Ou por ser burro e não saber, ou por ser aldrabão e esconder, ou, o que é mais provável, por conseguir acumular as duas qualidades em simultâneo, o primeiro-ministro António Costa recusa responder no parlamento a qualquer deputada da oposição quando lhe pergunte qual era o valor da dívida pública portuguesa no final de 2016. Na melhor das hipóteses é capaz de a pôr no seu lugar de mulher burra e propor-lhe responder-lhe à mesa a comer um peixinho grelhado, como se houvesse resposta a qualquer pergunta que fosse, mesmo que sobre a vida e a morte, que valesse o enxovalho de se sentar à mesa com um burgesso como ele. Não há, e não foi ele que lhe respondeu.
Felizmente, o Banco de Portugal tinha a resposta para lhe dar, e aos seus constituintes, e aos dos outros deputados: no final de 2016 a dívida pública portuguesa ascendia a 241.100.000.000 de euros, e eu vou soletrar para não vos obrigar a contar zeros, a duzentos e quarenta e um mil e cem milhões de euros. O número passa muito para além da capacidade do cidadão comum, e de alguns incomuns, entender a sua dimensão, mas é fácil explicá-lo numa dimensão mais inteligível para todos, pelo menos os que conseguem lá chegar por não terem sido sido toda a vida indigentes: cada português deve 24.110 euros por conta da dívida pública que os diversos governos se foram encarregando de fazer engordar.
Cá em casa, entre os três, já devemos um Porsche Boxter com alguns extras. Se o meu filho mais velho ainda cá vivesse, talvez ainda conseguíssemos chegar a um 911 muito bem regateado. Devêmo-lo, mas ainda não o recebemos. Nem nunca o vamos receber. Ficamos com as prestações para pagar. Foi assim como fazer muitas vazas a jogar para nulos.
E o que fazem o governo e os patetas que o sustentam politicamente, porque governa tendo perdido as eleições, para nos aligeirar o fardo desta dívida? Anda a rapar os tachos que tem à mão, e a fazer-se a alguns que não tem, para ir encontrando os tostões que ainda lhe sobram: atira-se às reservas do Banco de Portugal, atira-se à almofada financeira, troca dívida de longo prazo, que um dia há-de ser necessário reembolsar, por dívida de curto prazo, mais barata mas que está aqui, está a precisar de ser reembolsada. Anda a fazer equilibrismo na corda bamba dos mercados.
E gastar menos? Nada disso, está a aumentar, na medida do possível, ou do que lhe permitem as instituições europeias que deviam proteger os interesses dos contribuintes portugueses mas na circunstância actual têm mais com que se preocupar, os custos fixos incompressíveis, aqueles que nem um futuro governo eleito terá capacidade para reduzir por ficarem blindados à guarda do Tribunal Constitucional, os salários e os quadros da função pública. De modo que, por mais artifícios contabilísticos que eles façam e lhes deixem fazer, se está gorda, a dívida é para continuar a engordar sem apelo nem agravo.
Se agora só devemos um Porsche, e um mísero Boxter, com alguma sorte ainda em vida chegamos a dever um Aston Martin. Felizmente, acabado de fazer 60 anos, não tenciono pagar as prestações, que não chego lá, e deixá-las-ei em herança aos meus filhos e, quando chegarem, aos netos, e por aí fora.
Felizmente não acredito na ressurreição, porque não queria nada ser um português das próximas gerações...
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