Como toda a gente sabe, na legislatura anterior Portugal transformou-se do paraíso que era durante a anterior governação socialista, com a economia do conhecimento, as infraestruturas abundantes e as energias verdes, num inferno de austeridade decorrente da determinação dos governantes neoliberais em empobrecer o país de onde milhares de portugueses fugiram emigrando, e com o regresso dos socialistas ao governo transformou-se de novo num paraíso onde os rendimentos foram devolvidos e os impostos directos reduzidos, conjugação de factores facilmente comprovável no recibo de vencimento de cada beneficiado, e os emigrantes puderam regressar finalmente ao país de onde tinham fugido.
Como sabe também toda a gente, pelo menos os frequentadores das redes sociais, o Reino Unido está na iminência de se transformar num país mais habitável por se livrar das garras ditatoriais da União Europeia, e a Alemanha da Angela Merkel transformou-se num inferno assolado por refugiados muçulmanos onde há regiões em guerra civil, violações em massa de mulheres e crianças alemãs por refugiados muçulmanos e clérigos islâmicos a impôr a sharia.
Toda a gente sabe e provavelmente é verdade. Só que não é.
Ora diz quem sabe, e já aqui foi dito antes, que se quiserem saber a opinião real de um Nobel da Economia sobre economia não lha perguntem, vejam onde é que ele guarda o seu dinheiro. Pelo que se quiserem perceber em que países se vive bem e em que países se vive mal pode ser uma boa ideia olhar para os movimentos migratórios, que são capazes de ter uma percepção mais real do terreno do que os políticos que podem ter interesse em divulgar visões distorcidas da realidade ou dos tudólogos das redes sociais que, bem, só conhecem o teclado de onde opinam.
E o que nos dizem os movimentos migratórios?
Dizem-nos que depois de uma redução em 2016 a emigração portuguesa voltou a crescer em 2017 para 57.315 e ultrapassou os 56.231 de 2015.
Dizem-nos que o Reino Unido continua a ser o principal destino de emigração portuguesa mas o número de imigrantes portugueses a chegar ao Reino Unido baixou em 2017 para 22.622, dos 30.543 em 2015.
Dizem-nos que o número de novos imigrantes portugueses na Alemanha aumentou em 2017 para 17.750, mais do que duplicando os 8.810 de 2016.
Tudo junto, ou alguém nos anda a enganar porque tem interesse no engano ou porque repete o que lhe dizem sem noção nem cuidado a conferir, ou os emigrantes portugueses são uns tontos que fogem de um paraíso para infernos e mesmo teatros de guerra. Atendendo à convicção com que as ideias são divulgadas nas redes sociais, é capaz de ser a segunda que está certa?
De Rogerio Alves a 16 de Agosto de 2018 às 22:15
E talvez na Suécia apenas tenham ardido 80 carros por combustão expontânea....
Não estou a ver em que é que isso contribua para uma discussão sobre a atractibilidade das condições de vida de um país poder ser aferida pelo desejo que os emigrantes portugueses têm de ir para lá viver, baseada na lógica de as pessoas ambicionarem viver em países onde pensam que se vive melhor, e não em países onde pensam que se vive pior, mas talvez...
De Rogerio Alves a 22 de Agosto de 2018 às 18:58
O Manuel Vilarinho Pires é que colocou em dúvida os testemunhos que relatam a queda da qualidade de vida nos países do Norte da Europa que a emigração dos "refugiados" tem provocado. Por isso, o que depreendi é que o episódio dos 80 carros ardidos na Suécia possa ter tido para si uma origem indeterminada....
De Rogerio Alves a 22 de Agosto de 2018 às 19:07
... mas dito de outra maneira: não compreendo como é que coloca em dúvida a decadência da qualidade de vida e da segurança que tais países tem sofrido pela emigração arabo-africana apenas porque ainda há emigração portuguesa para esses mesmos países...
É evidente que as pessoas emigram em busca de vida melhor: mas não acha que, contrariando a propaganda do ACosta, o nível de vida cá em Portugal ainda está suficiente longe que não precise de alguns anos ainda de migração maciça de refugiados para os países do Norte da Europa ficarem pior do que nós.
Eu percebi aonde queria chegar, mas não me parece que por esse caminho chegue lá.
Os EUA sofreram o provavelmente pior atentado terrorista da história e continuam a ser um país para onde milhões gostariam de emigrar. O perigo de atentados é certamente um factor que pesa na qualidade de vida de um país, mas os emigrantes valorizarão também outros que não coincidem com os que nós valorizamos sentados aos nossos teclados. Os paises que os continuam a atrair são os mesmos que também atraem a emigração muçulmana, ou a mexicana. Já países sem atentados, nem imigração muçulmana, nem refugiados, como a Hungria, parecem não atrair os nossos emigrantes, nem mesmo nenhuns emigrantes. A simpatia dos comentadores das redes sociais parece andar às avessas com a simpatia dos emigrantes a sério, dos que jogam as suas vidas na escolha de um país para emigrarem.
De Carlos a 20 de Agosto de 2018 às 00:59
Esta argumentação é um disparate. Seguindo esse raciocínio um mercenário vai para a guerra porque na guerra vive-se bem!
Bom dia, Carlos sem apelido.
A sua analogia está provavelmente carregada de sentido, mas eu não a consigo perceber. Por ter as minhas raízes familiares numa região que foi partilularmente afectada pelo êxodo de emigrantes dos anos 60 do século passado, conheci muitos, e os motivos que os levaram a partir, e tinham sempre a ver com a possibilidade de viver num país onde, trabalhando, conseguiam aceder e proporcionar às suas famílias um nível de vida minimamente decente que cá avaliavam como sendo impossível de conseguir. E o país de escolha era sempre uma das democracias liberais da Europa ou da América. De modo que conheci mecânicos, mulheres a dias, operários de construção civil, cabeleireiros, mas, mercenário, não partiu dali nenhum, de modo que não sei avaliar as motivações dos mercenários.
De Carlos a 20 de Agosto de 2018 às 12:56
O Jorge Jesus emigrou para a Arábia Saudita porque na Arábia Saudita é que se vive bem e por isso Portugal deverá ambicionar transformar-se num país semelhante à Arábia Saudita.
Esta é a lógica da batata do Manuel Vilarinho Perez.
O Carlos sem apelido se calhar é algum conhecido meu das redes sociais? Tenho alguns trolls no Facebook que também dizem disparates como os seus. Se é, sabe que eu não mantenho conversa com comentadores anónimos. Se não é, fica a saber. Se quer conversa identifique-se melhor, se faz favor.
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