Encaro com desgosto o facto de, salvo umas petições cuja assinatura volta e meia me solicitam, para fazer número, nunca um grupo de ilustres me convidou para fazer parte do elenco de notáveis que todos os trimestres se propõe governar o país sem a maçada de concorrer às eleições e as ganhar.
Isto dói. E a razão não deve ser apenas a triste circunstância de viver, como diz uma querida amiga minha, na Lapónia, mas também o facto de nunca me ter sentado à mesa do Orçamento, não ter percursos académicos vistosos para estadear, me faltar o jeito para discursos grandiloquentes e ocos à la Sampaio da Névoa, e não ter a alma à Esquerda.
Valha a verdade que não abundam as cartas que pudesse assinar, pela razão esdrúxula de a maior parte das pessoas que as costumam assinar serem mortos-vivos que não entendem o mundo que os rodeia, nem propõe outra coisa que não seja a reedição do mesmo asneirol que criou o problema que dizem querer resolver.
E todavia esta carta, que gente de representação enviou ao primeiro-ministro, bem a poderia ter assinado. Bastavam uns retoques ligeiros, e subscrevê-la-ia com gosto e orgulho.
A oportunidade passou. Mas quem sabe se o Pimpão que é o primeiro subscritor não lerá estas regras. Deixo, em atenção a esse cidadão ilustre, o texto da carta com algumas palavras trancadas e outras que acrescentei, em azul, por mor de uma a meu ver desejável clarificação.
“As cidadãs e os cidadãos abaixo assinados abaixo assinadas e abaixo assinados manifestam a sua preocupação quanto à posição do Estado Português no Conselho Europeu de hoje. Tem o primeiro-ministro declarado que, mesmo perante a grave crise humana que se vive na Grécia, a política de austeridade prosseguida se deve manter inalterada. Os factos têm evidenciado que este caminho é contraproducente se, em vez de reformar o Estado, se quiser apenas restaurar o equilíbrio à custa do aumento dos impostos.
Não temos dúvidas de que a Europa vive uma situação difícil, pelas tensões militares que a desastrada política da UE criou na sua periferia e pelos efeitos devastadores de políticas recessivas socialistas que geraram desemprego massivo, o aumento do peso das dívidas soberanas e deflação, abalando assim os alicerces de muitas democracias caloteiras. Este momento exige por isso uma atitude construtiva, que conduza a uma cooperação europeia de que Portugal não se deve isolar.
Para evitar uma longa depressão, a União tem de combater a incerteza na zona euro e, para tanto, precisa de uma abordagem robusta que promova soluções realistas e de efeito imediato mediato. O momento actual oferece uma oportunidade que não pode ser desperdiçada para um debate europeu sobre a recuperação das economias e das políticas sociais a reforma do Estado, o aumento da natalidade, a imigração e o aumento da liberdade económica dos países mais sacrificados ao longo dos últimos seis anos.
É por isso também do interesse de Portugal contribuir activamente para uma solução multilateral do problema das dívidas europeias reduzindo o peso do serviço da dívida em todos os países afectados, que tem sufocado o crescimento económico, em troca de um programa consistente de reformas que garanta que os credores não serão penalizados, que não haverá transferências forçadas de recursos de uns países para outros e que o Tratado de Maastricht será revisto para incluir cláusulas que estabeleçam critérios para a saída do Euro agravando a crise da zona euro. Pela mesma razão, é ainda necessário que Portugal favoreça uma Europa que não seja identificável com um discurso punitivo mas com responsabilidade e solidariedade apenas em casos de desastres naturais, e que não humilhe Estados-membros desrespeitando-lhes a independência ao impôr-lhes legislação supra-nacional mas promova a convergência, que não destrua o emprego e as economias mas contribua para uma democracia inclusiva.
Estamos certos, senhor primeiro-ministro, de que agora é o tempo para este apelo à responsabilidade numa Europa em que tanto tem faltado o esforço de certos países comum para encontrar soluções - que não passem por eternizar a dependência com subsidiações que de toda a maneira os cidadãos dos países que paguem mais do que recebem nunca aceitarão - para uma crise tão ameaçadora.”
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