O SIRESP do António Costa, e digo do António Costa porque foi ele que o adjudicou por 485 milhões de euros contra o parecer que tinha solicitado ao Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República de declarar nula a adjudicação feita pelo seu predecessor Daniel Sanches com o governo em funções de gestão e, portanto, sem competência formal para fazer uma adjudicação desta importância, custou, mais coisa, menos coisa, tanto como um dos dois submarinos do Paulo Portas, aqueles que imergem e emergem no parlamento e nos jornais em função das marés dos ciclos eleitorais.
Pelo custo do SIRESP teria sido possível disponibilizar a cada um dos seus cerca de 50 mil utilizadores potenciais um iPhone 7 com chamadas ilimitadas, e ainda um automóvel utilitário com alta-voz para evitarem telefonar ao volante.
Para que serve então o SIRESP, que justifique a exorbitância que nos custou e continua a custar?
Vou ver se consigo esclarecer a população sem recorrer a termos como "dispositivo" ou "meios", sem o jargão hermético que os especialistas usam para dar às pessoas de fora a impressão que lidam com conceitos tão complexos que não lhes vale a pena tentar sequer perceber, quanto mais dominar com auto-confiança suficiente para os criticar a eles, que os dominam.
A explicação para ser necessário montar uma rede própria sem dependência das redes comerciais já existentes e que servem mais do que satisfatoriamente os dez milhões de portugueses está no próprio nome do sistema, Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança em Portugal. Era necessário disponibilizar às forças responsáveis pela segurança do país, incluindo protecção civil e bombeiros, um sistema que assegurasse as comunicações em situações de emergência, em que as redes dos operadores comerciais de telecomunicações podem ter falhas, por exemplo por uma antena de retransmissão ser destruída por um fenómeno da natureza, um raio, por exempo, ou os cabos que asseguram a ligação das antenas à rede serem cortados por outro, um terramoto, por exemplo. Era necessário assegurar o funcionamento da rede em condições de emergência custasse o que custasse, e custou-nos 485 milhões de euros.
Tendo a sua existência baseada nesta necessidade, devia ser um bocadinho surpreendente que o contrato assinado entre o Estado e o consórcio tivesse a habitual cláusula 17ª - Força Maior * a isentar o consórcio de continuar a assegurar o funcionamento da rede nos casos de força maior,
- "Constituem, nomeadamente, casos de força maior actos de guerra ou subversão, hostilidades ou invasão, rebelião, terrorismo ou epidemias, raios, explosões, graves inundações, ciclones, tremores de terra e outros cataclismos naturais que directamente afectem as actividades objecto do Contrato",
que correspondem, como é norma, exactamente às situações de emergência que justificam a existência do sistema, mesmo quando um oportuno raio cai do céu. É a cláusula de pára-raios.
Devia, mas não é, e por duas boas razões. A primeira é que o contrato tem a assinatura da Linklaters, uma das mais reputadas sociedades de advogados a operar em Portugal, pelo que é de se presumir que todos os interesses do Estado, e os nossos, foram devidamente salvaguardados. A outra é que, com 60 anos, já não tenho a capacidade que antes tinha de me deixar surpreender.
Não se pense, no entanto, que por ter a salvaguarda da cláusula 17ª - Força Maior o consórcio se desobrigou de assegurar o funcionamento da rede, mesmo em casos de emergência. Para o assegurar, o consórcio dispõe de quatro estações móveis, as elegantes carrinhas ilustradas na fotografia desta publicação, mesmo se no Pedrogão Grande só uma estava operacional para substituir as antenas que ficaram desligadas devido ao incêndio, porque a outra das duas originais está avariada e as duas mais recentes ainda não estão equipadas para funcionar.
Os nossos 400 milhões que, em números redondos, o António Costa deu pelo SIRESP a mais do que teria custado recorrer a telemóves banais valem, se por outras razões não fosse, por estas quatro carrinhas. Por elas e por, certamente, terem feito alguém feliz. Na medida em que o dinheiro traz felicidade. Mesmo o dinheiro de sangue.
* Cópia do contrato roubada ao Carlos Guimarães Pinto no Facebook.
De Carina a 23 de Junho de 2017 às 11:42
è por isso, por todos esses problemas que os Açores nao usam o Siresp
De Pedro Rocha a 23 de Junho de 2017 às 22:00
Exatamente, os AÇORES recusaram a sua utilização por inoperância e custos elevados.
Se ainda por cima não funciona, falha, para é que queremos isso !?.
De
Celta a 23 de Junho de 2017 às 14:47
Covém relembrar que todo este processo foi alvo de averiguação por parte da PGR tendo o mesmo sido arquivado!!!!
De Ana a 24 de Junho de 2017 às 10:34
A PGR era Cândida de Almeida, conhecida por arquivar tudo o que chateasse os poderes empossados (não sei se era da lei ou da vontade).De qualquer forma, não se pode confiar nas conclusões destes processoas de averiguação.
De Manuel Cunha a 23 de Junho de 2017 às 15:00
Em honra às vítimas e a bem das instituições que suportam o Estado de direito um dos pilares fundamentais da nossa democracia deve-se investigar os fluxos financeiros da aquisição do SIRESP e apurar eventuais irregularidades e punir os responsáveis ou concluir que tudo foi feito de boa fé em nome da defesa dos interesses da população.
E claro que, investigando um pouco, descobrimos o amigo Lacerda como elemento da "equipa" que renegociou o contrato. Este Lacerda está para Costa como o Vara estava para Sócrates: escarafunche-se um pouco qualquer história mais cinzenta e lá o descobrimos.
De Herói do Mar a 23 de Junho de 2017 às 15:32
Esta coisa do SIRESP faz lembrar o 27, o soldado português, transmontano, que esteve na guerra de 14-18. Ele e os outros camaradas de infortúnio passavam os dias e as noites atafulhados nas trincheiras, porque, sendo tanta a bombarda dos boches, nem dava para meter a cabeça de fora. Mas um dia o comandante informou, ufano, a soldadesca de que, daí em diante, iam dar cabo dos aviõezitos dos boches, pois que tinha chegado à trincheira uma metralhadora antiaérea e, com isso, sim, iam esfrangalhá-los. Logo vêm dois aviões boches, o comandante chama toda a gente para vir vêr a eficácia da metralhadora, o metralhadeiro descarrega nos céus e na direcção dos aviões milhares de munições, os aviões passam incólumes, largam duas bombas na soldadesca desabrigada por ter saído da trincheira e a peripécia redunda em dezenas de soldados mortos. O 27 ficou inconsulável e pediu ao comandante que assumisse a ineficácia da metralhadora antiaérea, pois que, sem ela, nunca tinham tido baixas. O comandante retorquiu que não, que aquilo é que ia derrotar os boches, etc., blá, blá, blá. E o 27 rematou: Olhe, meu comandante, há três coisas que eu não sei para que servem: são as mamas nos homens, os colhões no papa e as metralhadoras antiaéreas. Se ainda fosse vivo o 27, eu dir-lhe-ia: Já agora, acrescenta-lhe o SIRESP, o monhé, etc..
De Makiavel a 23 de Junho de 2017 às 17:47
Será que o escriba que andou a escrever no El Mundo sobre a situação portuguesa e que o sindicato de jornalistas diz não existir e o autor deste texto são uma e amesma pessoa?
Kamarada Makiavel, sua pergunta é muito importante para nós, e reparamos que ostenta uma infalível capacidade de análise e dedução, o chamado olho para a coisa.
No entanto, ou por ter ressuscitado aqui vindo directamente de uma Comissão de Censura, ou por andar distraído, não está a cumprir a legislação que obriga os agentes públicos a ostentar em local visível uma placa de identificação com o seu nome verdadeiro. Na falta de identificação vou-me ver obrigado a prescindir de responder à sua interessante pergunta.
De qualquer modo, bem-haja pela sua participação nesta discussão.
De Makiavel a 24 de Junho de 2017 às 09:23
O seu interesse pelo meu nome de baptismo faz-me lembrar tempos em que iam a casa das pessoas, altas horas da noite, pedir-lhes a identificação e que se deslocassem a uma certa rua de Lisboa para aí verificarem a veracidade da identidade.
Tudo a bem da nação, claro.
P.S.: de Comissões de Censura parece que é entendido.
Se calhar não percebeu.
E o seu interesse por espreitar pelos buracos das fechaduras para investigar os meus heterónimos e a verdadeira identidade do renegado Sebastião que, cobardemente escondido por trás de um heterónimo, ousou criticar o senhor presidente do conselho, faz-lhe lembrar o quê?
Ou pedir-lhe que se identifique tal como eu estou identificado é pidesco, mas dedicar-se, como toda a esquerda portuguesa, quase todos os jornalistas portugueses e até o próprio sindicato dos jornalistas, a investigar a identificação do Sebastião é ajudar a esclarecer a verdade?
Eu assino o que escrevo, não discuto com anónimos, muito menos com os que se dedicam a espreitar-me pelo buraco da fechadura.
De Anónimo a 23 de Junho de 2017 às 18:05
O concurso so podia ser ganho por uma empresa, aquela para a qual foramna altura desenhados os termos e condições do mesmo...nao havia concorrencia...
De
Peter a 23 de Junho de 2017 às 19:59
O siresp foi adjudicado com seriedade a uma empresa italiana, o Porto suponho que ainda tem esse sistema, e depois as clientelas pressionaram até cancelar o contrato e refazer o negócio conforme pretendiam...alguém terá ficado feliz? Os italianos não ficaram convencidos da serieadade do processo...
De carlos manuel antunes henriques a 23 de Junho de 2017 às 21:42
MAS SÃO AQUELES CARRINHOS QUE FAZEM PARTE DO SIRESP?
OLHEM PARA OS CAMIÕES DA MEO, VODAFONE, E NÓS. ATÉ FICAM ADMIRADOS, PORQUE UM CARRINHO DESSES CABE DENTRO DE QUALQUER UM DOS QUE FALO.
De pitÔ a 26 de Junho de 2017 às 13:28
Don’t try to have the last word. You might get it.
Já agora, junto algumas que reputo de boas.
• Money is the sincerest of all flattery. Women love to be flattered. So do men.
• Always listen to experts. They’ll tell you what can’t be done and why. Then do it!
• All men are created unequal.
• A generation which ignores history has no past — and no future.
• Never underestimate the power of human stupidity!
• Political tags — such as royalist, communist, democrat, populist, fascist, liberal, conservative, and so forth — are never basic criteria. The human race divides politically into those who want people to be controlled and those who have no such desire. The former are idealists acting from highest motives for the greatest good of the greatest number. The latter are surely curmudgeons, suspicious and lacking in altruism. But they are more comfortable neighbors than the other sort.
• Writing is not necessarily something to be ashamed of — but do it in private and wash your hands afterwards.
— Robert Heinlein.
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