Este cavalheiro é o mesmo que se declara a favor da extinção da ADSE; que é um defensor intransigente do Serviço Nacional de Saúde; e que goza de grande prestígio, suponho que merecido, por ter conseguido dirigir uma instituição, o Hospital de S. João, que "recuperou o amor próprio".
Vem-nos agora dizer que o SNS “está falido” e que tudo indica que “a despesa vá crescer” nos próximos anos, por causa da inovação terapêutica e da demografia.
Isto quando o Ministro da Saúde goza de um prestígio que não bafejou nenhum dos anteriores, devido às muitas iniciativas para melhorar o funcionamento da gigantesca máquina da saúde pública, racionalizando meios, efectuando cortes, perseguindo abusos, enquanto luta contra uma oposição comunista, treteira ou demagógica.
Falhará, o Ministro. Não se verá o falhanço porque quem o suporta dirá sempre, com razão, que se não tivessem sido tomadas medidas a situação seria pior; e os novos cortes na despesa impor-se-ão com a naturalidade do inevitável, mesmo que seja o PS a decidi-los, enquanto a tralha comunista continuará a esbracejar contra a má gestão do capitalismo, que não permite alocar do Orçamento do Estado fatias crescentes para a Saúde, a Educação, a Paz, a Habitação e o mais que diz a canção.
Outro ministro virá, menos trabalhador e capaz; e vícios velhos ressurgirão, e novos nascerão. Porque nunca um sistema público, onde ele possa ser privado, foi competitivo: falta-lhe a concorrência e as falências, o egoísta interesse individual e privado e a relação cliente/fornecedor.
A futuramente defunta ADSE assentava num princípio simples: o beneficiário escolhe o médico e o estabelecimento; o Estado suporta, para cada acto médico, até xis; e o beneficiário paga a diferença. Nunca ninguém apurou, que eu saiba, se o serviço seria realmente deficitário no caso de o Estado pagar sobre os salários dos seus trabalhadores o mesmo que o sector privado paga. Admitindo porém que ainda assim o fosse, poder-se-ia diminuir à comparticipação do Estado, até ao equilíbrio. E é claro que o doente não teria direito a assistência quase gratuita nos estabelecimentos públicos, que aliás pode e poderia sempre escolher.
Mas não: Santo Arnaut, que está no seu altar em Coimbra, inventou o sistema perfeito, um exemplo para o mundo boquiaberto; o sistema alinha com orgulho uma série de reais triunfos; e, não fosse preciso fazer contas, as vitórias poderiam continuar.
De corte em corte, chegar-se-á ao ponto em que o estabelecimento público será grátis apenas, e nem isso, para quem não pode pagar o serviço. Como sempre deveria ter sido.
Os entusiastas do SNS, da esquerda à direita, queixar-se-ão amargamente de que a economia não cresce - ai!, que se ela crescesse dávamos tudo, saúdinha da boa; e continuaremos a ter, no papel, uma saúde igual para todos, com o Cerbero constitucional de guarda ao texto sagrado.
É como as outras vitórias socialistas: até à derrota final.
Blogs
Adeptos da Concorrência Imperfeita
Com jornalismo assim, quem precisa de censura?
DêDêTê (Desconfia dele também...)
Momentos económicos... e não só
O MacGuffin (aka Contra a Corrente)
Os Três Dês do Acordo Ortográfico
Leituras
Ambrose Evans-Pritchard (The Telegraph)
Rodrigo Gurgel (até 4 Fev. 2015)
Jornais