Depois de comparar o papel da TAP, desde que com gestão pública e à mercê dos sindicatos, no século XXI com o das caravelas que no século XIV fizeram os descobrimentos que se iniciaram no século XV, porque "...é isso que nos permite inserir nas rotas da globalização...", e de comparar a inauguração do túnel do Marão por ele próprio com a da ponte Salazar pelo Salazar, porque "...há 50 anos o Tejo, hoje o Marão...", o António Costa volta a insinuar o seu magnífico esplendor anunciando que vai colocar Portugal "...na primeira linha de uma revolução industrial, onde aquilo que é essencial é a qualificação...".
E como é que ele vai conseguir colocar Portugal nessa primeira linha ao mesmo tempo que lançou um sólido conjunto de desincentivos estruturais ao investimento, como a reversão, por proposta do BE, da redução gradual da taxa de IRC até aos 17% acordada entre a maioria e o PS do Seguro na legislatura anterior, o aumento imediato do salário mínimo com promessa de continuar a aumentar até chegar aos 19% durante a legislatura, a redução do horário de trabalho na função pública que incentiva os sindicatos a lutarem por igual redução no sector privado, ou a reposição dos feriados e o aumento das férias, que estão a ter os resultados esperados no investimento, no emprego e no crescimento?
É canja: vai lançar dois programas, o Programa Nacional Start-Up e o Indústria 4.0, programas com nomes fashion e aiteque que, além de fazerem tremer as pernas ao governante irlandês que se vai ver ultrapassado na capacidade de captação de investimento com base em receitas noliberais como taxas de IRC de 12,5%, que martirizam o povo irlandês e o condenam e uma economia anémica e injusta, nos vão permitir liderar a tal revolução industrial do tempo novo. Ou, mesmo que não permitam, apoiarão pelo menos a criação de umas dezenas de empregos a quadros altamente qualificados com salários acima da média que, enquanto permanecerem em laboração, proporcionarão boas reportagens televisivas de visitas de governantes a casos de sucesso da nova economia do tempo novo planeada pelo estado. Para essas dezenas, e enquanto as novas indústrias não falirem e os despedirem, será uma boa alternativa às oportunidades de emprego com salários baixos.
Até aqui, tudo bem. O mínimo que se pode dizer é que ele se esforça por aquilo em que acredita, mesmo que seja ilusório, disparatado, e mesmo em completa contra-mão com a realidade. E proporciona-nos bons momentos de humor, o que, não sendo o principal objectivo de um primeiro ministro, a não ser em regimes populistas, o que ainda não é o caso, ainda não, são pelo menos de se aproveitar, que a vida não está para risotas. Mas o facto de conseguir dizer coisas destas sem se desatar a rir pode sugerir que esteja a ser vítima de uma patologia, a mitomania.
Na falta de um psiquiatra na plateia, vejo-me forçado a socorrer à Wikipedia, sempre falível, mas de alguma utilidade, desde que se tenha noção da possibilidade de conter erros. E o que diz a Wikipedia sobre os sintomas da mitomania que nos possa servir de ajuda para a diagnosticar ao primeiro-ministro? Isto:
A acreditar nos critérios enumerados pela Wikipedia, a presença de benefícios externos óbvios nas situações em que o António Costa exibe sintomas de mitomania permite afastar esse diagnóstico. Não é um mitómano. É apenas um aldrabão.
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