Franklin Roosevelt terá dito do ditador Somoza que "ele pode ser um filho da puta, mas é o nosso filho da puta", ainda a Guerra Fria não tinha nascido mas já o Império Americano estava em full swing, com particular atenção ao quintal das traseiras.
Belos tempos, em que a realpolitik não precisava de se disfarçar de bons sentimentos e o mundo, se muito insatisfatório, como hoje, era relativamente fácil de perceber.
A América do Sul emancipou-se e a Guerra Fria acabou. E hoje a Venezuela pode tranquilamente evoluir para uma ditadura comunista em fato de treino às cores, com o cortejo de misérias que acompanha tais regimes, sob a liderança de um pobre diabo mais ou menos grotesco, que ninguém se incomoda excessivamente, salvo os Venezuelanos - mas que se amanhem.
Na África ainda não é assim. A descolonização foi ontem; a religião, em muitos lugares, é o islão, que ainda não ultrapassou o proselitismo guerreiro, que aliás lhe está no código genético, e tem lideranças que aspiram ao califado com telemóveis, e que por isso patrocinam o terrorismo; e, nos sítios onde há petróleo, como na Líbia, mas não havia um líder acomodatício, o Ocidente resolveu lá ir e escaqueirar tudo, sem ter o cuidado de garantir que ficaria no poder outro filho da puta, para não se desconjuntar tudo.
Na Síria, no Iraque, no Afeganistão, tem sido o padrão: a opinião pública ocidental não suporta os ditadores locais; e, havendo agitação, e estando em causa interesses económicos, toma partido pela oposição, em nome da democracia, um fato feito que um irremediável optimismo imagina que serve em todos os corpos. Vão lá os Americanos com o 7º de Cavalaria (os Europeus, com excepção dos Ingleses, costumam contribuir com avisos, declarações, resoluções, dois batéis, três avionetas e alguns batalhões de polícias), ou financiam um dos lados, e atolam-se em guerras intermináveis que não compreendem e só poderiam ganhar se napalmeassem toda a população. E isto sem falar da complicada teia de poderes regionais, rivalidades ancestrais, facções religiosas dentro do islamismo e suas seitas menores - mais coisas do que as que pode entender uma opinião pública educada nos simplismos da esquerda/direita e democracia/ditadura.
O tráfico de miseráveis da margem sul para a norte do Mediterrâneo é uma consequência deste estado de coisas. Quando Roosevelt se descaiu com a boutade não era possível - todo o norte de África era constituído por colónias ou países apenas nominalmente independentes. E as massas de deserdados da terra não tinham a televisão, que lhes mostra todos os dias o leite e o mel da Europa enquanto fogem da miséria e, às vezes, da guerra.
Sucede que a opinião pública, excitada pela imensa miséria humana que a televisão, com deleite e proveito, lhe serve todos os dias, quer uma solução. E não falta quem ache que essa é abrir as portas: "... uma política de imigração que não deveria ser outra coisa senão generosa e pôr em prática as ferramentas necessárias para fornecer os devidos vistos a refugiados políticos e económicos".
O conceito de refugiado económico é uma contradição nos termos - os países relativamente ricos têm tanta obrigação de acolher os naturais de países relativamente pobres como os ricos de receberem os pobres em suas casas. O refugiado foge ou da guerra ou do risco de prisão ou morte por delito de opinião, o que cabe no conceito de Direitos Humanos - a pobreza não. E isto explica por que razão gente de esquerda defende as portas estúpida e cegamente abertas - é um reflexo condicionado.
Não é que na Europa não haja necessidade de imigrantes - há. Mas para resolver problemas, não para subverter instituições políticas e sociais em nome de concepções religiosas medievais, nem para criar guetos raciais que, goste-se ou não, são a consequência de moles imensas de pessoas com aculturações diferentes integradas num corpo alheio.
Como resolver o problema, para já, então? Está aqui a solução - recomendo.
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