Há mulheres feias, bonitas, mentirosas, sinceras, ignorantes, cultas, estúpidas, inteligentes, de bom coração e más como as cobras.
E há senhoras feias, bonitas, mentirosas, sinceras, ignorantes, cultas, estúpidas, inteligentes, de bom coração e más como as cobras.
Há homens feios, bonitos, mentirosos, sinceros, ignorantes, cultos, estúpidos, inteligentes, de bom coração e maus como os escorpiões.
E há senhores feios, bonitos, mentirosos, sinceros, ignorantes, cultos, estúpidos, inteligentes, de bom coração e maus como os escorpiões.
Hum, mulheres e senhoras, homens e senhores. E como se distinguem uns dos outros?
Entre homens e mulheres não há dificuldades, por causa de certos sinais exteriores (por causa de certos sinais interiores também, na minha opinião, mas Deus me livre de ir por aí, que não sou da subespécie doida temerária). Se bem que a coisa seja ainda mais complicada porque há uma minoria de mulheres que acham que são homens, outra de homens que acham que são mulheres, e outras que se acham homens e mulheres de parte inteira mas quereriam desempenhar, no processo de reprodução, o papel do sexo oposto. Deixemos em paz, para os estudos de género subsidiados, estas candentes matérias, que disso não quero falar.
Disso não quero falar. E das diferenças entre mulheres e senhoras, ou homens e senhores também não, por uma razão simples: quem estiver em condições de entender a explicação não precisa dela; e quem precisar jamais entenderá.
Aaaaaaaaah, e exemplos, a ver se a gente se entende ou se desentende de vez?
Álvaro Cunhal, um potencial criminoso comunista, era um senhor; e Jerónimo de Sousa, um potencial criminoso comunista, é um homem. Passos Coelho, possivelmente o menos mau dos primeiros-ministros da democracia, é um senhor; e António Costa, a grotesca e sebosa figura que pincha à cabeça da geringonça, é um homem (ou talvez nem isso, apenas um homenzinho). O número dois, ou três, ou lá o que é, do PSD, o hesitante Fernando Negrão, é um senhor; e o seu patrão um homem.
Querem exemplos de mulheres e exemplos de senhoras? Não dou, que já acima declarei que não sou doido. É que até mesmo no meu partido há as duas variedades, e sou amigo de representantes de ambas. Mas, vá lá, pronto, no Bloco, assim de repente, não vejo uma única senhora. E mulheres também vejo poucas, aquilo é mais raparigas. E aquele tipo de Coimbra que é deputado, falha-me agora o nome, é homem ou senhor? Hesito, mas não hesito nos colegas: são ganapos.
Hum hum, e no PS? Bem, estava a ver a SicN e zás, aparece uma entrevista a Ana Gomes. Foi por isso que me lembrei das mulheres.
A eurodeputada Ana Gomes ainda alimenta secretamente o sonho de juventude de reorganizar o Partido do Proletariado, agora a partir do Partido Socialista onde se infiltrou para desenvolver o seu combate político em condições de prosperidade material minimamente condignas, e manda o internacionalismo proletário que se combata Israel, a única democracia burguesa e capitalista do Médio Oriente, onde as mulheres têm direitos que agridem a cultura milenar de misoginia e fundamentalismo da região. Na Palestina sê palestino, como gosta de se dizer por cá quando se vê uma imigrante a agredir com o seu véu ou a sua burka a nossa cultura milenar de tolerância e democracia.
Agora decidiu convidar para uma conferência em Bruxelas, onde montou há anos a base da sua militância proletária, Omar Barghouti, o defensor dos direitos humanos e fundador do movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), um dos movimentos com mais sucesso do proletariado mundial fundado para, através do Boicote a Israel e às empresas que mantêm relações comerciais com Israel, assim como a quem mantém relações desportivas, culturais ou académicas com o país, do Desinvestimento em empresas israelitas ou que mantenham relações comerciais com Israel, e das Sanções militares, de comércio e diplomáticas a Israel, isolar económica, social e diplomaticamente o Estado de Israel e projectá-lo na falência de modo a deixar de ter meios para se defender militarmente dos povos vizinhos que pretendem libertar a região desta democracia burguesa e capitalista que a oprime e conspurca.
Movimento onde militam figuras ilustres do proletariado mundial como o célebre cançonetista Roger Waters, o pedagogo que anunciou ao mundo que as crianças não precisam de educação e apelou aos professores para as deixarem em paz, no que é perfeitamente coerente com o seu combate contra o único Estado que na região mantém níveis de educação comparáveis com os dos países do primeiro mundo, que apela ao boicote aos concertos e à compra de discos de todos os cançonetistas que actuam em palcos israelitas com o nobre desígnio de evitar que um dia se tornem milionários como ele.
Protestaram contra o convite, debalde, os movimentos pró-Israel, sempre activos a tentar a limitar os direitos de reunião, associação e expressão dos proletários oprimidos de Bruxelas.
A proletária Ana Gomes saltou-lhes ao caminho e denunciou que o movimento que protestou "é extremista, não representa o povo de Israel e alimenta conotações racistas e intenções destruidoras a quem quer a paz com Israel, como Omar Barghouti", tendo-lhe deixado o aviso que "Essa gente está habituada a intimidar, mas a mim não me intimidam". Dá-lhes nas fuças, Ana!
PS: Bem, o Expresso do grande social-democrata genuíno Pinto Balsemão, a chamar "lóbi" ao judaico mas "movimento" ao anti-semita.
Agora que a Dana Scully anunciou vai abandonar* os X Files, todo o peso da denúncia das grandes conspirações mundiais feitas para nos tramar, dos voos da CIA aos submarinos do Paulo Portas, dos Estaleiros de Viana do Castelo ao terreno do embaixador de Cabo Verde na UE, vai cair sobre os ombros da eurodeputada Ana Gomes.
Como é óbvio, esta pesquisa incansável pela verdade escondida traz-lhe alguns dissabores e críticas de quem, ou não compreende a importância das conspirações obscuras como determinantes da evolução do mundo, ou tem mas pretende manter ocultas por ser parte interessada nelas.
A última denúncia, e o último dissabor, que ela se viu na obrigação de sacudir, têm a ver com uma aquisição de um terreno na Praia, em Cabo Verde, pelo antigo embaixador de Cabo Verde na União Europeia, que, além de ter comprado esse terreno em circunstâncias que eu não tive o cuidado nem interesse em apurar mas a eurodeputada considera suspeitas, ainda deixou em Cabo Verde a "...perce[p]ção** generalizada de que [o embaixador] foi instrumental na vitória do MpD (2016), com contribuições estratégicas e financeiras...". Ou seja, é um reaças, e estava mesmo a pedi-las. E ela sobre compras de terrenos até deve perceber umas coisas.
Quem a critica pela obsessão pela denúncia das conspirações, reais ou imaginárias, além de incompreender os nobres motivos da cruzada dela, ou de os compreender e de ser exactamente pela sua nobreza que os combate, comete com ela uma injustiça gritante.
É que, militando num partido onde o nepotismo familiar e partidário na escolha dos mais altos dirigentes da coisa pública, ou até dos mais modestos funcionários, a instrumentalização de grandes negócios públicos para proporcionarem benefícios privados aos seus participantes, ou até simples borlas na bola em Portugal ou no estrangeiro, são praticados à descarada e pela generalidade dos que estão em posição de os cometer, ela vive imersa num mundo partidário onde toda a gente é, na medida das capacidades e possibilidades de cada um, corrupta. Pelo que é mais do que razoável admitir que no mundo exterior a esse mundo partidário também aconteça a mesma coisa, e que vale a pena dedicar-se a denunciá-los, até imaginando-os se não os conseguir descobrir, porque certamente serão um dia descobertos.
Pelo que é injusto criticá-la pela obsessão na denúncia de conspirações.
E por isso deixo aqui, porque penso que alguns dos leitores serão militantes do CDS, um apelo a que apelem aos deputados do CDS para não a tratarem mal quanda a chamam ao parlamento para esclarecer com factos as suas denúncias de crimes imaginários, que são certamente mais próximos da verdade do que os factos que ainda não os sustentam. Para que não se repitam maldades como esta.
* Uma das discussões mais fascinantes do mundo actual é se se devem aceitar ou rejeitar as notícias veiculadas por fontes que os leitores consideram não-fidedignas, como é considerado pelas pessoas de instrucção elevada e superioridade moral o Correio da Manhã. Como citei esta notícia do The Sun, os leitores são livres de não acreditar. Mas que ela se vai embora, vai.
** O autor, para quem ainda não percebeu, escreve como aprendeu na escola, e até gosta de pronunciar, ainda que discretamente, as vogais mudas, pelo que as acrescenta quando cita textos onde elas foram amputadas.
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