Tanto a direita como a esquerda lançam frequentemente acusações à comunicação social de ser generalizadamente tendenciosa e desonesta. A direita tende a assumir que a esmagadora maioria dos jornalistas é de esquerda, a esquerda tende a assumir que a esmagadora maioria dos jornais é de direita, por via do capital, e ambas assumem que os jornalistas e os jornais manipulam as notícias que publicam para favorecer as suas opções políticas ou ideológicas. Qual delas terá razão, ou terá mais razão?
Tendo esta visão em comum sobre a manipulação da informação, nem todos costumam atribuir o mesmo peso às consequências projectadas da manipulação. Quem tende a partir do princípio que o povo é mais ignorante e manipulável, tende também a pensar que a manipulação da comunicação social é mais determinante para a formação da opinião pública e das suas opções políticas. Quem admite que, mesmo perante informação manipulada, o povo tem alguma capacidade de a filtrar criticamente e se deixa manipular menos, tende a relativizar mais as consequências da manipulação e a denunciá-la mais por motivos éticos do que por recear que influencie as decisões colectivas.
A fronteira entre estes dois grupos de convicções não divide a esquerda da direita, mas os que se sentem mais confortáveis se os outros forem bem controlados dos que se sentem suficientemente confortáveis se eles tiverem liberdade de escolha. Os autoritários dos liberais. Nos Estados Unidos da América, liberal tende tradicionalmente a significar de esquerda, e autoritário, de direita. Quem cresceu até aos 17 anos numa ditadura de direita também tende, por automatismo, a pensar o mesmo. No entanto, na Europa, e mais na Europa do Sul, liberal é classificado como de direita, um conceito difícil de interiorizar para quem cresceu num país de direita autoritária.
E regressando à nossa aplicação das convicções sobre as consequências da manipulação da informação pelos jornalistas? Se olharmos para as estatísticas, e tomarmos por boa a hipótese que quem acredita que a manipulação da informação é mais consequente (os autoritários) se insurge mais violentamente contra a que lhe é desfavorável, então é difícil não atribuir esse galardão à esquerda. De memória, nos últimos 10 anos, lembro-me de dois casos de ataque pela direita à comunicação social: o ataque de um ministro do Santana Lopes ao comentador Marcelo, uma trapalhada que acabou por ser usada como pretexto pelo presidente Sampaio para demitir o governo e dissolver o parlamento, e a ameaça do ministro Relvas à jornalista que se preparava para publicar uma notícia desfavorável sobre ele de revelar que ela vivia maritalmente com um político socialista. Mesmo se neste último caso não se pudesse propriamente considerar a ameaça ao mesmo nível de uma pressão para censurar ou sanear um jornalista, como era no primeiro, mas apenas de esclarecer o grau de objectividade e de isenção que a jornalista poderia ter, ao mesmo nível de dizer que o empresário Luís Montez é genro do presidente Cavaco Silva. Quanto a pressões da esquerda sobre a comunicação social, do primeiro ministro, a deputados e personalidades da maioria de esquerda, a indivíduos e grupos de apoio à maioria nas redes sociais, são tantos, e tão frequentes, e tão violentos, que não cabem aqui nem vale a pena citá-los.
Podemos pois dar como razoavelmente bem provado que a esquerda receia mais as consequências da manipulação da comunicação social do que a direita, ou que a esquerda é menos liberal que a direita.
Mas, afinal, quem é que manipula mais?
Até agora era difícil chegar a uma conclusão objectiva que não dependesse das preferências de quem a formulasse. Mas não mais. O estudo da Aximage para o Correio da Manhã e o Jornal de Negócios sobre a confiança dos portugueses nas instituições é a prova de algodão que responde cristalinamente a esta pergunta: "São os eleitores do PS quem mais confia nos jornalistas, ao passo que os eleitores com mais confiança no Governo e na Assembleia da República são os do PSD". A manipulação da comunicação social mais prevalecente é a "boa" para os eleitores do PS. Mas isto não é novidade para ninguém, pois não?
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