história, já foi.
Tivesse eu a mesma fé, e a mesma tranquila generosidade que a levou a servir os outros toda a vida – o marido, a filha, o irmão, meu Pai, que assistiu nos últimos meses de vida, e estaria certo de que do lado de lá encontraria as palavras certas para lhe agradecer, se do lado de lá ainda é preciso falar.
E daí talvez não, a não ser com uma licença especial. Que se no Além houver a justiça que neste falha, não estaríamos decerto no mesmo lugar.
Adeus, tia Fernanda.
Blogs
Adeptos da Concorrência Imperfeita
Com jornalismo assim, quem precisa de censura?
DêDêTê (Desconfia dele também...)
Momentos económicos... e não só
O MacGuffin (aka Contra a Corrente)
Os Três Dês do Acordo Ortográfico
Leituras
Ambrose Evans-Pritchard (The Telegraph)
Rodrigo Gurgel (até 4 Fev. 2015)
Jornais