Hoje calhou-me a mim a vez da coluna de crítica radiofónica no Gremlin Literário.
Ontem vinha a ouvir no autorádio a Antena 1, a rádio paga pela Taxa de Radiofusão incluída na nossa conta da luz, e passou um programa humorístico, de sua graça o "Mata-bicho", apresentado pelo humorista Bruno Nogueira (o alto), que se dedica a dizer graças na rádio e televisão, e com textos da autoria do autor João Quadros (o baixo), que se dedica a chamar putas nas redes sociais às mulheres que não são da sua área política, a esquerda.
O humor do programa é uma merda, que ficou bem evidente na piada de abertura, "A melhor invenção do século XXI é o topless como forma de protesto ... porque quanto mais injusto for o mundo, mais hipóteses há de podermos ver mamas [risos]". O que não é motivo suficiente para criticar os autores, porque, se é verdade que o humor é o retrato mais fiel da inteligência, da educação e da cultura do humorista, o humor de um cagalhão não pode ser muito diferente de humor de merda.
Depois, o programa prosseguiu com o prato principal, que era ridicularizar a Juventude Centrista (que não é o meu partido) por ter, a propósito do propósito da maioria de apoio ao governo de introduzir nos programas para o segundo ciclo do ensino básico, para alunos dos dez aos doze anos, a educação para o aborto, sugerido, não sei se a sério? ou com um propósito de ironia? a hipótese da educação para a abstinência.
[Já vos tinha dito que todos os programas do Mata-bicho partilham com todas as crónicas do Nicolau Santos o facto de se dedicarem a criticar, não consigo perceber qual deles mais dentro do domínio do humor, qual mais no da análise económica? a oposição, sendo programas na forma pretensamente humorísticos, mas no conteudo de orientação política óbvia, numa linha bastante popular para a actual tutela política da comunicação social pública que o próprio primeiro-ministro procura, com a inteligência, a educação e a cultura que Deus lhe deu, praticar no parlamento, e que é reconhecido que o primeiro-ministro não é nada sovina com os agentes culturais que o apoiam, nomeadamente facultando-lhes espaço mediático público para exporem a sua arte? Se ainda não tinha dito, fica dito, e a verdade é que estes lá chegaram à avença na RDP]
Passaram pela crítica ao modo de vestir dos jovens centristas, enumerando as marcas da roupa condenáveis, para chegarem ao que interessava, a melhor forma de promover a abstinência sexual é andar com uma foto da Zita Seabra na carteira, porque quando os jovens sentem tesão por uma colega de turma do Bloco de Esquerda basta olharem para a foto da Zita Seabra e passa-lhes a tesão, dito por mais palavras, incluindo metáforas e silogismos, para preencher os 3 minutos contratuais do programa. Um momento radiofónico bonito. Se fossem mesmo humoristas a sério, dos que desafiam os códigos [eu não sei bem o que é que significa desafiar os códigos, mas pareceu-me que fazer crítica radiofónica sem dizer "desafiam os códigos" seria pobre], teriam feito a piada com as mães deles, em vez de a fazerem com a mãe de outros, os filhos dela. Mas eles não estão lá para desafiar os códigos, estão para fazer activismo político-partidário em nome de quem os contrata, e com a mães deles não resultaria tão bem.
Estou a dar a impressão de parecer um bocadinho crítico relativamente à ordinarice destes asnos?
Nada disso! Imbuído pelo espírito da quadra natalícia, estou até disposto a retribuir o bom humor deles com uma sugestão para incluirem num próximo programa uma piada engraçada como esta, desta vez sobre a Educação para o Aborto:
Bem hajam e um santo Natal para todos.
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