Se vivesse no Porto (t'arrenego: mesmo em Guimarães há zonas e horas de concentração excessiva de pessoas e automóveis) teria votado em Rio e, agora que o homem saiu, não estaria arrependido do meu voto: parece que a Câmara pagava a tempo e horas aos fornecedores, não ficou encalacrada com dívidas, a suspeita promiscuidade com o Futebol Clube do Porto foi enterrada, e as forças vivas culturais da cidade (expressão caridosa para os chulos da Cultura) levaram para tabaco. E de aumento de impostos não ouvi falar.
Não foi coisa pouca. E Rio ficou meu credor para, querendo e podendo voar mais alto, para o plano nacional, no mínimo lhe ouvir o programa com simpatia.
Seria bom que alguém se preocupasse a pôr o Estado a pagar a tempo e horas; que equilibrasse as contas sem aumento de impostos; e que pusesse toda a imensa malta, dos futebóis, da Cultura e de todos os outros poderes que dizem defender o interesse público, mas que para isso precisam que o Estado os sustente - no lugar.
E mesmo que Rio comprasse algumas brigas dispensáveis, como a que teve com os arrumadores de carros, e seja suficientemente teimoso para, se encasquetar uma ideia, a prosseguir como um elefante numa loja de louça, nem por isso deixaria de merecer um olhar benevolente: de um governante espera-se seriedade pessoal e meia dúzia de ideias bem assentes (ideias de direita, bem explicadinhas na parte da reforma do Estado, do orçamento, dos impostos e da Europa, não vá julgar-se que estou a falar de Cunhal ou de costumes), não uma grande densidade cultural, ou habilidade política, ou dotes de oratória. Se tiver também estas coisas, melhor. Mas a gente tem sido tão castigada que, não podendo caçar com um cão, se consola com o clássico gato.
Sucede que Rio resolveu abraçar as rotundidades de Costa. E um paisano desprevenido, como eu, esfrega as mãos, dizendo para os seus botões: ora bem, quer rever a Constituição, a ver se lhe corta o cabelo programático, e remove empecilhos socialistas, e para isso precisa do PS - está na hora, a última revisão foi em 2005 e o PS já deve estar maduro para aceitar agora um corte de mais um bocadinho do que nunca lá deveria ter estado.
Mas não: de revisão da Constituição nada; e de reforma do Estado o que se precisa, pelos vistos, é da regionalização, um esquema engenhoso para o Porto depender menos de Lisboa, os senhores presidentes de Câmara prosseguirem as suas gloriosas carreiras quando esgotem os mandatos, e para nascer uma nova camada de políticos, burocratas e Albertos Joões para o contribuinte sustentar.
Há muitos anos assisti a uma furiosa discussão sobre se um bom piloto de rallies daria necessariamente um bom piloto de Fórmula Um. Conclui que não, não necessariamente. Com presidentes de câmara, pelos vistos, é igual.
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