Pode-se sempre contar com os economistas para explicarem convincentemente por que razão falharam as políticas económicas que desembocaram em desastre, incluindo as políticas económicas que subscreveram.
Se o exercício for feito por um autor competente e hábil, como Vítor Bento indiscutivelmente é, a leitura pode suscitar as perguntas: Como foi possível? Onde estavam com a cabeça?
Decerto que num artigo denso e sumarento como este pessoas diferentes verão coisas diferentes. O que eu vi, à revelia do autor, foi um demolidor libelo contra o Euro, sem o qual, a contrario, nenhum dos problemas descritos teria tido lugar. E seria portanto de esperar que quando feito, e bem feito, o diagnóstico, tivéssemos direito à descrição do conjunto de procedimentos para nos livrarmos daquela moeda letal.
Que nada: "Como conciliar a necessidade de ajustamento das finanças públicas de cada país com a necessidade de promover a procura interna no conjunto da zona euro? Um começo seria um maior orçamento (redistributivo) federal, com capacidade de endividamento da própria União" - é a conclusão a que temos direito.
Ou seja: O Euro nasceu para aprofundar a integração, tornando-a irreversível, e para amarrar a reunificada Alemanha à caranguejola europeia; as regras foram as necessárias para o eleitorado alemão abandonar o querido Marco e engolir a moeda de parte da União; e como o resultado é disfuncional pretende-se agora que os eleitores dos países excedentários encostem a barriga ao balcão em nome de um raciocínio económico subtil, que aliás não é nem pacífico nem susceptível de ser aceite pelas opiniões públicas dos países envolvidos. Tudo isto sem dizer nada dos países que não estão no Euro, e que teriam também que aumentar a sua contribuição para resolver um problema que não criaram.
Talvez a verdadeira loucura tenha sido, e seja ainda, deixar que grandes ideais nos obnubilem o raciocínio: a CEE foi uma história de sucesso; a UE não. Do que se faz mister para vencer a doença é extirpar o vírus - não tratamentos sintomáticos.
Não é que Vítor Bento ofereça um catálogo de soluções, a julgar pela amostra, que sejam desprezáveis. É que não há nenhum modelo razoável que assente no princípio de que há Europeus, porque os Europeus só existem geograficamente. Politicamente há Alemães, Ingleses, Franceses, Portugueses, Gregos e muitos outros - Europeus não.
Vítor Bento, isto, não sabe. E, não sabendo isto, o que sabe não serve para nada, a não ser para explicar amanhã porque falhou o que defendeu hoje.
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