No dia do enterro do Manoel de Oliveira, confesso a minha irritação com os abundantes dias de luto, a postura de perda irreparável, o instantâneo conhecimento profundo da obra do mestre, o desfile das personalidades enlutadas, o RIP imprescíndivel nas redes sociais.
Manoel de Oliveira viveu mais de um século. Nasceu num meio privilegiado e cedo se começou a destacar em tudo o que fazia. Foi atleta de mérito, corredor de automóveis pioneiro, chegou a fazer uma espécie de circo por prazer pessoal e afirmou-se como o único cineasta português de verdadeira reputação e respeito internacional. Foi amigo de Deneuve e de Piccoli, era repetidamente elogiado por Clint Eastwood, deu-nos a conhecer Luis Miguel Cintra e Leonor Silveira. Nenhum regime conseguiu condicioná-lo. Pôde dar-se ao luxo de nunca deixar a sua cidade. Teve o dom de manter a familia sempre unida em seu redor. Nunca se curvou. Fez-se respeitar com a simplicidade dos príncipes. Teve a arte e o engenho de ter feito o quis toda a vida, fazê-lo de modo superior e ter o retorno do justo conhecimento. Por fim, teve a suprema felicidade, de nesta idade incrível, ter tido ao seu lado, até ao último dia, a mulher que amava.
Luto? Pesar? Peço desculpa, mas não me consigo lembrar de maior celebração da vida. O país devia estar em festa, o Porto devia estar engalanado a comemorar a vida de Manoel de Oliveira. Não há muitas assim.
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