O homem é marxista e cómico: nunca teve nada a ver com o marxismo soviético, credo!, as suas inclinações são mais para a tradição marxista francesa, diz sem se rir. O autor do artigo não achou útil esclarecer de que forma se distinguem os marxistas russos dos franceses, para além do hábito deplorável que têm os primeiros de se beijarem uns aos outros com hálito de vodca.
Tal como o seu confrade português, frei Anacleto Louçã, com o qual partilha, além das ideias lunáticas, boas credenciais académicas e o amor das toilettes casual, defende a manutenção no Euro em conjunto com medidas económicas que a tornam impossível:
"Milios enumera as prioridades do partido, uma por uma. Envidaria esforços concertados para ajudar os mais duramente afectados pela crise - eletricidade gratuita para os gregos aos quais o fornecimento foi cortado, cupões de alimentos distribuídos em escolas, serviços de saúde para aqueles que deles necessitam, rendas de casa garantidas para os sem-abrigo, a restauração do salário mínimo ao nível pré-crise de 750€ por mês e uma moratória sobre o pagamento, acima de 30% do rendimento disponível, da dívida aos bancos privados. Ele argumenta que os cerca de 13 mil milhões de Euros de custo de tais medidas poderiam ser na maior parte cobertos por uma redistribuição das receitas do Estado e repressão da evasão fiscal." *
Isto, é claro, para além do perdão de dívida de mais de 50%, a extensão dos prazos e outras formas engenhosas de pagar sem dor, ao mesmo tempo que, sob a lúcida direcção de Alexis Tsipra, a economia começará milagrosamente a crescer.
Ou seja, o homem quer aumentar a despesa pública, não pagar o que deve, exilar os ricos e sufocar a iniciativa privada. E declara que “we will not deal with this on a bilateral level with Germany but in a much wider context".
Por outras palavras, quer uma aliança com os outros caloteiros e acha que há esquerdistas, nos eleitorados e nos partidos no poder no espaço europeu, em quantidade suficiente, conjugada com o medo da deflacção e da implosão do Euro, para uma parte do seu programa ser acomodada pela burocracia europeia de forma que a barca da União prossiga.
Poker, portanto: da sua mão, que é fraca, diz Milios: "Greece, in its weakness, is actually very strong.”
Não estou absolutamente certo que uma versão muito edulcorada do programa não possa efectivamente passar; mas estou seguro de que, se o Syriza ganhar as eleições, e mesmo que lhe estendam a mão, ou faz o que promete e dá com os burros na água, pelo que o eleitorado o atira às urtigas; ou não faz e o eleitorado dá-lhe o mesmo destino. O que se vai passar a seguir é anybody's guess.
Quer dizer que o Syriza não tem futuro; e a Grécia, dentro do Euro, também não, a menos que se entenda que, enquanto o desemprego e a dívida pública crescem (26% um e 177% do PIB a outra, and counting), se podem ir experimentando receitas até dar no bingo.
Entre nós, isto, que devia ser evidente, serve para um combate basicamente desonesto, porque feito de reservas mentais: o PS deseja que os tresloucados ganhem para que apanhemos a boleia do laxismo europeu a haver e Costa possa ter recursos para pôr a austeridade de molho e fazer tranquilamente as suas apostas no crescimento - as mesmas do socratismo, mudando o nome dos actores e dos programas, e abandonando uma ou outra caída em descrédito, como o TGV; e a direita, toda ela, deseja que o Syriza perca, menos porque é uma associação de demagogos e esquerdistas - essas seriam as boas razões - mas mais porque se deseja que o eleitorado português, suspeito de incapaz de fazer escolhas correctas, receba uma lição: estão a ver, estão a ver como a União é o caminho? Com o Syriza havia riscos para o Euro e os Gregos, sensatamente, recuaram - temos que ser bons alunos e fazer muito, muito o que a Alemanha diz.
Eu desejo que o Syriza ganhe porque isso poderia ser o princípio do fim do nó górdio em que a União Europeia se transformou. E se com essa vitória o PS reforçar nas sondagens as suas probabilidades de ganhar as eleições, há tempo mais que suficiente para esses ganhos serem revertidos - os socialistas de todos os bordos, gregos ou portugueses, e quanto mais radicais pior, não costumam precisar de muito tempo para traírem as suas promessas ou escaqueirarem tudo.
*Tradução minha
Blogs
Adeptos da Concorrência Imperfeita
Com jornalismo assim, quem precisa de censura?
DêDêTê (Desconfia dele também...)
Momentos económicos... e não só
O MacGuffin (aka Contra a Corrente)
Os Três Dês do Acordo Ortográfico
Leituras
Ambrose Evans-Pritchard (The Telegraph)
Rodrigo Gurgel (até 4 Fev. 2015)
Jornais