Seria cómico se não fosse trágico ver a lamentar a ascensão dos populismos (de direita) o presidente da república que mais fez pela ascensão do populismo de direita em Portugal, ao ter aceitado nomear um primeiro-ministro não eleito para evitar a chegada ao poder de um primeiro-ministro socialista fraco, e depois de o PS o ter substituído por um candidato mais forte e mais populista, ter dissolvido o parlamento com uma maioria absoluta sólida e estável para vagar o lugar para fazer chegar a primeiro-ministro o segundo primeiro-ministro mais populista da história da democracia portuguesa, sendo que o primeiro, o actual, estagiou no escritório de advogados dele, provavelmente por mérito, ou então por ser amigo de família. Onde, diga-se de passagem, deve ter aprendido as noções sul-americanas de direito que usa na governação, em que publica leis abstractas para resolver casos concretos e legaliza ilegalidades através de leis retroactivas.
De este ter arrastado, aliás, com o encorajamento da vida para além do deficit, Portugal para a falência da economia e do Estado, a circunstância mais fértil para medrarem os populismos de direita com as suas soluções tão assertivas quanto inaptas, que só não tomaram o poder porque não estavam organizados para isso, em Portugal só os populismos de esquerda estão organizados, se bem que não ao ponto de serem capazes de receber o poder, e porque apareceu alguém com lucidez e determinação suficientes para ser capaz de fazer o que devia ser feito no campo da democracia para tirar o país da falência.
E quando, apesar de as forças democráticas que salvaram o país da falência terem ganho as eleições, o poder está de novo entregue ao populismo (de esquerda) que, na mesma linha das soluções tão assertivas quanto inaptas do populismo de direita, afirmou ter para a crise económica e financeira uma solução que demorou pouco a provar que não era solução, e na iminência de essa farsa cair e de abrir de novo o caminho para as soluções do populismo de direita que, por milagre, continua a não estar ainda organizado para fazer esse caminho.
Se temos alguma coisa a agradecer ao presidente Jorge Sampaio, para além de discursos impenetráveis e intermináveis e de artigos de opinião impenetráveis e intermináveis, é ter-nos ajudado a mergulhar nesta crise que não chegou a passar, tudo indica que se está de novo a aprofundar, e pode nunca vir a passar.
Algum dia vamos ter que pedir contas da tragédia socrática a quem nos conduziu a ela. E não foi só o José Sócrates.
PS: Podem ficar tranquilos relativamente à minha sanidade mental, não li o artigo todo.
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