"Este artigo não é sobre as “raríssimas”; ou seja, sobre o caso da associação com esse nome".
Este artigo é sobre as vulgaríssimas, ou seja, sobre o modo como os comentadores comprometidos politicamente remetem discretamente as responsabilidades dos seus amigos e aliados políticos nas trapalhadas em que são apanhados a participar para debaixo de uma resma de papéis onde ficam ao abrigo das vistas, e dos corações, do público.
E como os há que o fazem num português articulado e com capacidade de construir uma teia lógica suficientemente rica e densa para embrulhar o leitor e o conduzir para onde se deseja que ele vá, ou seja, para longe do ponto de partida que é indesejável que ele mire, como o meu companheiro de partido Pacheco Pereira, vale a pena olhar para eles para reconhecer as suas qualidades.
A título de prólogo, e para não ser confundido com a maralha que constitui a muralha de aço do primeiro-ministro no espaço mediático, com gente que não tem vergonha nenhuma de se mostrar sectária e ordinária como o deputado João Galamba ou a jornalista Fernanda Câncio, o Pacheco Pereira começa a apresentação da trama num modo que procura cumprir os mínimos de objectividade para passar à fase seguinte, que é a de captar a atenção da audiência, reconhecendo que "...o poder político, e membros do Governo ou ajudaram a causa, sem cuidados, ou participaram no festim. Nalguns casos pode ter havido crimes, noutros comportamentos eticamente reprováveis..." e que "...A realidade tem mostrado que os membros do Governo e os outros políticos envolvidos não estão a sair-se muito bem das explicações que têm de dar...".
Significa isto que devemos atentar à falta de ética dos membros do governo e outros políticos envolvidos, e a partir daí notar que todos os que estão referenciados nestas práticas são do mesmo partido político e, mais do que isso, do círculo chegado de family & friends de amigos, familiares, amigos de familiares e familiares de amigos do actual primeiro-ministro que hoje se espalharam como metástases por todas as instituições do poder político, da administração pública, e do sector empresarial que depende de um ou de outra por controlo accionista ou dependência de favores, procurar perceber melhor as raízes e as consequências desta endogamia doentia, e tirar delas conclusões consequentes?
Não! Nada disso. Cumpridos os mínimos de objectividade, a análise pode passar à fase seguinte, a fase da distracção daquilo que começa por apontar para aquilo em que se quer que se acredite. Seria tão primário condená-los por terem metido a mão no pote e por se terem associado para a meter, como condenar um violador ou um homicida pela sua maldade e desumanidade pessoais em vez de condenar a maldade e a desumanidade da sociedade capitalista que os gerou e fez de gente de bem criminosos. O mal não é deles, é comum.
Regressando à trama,
Em resumo, "...Isto é corrupção, mas não só. É o retrato de uma sociedade disfuncional, muito desigual, onde quem tem acesso ao poder de gerir, ou de comprar, ou de vender, o faz quase sempre numa rede de amizades e cumplicidades, com proveito mútuo, e tão habitual que não merece condenação social..."., ou seja, é um exercício de futilidade e superficialidade apontar o dedo aos que agora foram apanhados e ao modo e objectivos de como foram espalhados pelos lugares onde foram sujeitos a estas tentações socialmente toleradas, e é até um exercício de inveja apontar-lhes o dedo. O mal não está neles, está em nós.
E como ampliamos o alvo um processo de investigação focada em meia dúzia de figuras, que calha serem todas costistas, que podia ser despachado em tempo útil, por um mega-processo de investigação sobre todos nós, ficamos ao abrigo do risco de alguma vez se conseguir chegar em vida a alguma conclusão sobre de quem é afinal a responsabilidade deste caso. Podemos dormir descansados. Nós e o ex-colega do comentador Pacheco Pereira na Quadratura do Círculo, António Costa. O lixo foi varrido para debaixo do tapete.
E como está bem escrito e apresenta raciocínios bem articulados é suficientemente convincente para quem se deslumbra com raciocínios bem arriculados num portugês correcto, como se fossem garantias de honestidade intelectual.
Podemos dormir descansados...
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