Sábado, 29 de Abril de 2017

Efeméride

No feriado do 25 de Abril, da parte de tarde, estive no meu quintal a transferir compostagem de um lado para outro, razão principal porque não ouvi os discursos. De toda a maneira, motivos de força maior desta natureza têm-me impedido há muito de os ouvir, salvo num ocasional resumo nas notícias e mesmo assim apenas aqueles, do lado direito do espectro, de onde pode, em momentos de sorte ou acaso, vir alguma coisa não direi memorável, mas ao menos apropriada e justa.

 

As portas que Abril abriu foram duas que valem a pena, a da liberdade de expressão e a da possibilidade periódica de despedirmos quem nos pastoreia (na realidade a motivação não era abrir porta nenhuma mas fechar a da guerra colonial, porém deixemos esquisitices); e outras que melhor fora terem continuado fechadas, como as da cave onde se guardava o ouro do Banco de Portugal, a do défice, do calote, do crescimento anémico, da dívida pública sem precedentes, da estrangeirização das grandes empresas e dos bancos, da destruição quase total dos capitalistas de substância e portanto da capacidade de investimento indígena, da moeda própria (que era uma válvula de segurança que protegia a economia do excessivo asneirol das decisões de política económica), e a da infantilização de uma parte considerável dos cidadãos, que é hoje incapaz de conceber a sua vida sem depender do Estado para o ordenado, a pensão, a saúde, e até mesmo as regras de comportamento nos aspectos comezinhos do dia-a-dia, cada vez mais opressivas.

 

Não é impossível, ainda que pouco provável, que o défice real (isto é, sem aldrabices) venha a estancar; que o calote, ou seja, o quarto resgate, não venha a materializar-se; e que o crescimento, à boleia do crescimento dos outros e do turismo, pareça durante algum tempo menos tíbio. Mas, digam os liberais o que disserem, não é a mesma coisa sermos explorados por empresas monopolistas nacionais ou estrangeiras, porque no segundo caso os lucros não ficam cá; não é garantido que a gestão bancária internacional seja menos inepta que a portuguesa, nem que o BCE seja menos parasitário, ou mais lúcido, ou mais competente, que a filial portuguesa, que aliás mantém e manterá a mesma gordura que tinha quando servia para alguma coisa; e que, finalmente, os cidadãos tão ferozmente europeístas não mudem de opinião se a UE, por se estar a esfarelar ou outra razão, deixar de pingar. Porque ela pinga, pinga todos os dias, e é com esse bodo, do qual já se espatifaram desde 1986 incontáveis biliões, que se sustentam milhares de parasitas, se investe alguma coisa, e se juntam tostões do Orçamento do Estado para o país se cobrir de realizações que, com a devida propaganda, levam o cidadão a acreditar que é apenas uma questão de tempo até ficarmos como a mítica Dinamarca.

 

A formação da opinião, porque é feita geralmente por dependentes directos ou indirectos do mesmo Estado, que entretanto deixou ele próprio de conceber a sua perpetuação fora do quadro da União Europeia, é quase sempre de índole europeísta e esponjosa, no sentido de absorver e veicular quanta ideia moderna igualitarista, burocrática, revolucionária nos costumes, e estatista nas escolhas, anda no ar internacional.

 

Na prática, Portugal é menos independente dos poderes de Bruxelas ou Frankfurt (não falo de Estrasburgo porque aí se acolhe a secção dos treteiros pagos a peso de ouro para aceitarem fingir que mandam ou representam alguma coisa) que o Montana dos de Washington; e os únicos verdadeiros patriotas que restam são quase exclusivamente uns senhores que só o são porque já não há URSS para liderar o movimento comunista internacional, caso em que seriam abjectos agentes a soldo de uma potência estrangeira. Estes, em conjunto com os filhos e netos de Maio de 68, que se distinguem dos primeiros pelo acne, o práfrentex dos costumes, e a doença infantil da revolução, têm por ambição transformar Portugal numa Venezuela um pouco menos miserável, com um pouco mais de história e de hábitos de civilização. E entretanto vão vivendo com um conforto razoável, à sombra dos jogos que a democracia que desprezam, e do PS que oportunisticamente os usa, lhes proporcionam.

 

Este nó será desatado daqui a vinte meses ou vinte anos: a casta dirigente europeia não quer nenhuma reforma que lhe diminua os poderes, e por isso contará as derrotas, como o Brexit, como um incentivo para reforçar a integração, e as vitórias, como a possível de Macron, como a confirmação do bem fundado do seu caminho. E o bom povo português no momento próprio comerá a erva que tiver que comer, e apertará o cinto em quantos furos forem necessários, ao mesmo tempo que se tiver um culpado que possa plausivelmente designar o cruxificará, e cairá de joelhos perante o salvador da circunstância, se houver, ou desatará à batatada, se não aparecer.

 

Pode ser assim ou de outra maneira mas entretanto é preciso viver. E regresso aos discursos porque tropecei na notícia sobre este, da candidata do PSD à câmara de Lisboa, e, movido pela curiosidade, fui ouvi-lo.

 

Foi o último de entre os dos representantes dos partidos, e enquanto procurava não pude evitar ouvir partes do impressionante chorrilho de banalidades com que cada um entendeu útil assinalar a data. Com o de Teresa pasmei: Portugal não tem um problema de impostos a menos, tem um problema de impostos a mais; não tem um problema de evasão fiscal, nem de offshores, tem um problema de falta de capital para evadir; não tem um Fisco ineficiente, tem um Fisco terrorista; não tem corrupção a mais por os locais terem uma especial propensão para a corrupção, tem corrupção a mais porque o polvo do Estado, que patrocina, subsidia, autoriza, proíbe, atrasa, licencia, legisla diarreicamente, está por toda a parte; e tem uma desconfiança do cidadão em relação à classe política porque o instituto do enriquecimento ilícito, que poderia servir para a diminuir, evitando o arrastar inadmissível de casos como o de Sócrates ou Dias Loureiro, é apresentado como devendo ser aplicável à generalidade dos cidadãos, o que nem o Tribunal Constitucional, um órgão caracteristicamente de esquerda, pôde aceitar. O PSD é isto: socialistas mais sérios e mais competentes do que os genuínos, com um spin muito menos eficiente e mais escrúpulos na manipulação da comunicação social  ̶  mas iguais na essência.

 

Toda a legislação para combater abusos dos grandes serve, em Portugal, para perseguir os pequenos, sempre que implique inversões do ónus da prova, diminuição de direitos e reforço dos poderes da Administração. Diz-se que uma imagem vale mais do que mil palavras, e digo eu, para ilustrar o ponto, que 500 palavras, se verdadeiras e sentidas, como estas aqui, mais do que um ensaio. E é no dia da liberdade que sai um discurso destes?

 

Portugal é, por razões que aqui não cabem, um país de esquerda. Essas razões creio não ter dificuldades em percebê-las, mas por que motivo pessoas do PSD e do CDS defendem (e põem em prática, quando no poder) ideias que a esquerda coerentemente subscreve é atitude cujo racional me escapa. Será para ganhar eleições?

 

Se é, trata-se de um equívoco. O eleitorado, e bem, acaba sempre, a prazo, por preferir os originais às cópias. E não vale a pena ser governo, mesmo que seja apenas duma câmara, para se fazer o contrário daquilo que se acredita ser o bem comum. Ou então acha-se que o bem comum é o mesmo quando a informação de que se dispõe é a mesma, como entendia o infeliz Cavaco, que se fartou de ganhar eleições porque as circunstâncias históricas lhe correram de feição e acreditava genuinamente - lá está - nas tolices que expelia.

publicado por José Meireles Graça às 14:16
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Sábado, 26 de Abril de 2014

26 de Abril

É a data em que muitos Portugueses suspiram de alívio: acabaram os discursos suados, em que quem por função ou ambição acha que deve dizer alguma coisa espreme as meninges para expectorar algo que ainda não tenha sido dito; acabaram as intermináveis cerimónias onde os bonzos do regime se aliviam de um interminável rol de recados e banalidades, uns e outros, nos melhores casos - nos piores temos direito a profundidades filosóficas que não há apneia que aguente - embrulhando na retórica cansada da liberdade a agenda política que defendem.

 

Entendamo-nos: uma comunidade precisa dos seus momentos de celebração, das suas cerimónias chatas, dos seus discursos oficiais, dos seus rituais. E mesmo que a maioria dos cidadãos vá à praia, ao parque, ao café ou a passeio, é tranquilizador saber que há quem trate das comemorações, do içar da bandeira, dos cortejos - a gente também paga aos políticos para se ocuparem das efemérides, que nós não temos vagar e sempre há uma mole de gente que se entretém a ver com gosto essas merdas.

 

Porquê então o fartum? É que o 25 de Abril não é ainda uma data histórica, não podemos tratá-la como ao 1º de Dezembro e despachá-la asinha: menos de um quarto dos portugueses de hoje a viveram conscientemente mas no espaço público - quem é governante, líder de partido, comentador com banca nas têvês, ex-presidente, ex-ministro, ex-qualquer coisa - essa percentagem é muito superior.

 

Pior: na gente que viveu o 25 de Abril há vencedores e vencidos, e nestes não está apenas a Velha Senhora, porque houve pelo menos dois vinte e cincos - o dos comunistas e o dos outros; e os primeiros foram vencidos mas não convencidos, além do que sobrevieram ainda trânsfugas que, de lá para cá, viajaram da esquerda para a direita e - alguns - da direita para a esquerda. Mas quase todos estão aí, no espaço público, a lutar para que se cumpra Abril - o Abril deles. E estão de tal maneira que entopem os meios de comunicação social não apenas com as cerimónias oficiais e os festejos mas com a interminável parafernália dos comentários, lembretes, mesas redondas e debates - ao fim do dia o espectador já não pode com o 25 de Abril, a liberdade, os poemas, as historietas, as musiquetas, as imagens mil vezes vistas, o mau que era o 24, o bom que passou a ser no 25 e o melhor ou pior que é agora, bem como a longa lista dos has-been que neste dia renasce para a ribalta deles - e o nosso tédio.

 

Eis por que prefiro comemorar a data do título - julgo não estar só.

publicado por José Meireles Graça às 14:01
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Sexta-feira, 11 de Abril de 2014

Oposição estereofónica

Quem ler alguma da história do Estado Novo percebe que este, nascido de um golpe militar, só pôde consolidar-se porque Salazar contou de início com o apoio das chefias, assustadas com o descalabro financeiro da pátria falida, em particular Carmona, e com a desordem e o terror da 1ª República, e foi com o tempo criando a teia de dependências e cumplicidades que transformaram a instituição militar num dos pilares do regime.

 

A guerra colonial veio desfazer este suave arranjo. Não é que a situação fosse militarmente insustentável; não é que o país estivesse exangue com o esforço da guerra, como diz a lenda, não obstante os mais de 40% do Orçamento que a ela chegaram a ser afectos: é que um pequeno país não podia pedir indefinidamente aos seus juvenis, em levas sucessivas, que fossem para longe defender algo que muitos não entendiam como seu, e tudo sem fim à vista. Além do que os ventos de uma opinião pública mundial hostil ao colonialismo à antiga também aqui chegavam, ainda que filtrados. E mesmo que por baixo da mesa os governos do Ocidente nem sempre fossem tão hostis como gostavam de se apresentar; e mesmo que no contexto da Guerra Fria não se ignorasse que havia o perigo de a URSS ser o verdadeiro herdeiro das independências das antigas colónias: havia o cansaço de um regime decrépito, a falta de esperança e a sensação de cuspir contra os ventos da História.

 

Um problema de promoções e de estatutos foi o rastilho; uns poucos militares mais lidos ou ambiciosos foram o fermento; outros mais atrevidos, corajosos ou inconscientes, os agentes; o regime caíu, sem que quase ninguém, salvo os futuros retornados, o lamentasse; e os heróis do dia foram ler - para desempenharem o seu novo papel não podiam falar da pele posta a salvo, do pré e das carreiras, precisavam do manto salvífico de uma ideologia. De ideologias havia várias disponíveis, e todas eles tresleram, mas a que parecia a muitos reservar um papel exaltante era a comunista, numa das variantes que os ideólogos civis disponibilizavam. Daí para a frente, estabeleceu-se, na rua e nos quartéis, a luta entre soviéticos, ou cubanos, ou peruanos, ou albaneses, ou chineses, de um lado, e suecos, ou franceses, ou americanos, ou ingleses, do outro.

 

A facção militar pró-Ocidente ganhou e, em devido tempo, com a preciosa ajuda de Eanes, os militares regressaram aos quartéis, de onde saem esporadicamente quando, como agora, a Pátria se lembra de os tratar com os rigores que reserva, sob a férula da tróica, a outras categorias de cidadãos.

 

Os heróis, porém, não regressaram completamente ao anonimato dos quartéis - quem esteve tanto tempo debaixo das luzes suporta mal a insignificância. E como para a luta política se requer bastante mais do que competência nas artes do putsch; como a legitimidade revolucionária se esfumou no tempo; como na democracia as usual não há lugar para fardas nem proclamações pretorianas; como o 25 de Abril é mais um feriado para ir à praia, e menos uma data para exaltações em torno de valores que, por estarem adquiridos, não precisam de ser repetidos pela milésima vez: não está a maioria do Parlamento para aturar um grupo de ressentidos que, tendo ajudado in illo tempore a instalar uma democracia vulgar, querem agora promover uma democracia sui generis, que seria aquela em que a Oposição fala a duas vozes: a dela, que foi eleita, e a dos convidados que acham que não precisam de o ter sido.

publicado por José Meireles Graça às 23:13
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Terça-feira, 11 de Fevereiro de 2014

Europeíces, piedades, e conclusões levezinhas

Veio de Paris (na realidade o artigo apenas diz que era uma equipa da France Culture, mas deduzo que se é coisa de Cultura e de la France deve ser de Paris, tal como em Portugal estas coisas costumam ser de Lisboa) uma jornalista "jovem e competente" que entrevistou, entre outras pessoas, Teresa de Sousa, a propósito dos 40 anos do 25 de Abril.

 

Teresa de Sousa é uma conhecida colunista cujos escritos não costumo ler para além do primeiro parágrafo, pela mesmíssima razão que, se fosse gourmet, não leria a coluna de um especialista que todas as semanas falasse do mesmo prato - no caso de Teresa é a Europa, que nos é servida nas mil formas pelas quais se deve apresentar para que a possamos engolir com geral satisfação.

 

A jornalistazinha trazia, parece, uma ideia, que outros entrevistados teriam confirmado, de que "estávamos hoje pior do que no 25 de Abril, por causa da crise" - deve ter andado a falar com gente do PCP, ou a beber gins com gente do BE.

 

Teresa inteirou a moça da vulgata que toda a gente de representação reserva para estes entreactos, a saber que não senhor, estamos muito melhor, credo!, então e os índices de desenvolvimento, e o saneamento, e a taxa de mortalidade infantil, e a escolaridade e, sobretudo, o Serviço Nacional de Saúde...

 

E concluiu, triunfante: "A crise está a empobrecer-nos de uma maneira que nunca pensaríamos possível. O Governo não respeita nada nem ninguém, quando se trata de arrecadar. A classe média está a pagar a crise praticamente sozinha e a “compressão” dos seus rendimentos é brutal. Tudo isto é verdade, mas todas as crianças vão para a escola com sapatos".

 

Que a classe média está a pagar a crise não duvido; dos sapatos só tenho algumas dúvidas por imaginar que serão antes sapatilhas; e quanto às alternativas ao que este Governo está a fazer teria algumas coisas a dizer, que todavia receio fossem muito diferentes das europeíces e piedades de Teresa - mas não é o meu assunto agora.

 

Por trás destas considerações está, fatal, o seguinte raciocínio: a democracia trouxe-nos estas coisas boas; muitas não tínhamos, ou tínhamos em menor grau, nos longínquos tempos da ditadura; e logo é à democracia que devemos estes progressos.

 

Peço licença para achar que este discurso é uma falácia: comparar materialmente o agora com o dantes para daí deduzir superioridades e inferioridades de regimes não tem qualquer sentido porque todos os países progrediram imenso nestes quarenta anos, quer sob democracias quer sob ditaduras, e o nosso também não ficaria parado ainda que a Ditadura perdurasse; e sendo indiscutível que há mais democracias do que então havia, não é certo que a maior fatia do progresso material tenha vindo delas - a Ásia, o continente que mais cresceu, não é o que mais se recomenda pelas suas credencias democráticas. Aliás, a democrática Europa, pai e mãe do que melhor e pior a humanidade já produziu em termos de ideias políticas, está, relativa e inexoravelmente, a atrasar-se em relação ao resto do Mundo. Fosse eu apreciador de ideias simplistas, e cultivasse confusões entre correlações e causas, e diria que era por motivo da Democracia - mas não digo, nem penso.

 

O que eu penso é que para ser democrata não é preciso este massacre memorialista sobre os meninos do pé-descalço: Não houve até agora um só dia em que o nosso País progredisse mais do que o fez em qualquer dos dias da década de sessenta, apesar da chuva dos milhões com que desde 1986 nos aspergiram; nem as contas estão feitas sobre quanto nos vai custar em retrocesso e abrandamento aquela parte do progresso que foi feita a crédito; nem as pessoas que, como Teresa de Sousa e eu, têm mais de cinquenta anos, deveriam ter necessidade de esquecer, ou falsificar, os números do passado, para encher a boca com os imaginários triunfos do presente.

 

Teresa diz o que quer; eu também. E isso, que não conta para o PIB, é o que merecia ser comemorado no 40º aniversário. O resto não.

publicado por José Meireles Graça às 15:58
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Sexta-feira, 26 de Abril de 2013

O (a)caso dos cravos

 

 

A revolução dos cravos poderia ser sem flor.


Sei-o porque a mãe de uns amigos foi quem, nessa manhã, comprou as flores que, pela mão do mais perfeito acaso, chegaram ao cano da espingarda de um soldado.


A mãe destes amigos - a "patroa" de quem fala a protagonista deste video - comprou flores, cravos, para oferecer aos clientes do seu restaurante, ao pé do Marquês de Pombal, que comemorava um ano no dia 25 de Abril de 1974. Como se deu a revolução, o restaurante não abriu e os cravos foram oferecidos aos empregados. 

 

Improvável patrocínio, ou como o acaso faz história.

 

publicado por Ana Rita Bessa às 16:24
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Quinta-feira, 25 de Abril de 2013

25 de Qualquer Coisa, Sempre

Acho que, se soubesse o que hoje sei, não teria, se fosse vivo, apoiado o 28 de Maio. Mas, se soubesse apenas o que era razoável saber em 28 de Maio, teria apoiado o 28 de Maio.

 

Se soubesse o que hoje sei, não teria apoiado com entusiamo o 25 de Abril. Mas, sabendo o que então sabia, apoiei entusiasticamente o 25 de Abril.

 

A verdade é que cada revolução é ela própria e a sua circunstância. E porque só há revoluções quando há bloqueios que não se resolvem, quem achar, como eu acho, que as revoluções são soluções de desespero que, para resolver uns problemas, inventam outros novos, deve preferir a evolução.

 

O bloqueio já foi a ditadura jacobina partidária, o caos social, a instabilidade e a ausência de progresso económico, e deu no que deu.

 

O bloqueio já foi a guerra colonial e o imobilismo de um regime orgulhosamente só e orgulhosamente anacrónico, e deu no que deu.

 

O bloqueio hoje é a União Europeia e o Euro. E, se não se evoluir para outra coisa, dará no que dará.

 

Não é hoje o dia dos direitos e das proclamações? Pois então, exercendo o meu direito à opinião, proclamo.

publicado por José Meireles Graça às 21:00
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Há mais de 38 anos preparando o povo

 

 

É com solenidade e sentido de Estado que o Gremlin Literário lembra o dia 25 de Abril de 1975.

 

A brutalidade do calor não foi insuportável aos eleitores: em cerca de 6 milhões e 200 mil inscritos, votaram mais de 5 milhões e 700 mil, e abstiveram-se menos de 520 mil (8,34%).

 

Foram as eleições para a Assembleia Constituinte. A primeira a ser eleita por sufrágio directo e universal, contra a opinião e a vontade do simpático académico Fernando Rosas (e de quase toda a esquerda) que, tal como Salazar e Marcelo Caetano, considerava que o povo português "não estava preparado".

 

Faz hoje 38 anos.

 

publicado por Margarida Bentes Penedo às 15:06
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Quarta-feira, 25 de Abril de 2012

ANGOLA É NÓÇA!!

 

 

 

Comemora-se hoje mais um binteçinco dabril, passados que são 38 anos sobre o dia em que etc. etc.

 

Cumpre-me assinalar que não sei quê. O povo saiu à rua, os capitães fizerem umas coisas com as espingardas e enfiaram flores nos bigodes. Os chaimites cometeram muitas infracções, porque havia cidadonas penduradas por todo o lado. Depois foram ao Largo do Carmo e gritaram "pá".

 

Foi uma onda de esperança, toda uma população isto e aquilo, à Portela chegaram senadores.

 

Nunca mais, em toda a história desta pátria cuja aventura é uma comovente puézia, se juntaram tantas calças à boca de sino a subir e a descer os quartéis num grito de alegria colectiva.

 

Os soldados comeram sandes de mortandéla.

 

As crianças brilharam nos cabelos das raparigas. As árvens não morreram de pé, porque ficaram cheias de autocolantes encarnados com letras amarelas.

 

Nas casas dos eleitores, as televisões emitiram miras técnicas e cumenicádos de pessoas que antes disso eram analfabetas. Nas universidades, os estudantes puseram-se espertos e passaram de ano com muitas namoradas. E nunca mais tiveram que aturar as parvoíces dos preçôres.

 

publicado por Margarida Bentes Penedo às 14:52
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