E não lhes acontece nada porquê? Ora, é bom de ver: Polícia, Ministério Público, Tribunais, é tudo a mesma corja - em se tratando de passatempos da direita portuguesa fecham os olhos.
E não é só em Portugal. Em Espanha a coisa não é muito diferente: um dirigente do PP tinha 45 multas acumuladas desde 2011 e nada. Mas foi a Cuba, teve um acidente que provocou uma vítima mortal e "Ángel Carromero ficou sem carta e foi condenado a quatro anos de prisão". Cuba é um estado de direito, os poderosos, lá, não têm como passatempo pôr em risco a vida dos seus concidadãos.
Mas, espera: Para da comparação se poder tirar uma conclusão edificante, o dirigente preso não deveria ser governante local?
Porque, assim, almas mal-intencionadas - fascistas, vá lá - poderão julgar que o acidente pode ter tido alguma coisa a ver com a lástima das estradas e a decrepitude do parque automóvel cubano.
Vejamos: abre-se a garagem do Paço Episcopal, e ala que lá vai ela, ligeira de marcha atrás, rebenta com o gradeamento, e aterra 3 metros abaixo, em cima de um carro que estava estacionado. A personagem saiu surpreendida, mas ilesa.
Sucedeu em Bragança. Ao volante estava D. José Cordeiro, bispo de Bragança-Miranda e o mais novo bispo português. Foram buscá-lo a Roma, há cerca de um ano e meio, onde dirigia um "observatório da catolicidade da Igreja".
A culpa, aparentemente, "foi dos travões" que lhe "falharam". Os mariolas. De resto, é uma deficiência frequente, e comum a várias marcas: os travões costumam "falhar" quando se carrega no acelerador. Já tive carros desses.
Tenho ouvido dizer, e com razão, que as mulheres conduzem mal. É um facto. Talvez apenas superadas pelos homens, cujo talento para guiar automóveis equivale, regra geral, ao de Miguel Graça Moura para escrever romances "eróticos". Com a agravante de insistirem (durante os períodos de engarrafamento) em remover (com a ajuda do dedo indicador e mesmo com a unha do polegar) substâncias com diferentes consistências do interior das cavidades do nariz. Sobranceiramente indiferentes às propriedades da transparência do vidro.
Se além de serem homens tiverem uma opção (ou condição?) sexual, daquelas "identitárias", então guiam que nem vos conto. Conheço uma excepção, mas nenhum dos outros é capaz de distinguir uma embraiagem de um éclair.
Depois há os "comerciais", que são os mais varonis. Conduzem chaços a gasóleo, pintados com as letras "da firma", equipados com uma rede a separar os bancos da frente (que são os únicos) do que resta do veículo (chamemos-lhe assim). Manifestam-se sobretudo "nos" autoestradas. Viajam invariavelmente na faixa da esquerda, e não se desviam: seria grande contratempo, uma vez que mudar de faixa obriga a perder velocidade ("epá, um gajo tem que andar para o lado...") e representa o vexame de serem ultrapassados. Vão sempre a 160 (eles dizem "180, 200"), "na cola". Ou seja, a uma distância indetectável do carro da frente, que é para "aproveitarem o túnel de vento". Gosto muito de os ouvir conversar nas bombas de gasolina. Nas subidas, sei que desligam o ar condicionado, para dar "mais rendimento". Quando estacionam, antes de desligar a ignição dão uma forte aceleradela. Para "limparem os tubos ao menino".
Em matéria automóvel, sobre os membros do clero (regular ou secular) sei pouco. Já me cruzei com algumas freiras. Geralmente, viajam em carros velhos e grandes. Por vezes os chamados "furgões" (conceito praticamente extinto), mas quase sempre cinzentos. E lá vão, direitas e cumpridoras, pelas estradas secundárias "da província".
Sobre eles nunca tive informação. Mas confesso que esta notícia me deixa um nadinha apreensiva com a perícia de prelados, bispos e outras graduações mais subidas. Que a verdade é uma: poderão aterrar na escolha do pastor que há-de guiar a Igreja, logo agora nestes tempos inseguros, se não andam duzentos metros sem demolir o património e aterrar o "sedan" em cima do primeiro "comercial" desprevenido?
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