Um grupo anónimo de activistas pró-palestinos vandalizou a fachada de um restaurante do Porto cujo proprietário participou num festival de gastronomia em Israel, manchando-o de tinta vermelha e colando nas montras panfletos com a sugestão de menu "Entrada: uma dose de fósforo branco" e palavras de ordem anti-semitas como “Liberdade para a Palestina” e “Avillez colabora com a ocupação sionista”.
Divulgaram o seu manifesto anonimamente através de blogues, esclarecendo que tinham sido alertados pelo Movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) para a intenção do cozinheiro de participar no festival de gastronomia, e lamentando que a "acção indirecta alimentada por cartas educadas a apelar para que Avillez não participasse", nomeadamente o apelo subscrito pelas associações Associação Abril, Colectivo Mumia Abu Jamal, Comité de Solidariedade com a Palestina, Conselho Português para a Paz e Cooperação, Grupo Acção Palestina, MPPM - Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente, Panteras Rosa - Frente de Combate à Lesbigaytransfobia e SOS Racismo, divulgado no blogue da BDS, e este pelo esquerda.net, se tinha revelado incapaz de o demover de participar. E, como não podia deixar de ser, justificando a sua iniciativa de acção directa como um poema solidário. Tudo no tom criatividade literária e ironia tão próprio da esquerda alternativa não associada a partidos que apareceu em Portugal desde o início da legislatura anterior a organizar ocupações e manifestações de indignados, e tão semelhante ao que se tornou característico da esquerda do sistema, até no parlamento.
O esquerda.net tratou de aproveitar a notícia da iniciativa para, com a pedagogia que lhe é tão própria para ajudar mesmo o mais lento de compreensão dos leitores a perceber correctamente a mensagem que lhe é dirigida, justificar que ela tinha sido tomada para "denunciar a sua colaboração num evento de propaganda de Israel", explicar todas as metáforas usadas pelos activistas no seu manifesto, até que o fósforo branco é "material usado nos massacres contra a população palestiniana na Faixa de Gaza, em que as fotos de crianças queimadas vivas chocaram o mundo", e a divulgar o endereço electrónico para a consulta do manifesto. Mesmo o mais burro dos devotos do esquerda.net vai perceber tudo direitinho.
Vai perceber ele, e vamos perceber nós. A harmonia de valores e mensagens entre os promotores do movimento BDS que actua estritamente dentro da legalidade, as associações que aderem aos seus apelos, os activistas anónimos que passam à acção directa a pretexto dos mesmos valores, e o Bloco de Esquerda que assume as relações públicas destas iniciativas não engana ninguém que não queira ser enganado.
Isto não é a esquerda alternativa nem Alt-left. Isto é a esquerda que já está instalada no sistema, é mesmo a Mainstream-left.
Post Scriptum.
Com um agradecimento à Helena Matos e ao Blasfémias, a memória de pretéritas iniciativas do BDS, neste caso uma exigência, e a respectiva acção de protesto, ao Leonard Cohen para não cantar em Israel. Desta vez não apareceram lá os vândalos a sujar paredes e a fazer poemas solidários, mas o esquerda.net, que nunca falha, noticiou o comunicado.
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