E se um dia os funcionários públicos no activo e aposentados se aperceberem que no novo modelo de gestão implementado pelo governo António Costa os beneficiários da ADSE já estão representados nos orgãos de gestão da instituição que é integralmente sustentada pelas contribuições deles por representantes dos sindicatos e organizações de reformados que concorreram a representá-los numa eleição para a qual nenhum outro grupo de funcionários tinha estrutura nem logística para se organizar e montar uma candidatura, e nenhum apresentou nenhuma, e em que só 2,2% dos beneficiários votaram?
E se se aperceberem que os representantes, em teoria deles mas na prática escolhidos pelos sindicatos e organizações de reformados, estão lá, não a defender os seus interesses, a sua saúde a e sua vida, mas a tentar concretizar na ADSE a agenda ideológica das organizações que lá os colocaram, de erradicação dos privados do sector da saúde para chegar ao socialismo, pelo menos na saúde, com um modelo de SNS exclusivamente público?
E se se aperceberem que o membro colocado no Conselho Directivo da ADSE pela CGTP em representação deles até se gaba no seu blogue, onde retrata os prestadores de cuidados de saúde privados como associações de criminosos organizados para se apropriarem indevidamente do dinheiro dos associados da ADSE, de os representantes dos beneficiários, de que ele é o membro mais proeminente e poderoso por integrar a direcção, terem sido determinantes para forçar a gestão da ADSE a impôr aos privados com contrato de convenção com a ADSE o processo de regularizações, em que depois de ao longo dos anos facturarem a ADSE pelos serviços que prestaram aos beneficiários pelos quais eles apenas pagaram taxas moderadoras lhes pede posteriormente reembolsos milionários imprevisíveis, que está a conduzir à rescisão das convenções que eles têm comunicado oficialmente nos últimos dias?
E se se aperceberem que, por perderem a possibilidade de recorrer a prestadores de cuidados de saúde privados ao abrigo das convenções que lhes possibilitam pagar apenas taxas moderadoras comportáveis no momento da prestação e passarem a ter de pagar integralmente os cuidados, e alguns cuidados de saúde são incomportáveis para a capacidade de tesouraria mesmo de muita classe alta, para depois solicitar o seu reembolso parcial à ADSE, ou seja, vão passar a pagar mais, adiantar o custo integral, e nos casos não tiverem meios de o fazer terão que desistir de se tratarem num privado e que se conformar com as listas de espera do SNS público?
E se se aperceberem que o PCP, que está a ser levado para a cova pelo governo António Costa por lhe ter assegurado a sustentação parlamentar e, ao fazê-lo, ter prescindido do seu papel de alternativa à esquerda aos socialistas pelo que os seus eleitores podem passar a votar no PS sem qualquer consequência substancial, neste caminho para a cova está determinado a levar com ele os funcionários públicos destruindo-lhes, porque actualmente ela é deles, a ADSE? E que o governo socialista, em parte porque tem que alimentar a aliança com os bloquistas que lhe permitirá continuar a governar sem conquistar maioria nas eleições, mas em parte também porque os socialistas predominantes na orientação política actual do partido estão ideologicamente mais próximos da extrema-esquerda dos bloquistas do que da raiz ideológica original de socialismo democrático do partido, são bloquistas que ingressaram no PS porque dentro do PS a carreira política era mais promissora do que nas seitas de extrema-esquerda onde militavam antes ou poderiam militar, não está a fazer nada para o evitar?
E se, apercebendo-se do que lhes estão a tirar, em vez de esperarem pelas eleições para manifestar ordeiramente a sua discordância com a perda dos direitos que tinham, sem ter de os mendigar a ninguém por serem eles que os pagavam, se virarem à paulada, metafórica, aos governantes, sindicalistas e dirigentes de associações de reformados que colocaram a gerir a ADSE gente com o objectivo de extinguir a única utilidade que a ADSE tem para eles e justifica a contribuição de 3,5% do salário, o acesso a cuidados de saúde no sector privado em prazos e com qualidade aceitáveis que o SNS não lhes garante?
Os governantes, sindicalistas e dirigentes de associações de reformados agredidos metaforicamente irão para a bicha do centro de saúde da residência para se tratarem no público, ou vão ao privado?
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