Não sei quem foram esses economistas, mas não duvido nada - há muitos sites dedicados a histórias verdadeiras com economistas, como este, onde se prova que aquilo é malta que diz tudo e o seu contrário. E a famosa citação, atribuída a Churchill, segundo a qual "if you put two economists in a room, you get two opinions, unless one of them is Lord Keynes, in which case you get three opinions" só não poderia aplicar-se a Portugal, com pertinência e actualidade, porque para sustentarem opiniões opostas às que já defenderam os professores de economia costumam esperar pelo menos uma legislatura.
Mas a afirmação inicial não é apenas uma expectoração de economista. Enuncia um facto histórico falso, por associar a social-democracia aos défices. Foram apenas quatro, em 2014, os países europeus que registaram superavit orçamental: a Dinamarca (com um governo de coligação entre o partido social-democrata e o social-liberal, com o primeiro-ministro pertencente ao primeiro), a Alemanha (com um governo tripartido, cujo vice-chanceler é social-democrata) a Estónia (cujo presidente é social-democrata e o primeiro-ministro do partido da reforma da Estónia), e a Noruega (cujo maior partido é o trabalhista, não obstante o governo ser uma coligação nebulosa - aqueles vikings adoram consensos, para se redimirem das patifarias que andaram fazendo nos alvores da nossa nacionalidade, e sobretudo antes). No caso deste último país, a coligação vermelha-verde que o governava, e que foi derrotada em 2013, foi responsável por superavits ainda maiores que os 9,1% de 2014.
A mim, que não sou social-democrata, entre outras, por razões ópticas - o laranja faz-me ver tudo vermelho - nem acho que o Tratado Orçamental possa ou vá ser cumprido nos prazos, não me incumbiria defender o ponto. Sucede porém que, se formos ver para trás, encontraremos uma clivagem, mas não entre os social-democratas e socialistas, supostos amigos dos défices, e os conservadores e liberais, amigos do equilíbrio, mas sim entre a social-democracia do norte e a do sul da Europa.
Era sobre isto que a Ana Sá Lopes poderia ter escrito, porque é um facto, e requer explicação. Sobre não-factos também se podem dizer coisas - mas não merecem ser lidas.
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