Terça-feira, 6 de Janeiro de 2015

Quanto pior melhor

O homem é marxista e cómico: nunca teve nada a ver com o marxismo soviético, credo!, as suas inclinações são mais para a tradição marxista francesa, diz sem se rir. O autor do artigo não achou útil esclarecer de que forma se distinguem os marxistas russos dos franceses, para além do hábito deplorável que têm os primeiros de se beijarem uns aos outros com hálito de vodca.

Tal como o seu confrade português, frei Anacleto Louçã, com o qual partilha, além das ideias lunáticas, boas credenciais académicas e o amor das toilettes casual, defende a manutenção no Euro em conjunto com medidas económicas que a tornam impossível:

"Milios enumera as prioridades do partido, uma por uma. Envidaria esforços concertados para ajudar os mais duramente afectados pela crise - eletricidade gratuita para os gregos aos quais o fornecimento foi cortado, cupões de alimentos distribuídos em escolas, serviços de saúde para aqueles que deles necessitam, rendas de casa garantidas para os sem-abrigo, a restauração do salário mínimo ao nível pré-crise de 750€ por mês e uma moratória sobre o pagamento, acima de 30% do rendimento disponível, da dívida aos bancos privados. Ele argumenta que os cerca de 13 mil milhões de Euros de custo de tais medidas poderiam ser na maior parte cobertos por uma redistribuição das receitas do Estado e repressão da evasão fiscal." *

Isto, é claro, para além do perdão de dívida de mais de 50%, a extensão dos prazos e outras formas engenhosas de pagar sem dor, ao mesmo tempo que, sob a lúcida direcção de Alexis Tsipra, a economia começará milagrosamente a crescer.

Ou seja, o homem quer aumentar a despesa pública, não pagar o que deve, exilar os ricos e sufocar a iniciativa privada. E declara que “we will not deal with this on a bilateral level with Germany but in a much wider context".

Por outras palavras, quer uma aliança com os outros caloteiros e acha que há esquerdistas, nos eleitorados e nos partidos no poder no espaço europeu, em quantidade suficiente, conjugada com o medo da deflacção e da implosão do Euro, para uma parte do seu programa ser acomodada pela burocracia europeia de forma que a barca da União prossiga.

Poker, portanto: da sua mão, que é fraca, diz Milios: "Greece, in its weakness, is actually very strong.”

Não estou absolutamente certo que uma versão muito edulcorada do programa não possa efectivamente passar; mas estou seguro de que, se o Syriza ganhar as eleições, e mesmo que lhe estendam a mão, ou faz o que promete e dá com os burros na água, pelo que o eleitorado o atira às urtigas; ou não faz e o eleitorado dá-lhe o mesmo destino. O que se vai passar a seguir é anybody's guess.

Quer dizer que o Syriza não tem futuro; e a Grécia, dentro do Euro, também não, a menos que se entenda que, enquanto o desemprego e a dívida pública crescem (26% um e 177% do PIB a outra, and counting), se podem ir experimentando receitas até dar no bingo.

Entre nós, isto, que devia ser evidente, serve para um combate basicamente desonesto, porque feito de reservas mentais: o PS deseja que os tresloucados ganhem para que apanhemos a boleia do laxismo europeu a haver e Costa possa ter recursos para pôr a austeridade de molho e fazer tranquilamente as suas apostas no crescimento - as mesmas do socratismo, mudando o nome dos actores e dos programas, e abandonando uma ou outra caída em descrédito, como o TGV; e a direita, toda ela, deseja que o Syriza perca, menos porque é uma associação de demagogos e esquerdistas - essas seriam as boas razões - mas mais porque se deseja que o eleitorado português, suspeito de incapaz de fazer escolhas correctas, receba uma lição: estão a ver, estão a ver como a União é o caminho? Com o Syriza havia riscos para o Euro e os Gregos, sensatamente, recuaram - temos que ser bons alunos e fazer muito, muito o que a Alemanha diz.

Eu desejo que o Syriza ganhe porque isso poderia ser o princípio do fim do nó górdio em que a União Europeia se transformou. E se com essa vitória o PS reforçar nas sondagens as suas probabilidades de ganhar as eleições, há tempo mais que suficiente para esses ganhos serem revertidos - os socialistas de todos os bordos, gregos ou portugueses, e quanto mais radicais pior, não costumam precisar de muito tempo para traírem as suas promessas ou escaqueirarem tudo.

*Tradução minha

publicado por José Meireles Graça às 23:15
link do post | comentar

Pesquisar neste blog

 

Autores

Posts mais comentados

Últimos comentários

https://www.aromaeasy.com/product-category/bulk-es...
E depois queixam-se do Chega...Não acreditam no qu...
Boa tarde, pode-me dizer qual é o seguro que tem??...
Gostei do seu artigo
Até onde eu sei essa doença não e mortal ainda mai...

Arquivos

Janeiro 2020

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Agosto 2018

Julho 2018

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Novembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Agosto 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Links

Tags

25 de abril

5dias

adse

ambiente

angola

antónio costa

arquitectura

austeridade

banca

banco de portugal

banif

be

bes

bloco de esquerda

blogs

brexit

carlos costa

cartão de cidadão

catarina martins

causas

cavaco silva

cds

censura

cgd

cgtp

comentadores

cortes

crise

cultura

daniel oliveira

deficit

desigualdade

dívida

educação

eleições europeias

ensino

esquerda

estado social

ética

euro

europa

férias

fernando leal da costa

fiscalidade

francisco louçã

gnr

grécia

greve

impostos

irs

itália

jornalismo

josé sócrates

justiça

lisboa

manifestação

marcelo

marcelo rebelo de sousa

mariana mortágua

mário centeno

mário nogueira

mário soares

mba

obama

oe 2017

orçamento

pacheco pereira

partido socialista

passos coelho

paulo portas

pcp

pedro passos coelho

populismo

portugal

ps

psd

público

quadratura do círculo

raquel varela

renzi

rtp

rui rio

salário mínimo

sampaio da nóvoa

saúde

sns

socialismo

socialista

sócrates

syriza

tabaco

tap

tribunal constitucional

trump

ue

união europeia

vasco pulido valente

venezuela

vital moreira

vítor gaspar

todas as tags

blogs SAPO

subscrever feeds