Terça-feira, 3 de Abril de 2018

Aquecimento global ou alterações climáticas? Ou coisa nenhuma?

Não sei se deva confessar isto, porque têm-me dito que quem não acredita no aquecimento global é como se acreditasse que a Terra é plana ou se defendesse o geocentrismo e o criacionismo. Eu até confesso, mas peço-vos o favor de não divulgarem nas redes sociais para as pessoas não suspeitarem desta minha triste condição.

2018-04-04 ISS Portugal.jpg

Eu posso garantir que a Terra é redonda porque já vi fotografias. E domino a física newtoniana suficientemente bem para garantir que o sistema solar é heliocêntrico. E consigo acompanhar a plausibilidade estatística do evolucionismo, pelo que acredito mais no evolucionismo do que no criacionismo, em que aliás não acredito mesmo nada, até porque não recebi a graça da Fé.

Mas não estou convencido que o aquecimento global seja real. Não por estar convencido que não seja real, mas por saber que não tenho informação suficiente para acreditar que seja.

Mas nas alterações climáticas acredito.

Mas não vale a pena terem esperança na minha redenção antes de lerem até ao fim.

O clima era, quando eu dei Ciências Naturais nos primeiros anos do Liceu, uma estatística de longo prazo das condições meteorológicas, o tempo, em períodos de pelo menos 30 anos. E suspeito que continua a ser. O que não simplifica a tarefa de tentar perceber se está a mudar, e muito menos a quem tenha pressa para chegar a conclusões.

Não basta estar mais quente à hora de almoço do que de madrugada, nem hoje estar mais quente do que ontem por esta hora, ou do que nos conseguimos lembrar ou registámos que estava neste mesmo dia há um ano atrás, ou nos últimos 5 ou 10 anos. O clima hoje é o tempo que esteve de 1988 a 2018, com todas as oscilações sistemáticas ou caóticas que sofreu.

Com esta definição, para avaliar se o clima está a mudar é necessário recorrer a estatísticas do tempo de pelo menos 60 anos, por exemplo, comparar o período de 1988 e 2018 com o de 1958 a 1988. Isto porque acompanhar a evolução de médias móveis, por exemplo, os últimos 30 anos terminados em 2018 com os 30 terminados em 2013, apenas permite comparar o período final do período mais recente com o período inicial do período mais antigo, ou seja, no exemplo, os cinco anos de 1988 a 1993 com os cinco de 2013 a 2018, todos os outros anos de 1993 a 2013 estando presentes nas duas amostras, e de amostras de apenas 5 anos não se podem tirar conclusões que exigem amostras de pelo menos 30 anos.

Com a complicação de saber que valores usar, medidos em que locais e como, se as medidas são comparáveis ao longo do tempo, que valores se desprezam na estatística por serem considerados outliers, tudo variáveis metodológicas que dão uma certa liberdade de manipular os números para chegar a um valor preferido quando se prefere usar a ciência para sustentar uma mensagem a usá-la para perceber o que acontece.

Mesmo com estas dificuldades e armadilhas metodológicas todas, é hipoteticamente possível aferir a hipótese do aquecimento global, através do aumento da temperatura global: se a hipótese for verdadeira alguma tendência de aumento nas estatísticas de temperatura tem que aparecer. Se o cientista for rigoroso e honesto há razões para acreditar na estatística que apresenta. Se tiver uma agenda política, para não acreditar. Na ausência de informação, para manter um prudente cepticismo. Mas mesmo com todas as condicionantes é possível testar a hipótese de a temperatura estar a aumentar.

Mas é impossível aferir, e, aferindo, poder rejeitar, a hipótese de o clima estar a sofrer alterações climáticas. O clima está garantidamente sempre a mudar, não porque o tempo está sempre a mudar, que está, mas porque é virtualmente impossível todas as estatísticas relativas a condições meteorológicas permanecerem imutáveis 30 anos depois.

A grande vantagem de substituir o aquecimento global, que é possível ir tentando aferir apesar de ser muito complicado fazê-lo num fenómeno tão oscilatório e caótico como o clima, pelas alterações climáticas é que, estando o clima em alteração permanente, se bem que não necessariamente no sentido de aumento da temperatura global, acerta-se sempre na previsão.

Se eu só consigo acreditar no aquecimento global se vir informação credível que o demonstre, dou de barato as alterações climáticas mesmo sem olhar para estatísticas. Se o tempo num Novembro menos frio me parece sustentar a hipótese do aquecimento global tanto quanto o tempo num Março mais chuvoso me encoraja a duvidar dela, qualquer tempo me parece compatível com a hipótese de haver alterações climáticas. É uma hipótese credível que nem necessita de confirmação.

Já se a utilidade de saber que há aquecimento global é mais ou menos evidente, porque é possível antecipar que problemas é que o aumento sistemático da temperatura poderá possivelmente provocar e preparar alguma prevenção contra eles, a de saber que há alterações climáticas parece de utilidade menos evidente, porque sem se saber que alterações serão ao certo também não se pode fazer grande coisa para lhes prevenir as consequências.

Os defensores do aquecimento global e das alterações climáticas ganharam em credibilidade com a mudança o que perderam em utilidade do alerta.

Outra coisa, de que não falei, é se o hipotético aquecimento global, ou as garantidas alterações climáticas, são determinados pela actividade humana e se podem, alterando mentalidades, evitar e, evitando-os, evitar também os perigos que colocam se forem hipótese reais? Daqui a 30 anos volto a este assunto.

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 19:07
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Domingo, 19 de Novembro de 2017

O caminho das estrelas

2017-11-19 Star Trek.jpg

Em abstracto devemos deixar o planeta às gerações vindouras tão limpo, e tão fresco, dizem-nos agora, como o recebemos. Em concreto, devemos deixar o planeta.

[Hoje vou imitar o Professor Francisco Louçã a imitar o Professor Rebelo de Sousa e inaugurar aqui um espaço de divulgação científica para dar um toque cultural e cosmopolita ao meu comentário, quase todo baseado nos temas maçadores da política e da economia com breves incursões pelos pequenos problemas do dia-a-dia das pessoas normais que o tornam mais útil mas ainda menos erudito]

O princípio de que, quando o abandonamos, devemos deixar qualquer lugar onde permanecemos pelo menos tão limpo como o encontrámos é indiscutível, e um dos mais básicos que devem ser incutidos pelas famílias às crianças, e sem os quais as crianças correm o risco de crescerem para se transformar em  criaturas boçais que se recusam a entregar as chaves da associação de estudantes quando perdem as eleições ou que dedicam as suas vidas adultas a procurar mistelas políticas para conseguirem governar sem terem ganho as eleições. Tão básico como habituá-las a fazer a cama, mesmo à custa do risco de contrariar a sua natureza de a deixar desarrumada para a mãe a fazer, traumatizando-as e fazendo delas crianças menos felizes do que um bom cirurgião deve ser.

Se nos der para fazermos um pique-nique não devemos, e se o fizermos não passamos de porcalhões, deixar restos de comida nem lixo no local. Ponto parágrafo.

E com o planeta é a mesma coisa. Ponto final.

É verdade que o conceito abstracto de deixar o planeta no estado em que o encontrámos é mais difícil de formular concretamente do que o mesmo conceito aplicado ao local do pique-nique. Há aspectos que são evidentes. Não devemos despejar venenos em locais onde possam envenenar animais ou plantas, nomeadamente na água que corre sempre para baixo nem no ar que os leva para todo o lado. Há outros aspectos menos evidentes mas também inteligíveis. Não devemos largar na natureza resíduos que ela não tenha capacidade para absorver devidamente na sua função de reciclagem permanente de tudo o que lhe aparece. Há outros menos, como o aquecimento global.

O efeito de estufa existe e é bem conhecido, e resulta de o vidro ser transparente à radiação com comprimentos de onda próximos do da luz solar, que são os emitidos por qualquer corpo a cerca de seis mil graus centígrados de temperatura, pelo que a luz solar que entra aquece o interior da estufa, mas ser opaco à radiação infravermelha emitida pelos corpos à temperatura do interior da estufa, umas dezenas de graus centígrados, pelo que a radiação entra mas não sai e o interior da estufa aquece mais do que o ambiente exterior.

Que há gases que, como o vidro, são mais transparentes à luz solar do que à radiação infravermelha, e que o dióxido de carbono é um deles também é um facto. E o metano. Que a actividade humana no mundo actual, nomeadamente na produção da energia que a humanidade consome, produz mais dióxido de carbono do que no tempo da pedra lascada, também é um facto.

Que tudo isto faça aquecer o planeta de modo suficientemente intenso para provocar alterações climáticas tão catastróficas que o torne inabitável, é convicção de muitas pessoas. Que esta convicção seja suportada pelas opiniões de muitos centistas, também é um facto. Que essas opiniões sejam solidamente fundamentadas no conhecimento científico já é mais duvidoso.

A Meteorologia é, sendo uma ciência da natureza, o estudo de fenómenos tão complexos que não se conseguem extrair conclusões do mero conhecimento fundamental, pelo que muita da ciência do clima acaba por se basear na estatística. Como as ciências humanas. E, tal como nas ciências humanas, a estatística tanto pode ser usada para tentar aprofundar o conhecimento dos fenómenos estudados desmentindo as convicções que se têm sobre eles, e é assim que a ciência avança, como para comprovar opiniões que se têm sobre eles de modo a formar opiniões prevalecentes. Presta-se a ser transformada em ideologia. E é verdade que hoje em dia qualquer um que formule qualquer dúvida relativamente à opinião vigente sobre o aquecimento global e às consequências catastróficas a que vai inapelavelmente conduzir, algumas das quais até já deviam até ter acontecido se as previsões dos cientistas se tivessem cumprido, é tratado como um néscio, cientificamente ao nível de qualquer criacionista, e eticamente como ambicionando a destruição do planeta e da humanidade. Pior ainda, um trumpista!

E tudo isto está a conduzir a humanidade à emergência da descarbonização. Trocamos o carro pela bicicleta, pelo menos os que têm pernas e equilíbrio. Trocamos as centrais térmicas pelos elegantes moinhos de vento, que nos aparecem em números grandes e letra miudinha na factura de electricidade. Demolimos as casas dos pobres com eficiências térmicas baixas, que precisam de aquecedores no inverno, para construir belíssimos condomínios energeticamente sustentáveis. É este o admirável mundo novo.

E o nuclear? O nuclear produz a energia mais barata disponível no mercado sem emitir dióxido de carbono. Mas a energia nuclear serve para fazer bombas. Todas as formas de energia servem para fazer armas, mas toda a gente sabe que é muito mais humano morrer à paulada ou à pedrada do que incinerado instantaneamente a um milhão de graus centígrados numa explosão atómica. Nuclear não, obrigado!

Descarbonização sem nuclear, portanto. Alguém tem dúvidas? Eu não. E pur si muove...

Mas temos um problema.

Ao contrário da energia solar, que é renovável, o Sol não é uma fonte de energia renovável. O Sol consome-se ao produzir a energia que emite, consome, e não vou entrar em detalhes técnicos, que nem sequer domino, Hidrogénio do seu núcleo. E à medida que for consumindo o seu núcleo, o Sol vai arrefecer e inchar, e acabará por se apagar. Vai inchar, dizem os astrónomos, até um diâmetro que se estima entre os diâmetros da órbita da Terra e da de Marte. Atalhando razões, o Sol há-de engolir a Terra. Também se estima que isto demorará alguns milhares de milhões de anos, bem mais do que as poucas décadas ou alguns séculos que os ideólogos do aquecimento global nos dão de vida se não descarbonizarmos sem nuclear. Mas também é verdade que muito antes de o Sol chegar a engolir a Terra a torrará ao longo do seu processo de crescimento. Nunca demorará menos de milhões de anos, mas é um destino fatal.

O que significa que a humanidade se extinguirá inapelavelmente, com poluição ou sem ela, com construção energeticamente sustentável ou sem ela, a andar de bicicleta ou de todo-o-terreno, com moinhos de vento ou centrais nucleares, a não ser que consiga chegar a outro local habitável fora do sistema solar, um exoplaneta, ou planeta de outra estrela que não o Sol, que reúna as condições de sobrevivência que a Terra nos oferece. O que justifica o esforço actual da astronomia na procura de exoplanetas potencialmente habitáveis, que os vai encontrando.

O problema é que para lá chegar é preciso viajar distâncias muito longas. A estrela mais próxima de nós, a Proxima Centauri, e nessa ainda não foi descoberto nenhum exoplaneta dos que servem para viver, está a mais de quatro anos-luz. Não vale a pena traduzir esta distância em quilómetros, é um número com treze zeros, mas a luz que nos chega dessa estrela demora quatro anos a chegar até nós, o que significa que quando olhamos para ela a vemos como era há quatro anos. Ou que se telefonássemos para alguém que lá estivesse, a conversa "- Chegaste bem? - Cheguei. - Diverte-te e traz-me uma lembrança. - Está bem, beijinhos." demoraria 16 anos.

Mas o problema da viagem é ainda maior. Para a viagem durar quatro anos teria que ser realizada à velocidade da luz, trezentos mil quilómetros por segundo, o que, em número, não tem nada de especial, mas é fisicamente impossível, até porque a energia cinética necessária para viajar à velocidade da luz é equivalente à energia da matéria que é necessário acelerar para a levar até essa velocidade, ou seja, seria necesssário consumir a matéria para a acelerar. Quatro anos de viagem estão fora de questão.

Mas vamos supor que se conseguirá um dia descobrir tecnologia capaz de transformar eficientemente matéria em energia cinética de modo a conseguir acelerar corpos até velocidades próximas da da luz, por exemplo, metade da velocidade da luz, o que corresponde a um quarto da energia cinética.

Então, será possível fazer a viagem de ida em oito anos e meio, porque serão necessários seis meses para os acelerar a intensidades suportáveis pelos viajantes semelhantes à da gravidade terrestre, em que a velocidade média só será de metade da velocidade de cruzeiro, e outros seis para os travar à chegada, mais sete anos e meio em velocidade de cruzeiro. Ao fim desses oito anos e meio poderão fazer uma transmissão a dizer que chegaram, que será recebida na Terra quatro anos depois. Se esperarem lá mais quatro anos pela primeira resposta da Terra poderão então iniciar a viagem de regresso que os devolverá à procedência ao fim de vinte e cinco anos de viagem, com notícias sobre se o exoplaneta que visitaram tem ou não tem condições para acolher a vida da Terra. Isto, em tempo.

Em energia, consumirão um quarto da massa para acelerar até à velocidade de cruzeiro de metade da velocidade da luz, e consumirão outro tanto para desacelerar para conseguir pousar no planeta. No regresso consumirão outro quarto na aceleração e outro tanto na desaceleração, pelo que fica ela por ela.

Fisicamente uma viagem destas poderá ser uma possibilidade, e demorará dois meios-anos para acelerar e travar acrescidos de seis anos por ano-luz de distância do exoplaneta. E se aquele não servir pode-se repetir a exploração com outro um pouco mais longe, até encontrar um que sirva. Fisicamente, a humanidade e, mais genericamente, a vida na Terra, pode ter uma escapatória.

Mas tecnologicamente ainda não tem.

Não se acelera a velocidades que permitem fazer viagens destas em décadas em vez de milénios de bicicleta. Nem em veículos movidos a energia eólica ou solar. Nem com motores de explosão interna, ou de reacção, ou electricos, nem sequer nos motores de foguetão mais eficientes que é fisicamente possível conceber. A humanidade ainda não descobriu nenhuma tecnologia que lhe permita armazenar e transformar qualquer tipo de energia em energia cinética doseável em quantidades suficientes para atingir as velocidades que tornam possível realizar uma viagem destas.

E pode não estar a caminhar no sentido necessário para alguma vez a chegar a descobrir. A única energia conhecida na física teórica que, em abstracto, pode criar a possibilidade de fazer em concreto viagens destas se for dominada pela tecnologia é a nuclear. E do conceito físico teórico à engenharia que o concretiza ainda vai um caminho muito longo. Que a diabolização do Nuclear não, obrigado! não encurta.

Temos alguns milhões de anos para resolver o problema. Muito tempo. Mas cada dia que passa é menos um dia que sobra. Andarmos a brincar aos conservacionistas que até andam de bicicleta nas cidades para descarbonizar e, pela descarbonização, salvar o mundo do aquecimento global de um grau, mas ao mesmo tempo diabolizarmos o melhor que a ciência nos disponibiliza para o descarbonizarmos e o único meio de um dia, com muito esforço e alguma sorte, nos permitir transportar a vida terrestre para outro lado onde possa ser vivida antes de ser assada a quatrocentos graus na Terra, é um recuo. Um suicídio.

Temos muito tempo. Mas temos cada vez menos. E o juízo também parece ser cada vez menos.

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 14:15
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Domingo, 21 de Setembro de 2014

Frioleiras acaloradas

Os cientistas que se ocupam de questões climáticas dividem-se em sete categorias: os que suportam a tese do aquecimento global, seja com origem na actividade humana seja por razões naturais, os que a negam, os que defendem a tese do arrefecimento global, seja com origem na actividade humana seja por razões naturais, os que a negam, os que defendem a tese das alterações climáticas, seja com origem na actividade humana seja por razões naturais, os que a negam, e finalmente os que não fazem a puta da menor ideia, completamente ignorados e para os quais, se fosse preciso inventar uma palavra, eu escolheria climagnósticos.

 

Destas categorias, os dramáticos, isto é, os que dizem convictamente que ou a humanidade toma as medidas que eles aconselham ou os nossos netos ficam com água pelos joelhos e, entre outras desgraças, a cheirar dos sovacos por causa do suor, têm fundos para investigar, os ouvidos respeitosos de políticos e jornalistas e infindáveis conferências nos quatros cantos do mundo, para onde se deslocam a expensas de fundos públicos e privados; e os outros, se tiverem nomeada, podem aspirar a umas entrevistas e pouco mais, que nunca nenhum político fez carreira a dizer que não é preciso tomar medidas, nem nenhum jornalista vendeu papel a dizer que não há problemas.

 

Eu sou adepto do aquecimento global. Não da teoria, mas do aquecimento propriamente dito - para os meus lados faz um frio de rachar, gostava de visitar a Gronelândia novamente verde, e quero que os ursos polares se danem, mesmo que houvesse o risco real de as respectivas populações diminuírem seriamente por não se conseguirem equilibrar em placas de gelo do tamanho de cubos para o gin.

 

Seja tudo pelo amor de Deus: que os cientistas recebam os seus fundozinhos, os políticos os seus pretextos para se meterem na nossa vida, os amantes de causas as suas oportunidades para se imaginarem mais lúcidos que a massa ignara da maioria silenciosa, e os jornalistas as suas parangonas para nos chamarem a atenção.

 

Mas há limites. Um privatus, americano claro, dá dinheiro a um museu. E este faz uma exposição escandalosa que "suggests that climate change is natural rather than manmade and that humankind is suited for adapting to any future fluctuations".

 

Isto não pode ser. O privado em questão é um fássista notório, e essa coisa dos patrocínios só se admite se o mecenas, se for de direita, subsidiar pontos de vista opostos aos seus.

publicado por José Meireles Graça às 22:17
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Domingo, 16 de Dezembro de 2012

Ciência é isto?

(Translation in English follows)

 

(Imagem daqui)

 

Há uns dias, enviaram-me um post do Professor James Lawrence Powell que me deixou intrigada.

 

1.) O título é: "Why Climate Deniers Have No Scientific Credibility – In One Pie Chart”.

 

O que são “climate deniers”? São pessoas (ou cientistas) que negam a existência do clima? Onde estão essas pessoas? Onde se manifestam? Que trabalhos científicos publicaram, para que James L. Powell possa discordar da sua “credibilidade científica”?

 

Pelo cuidado científico com que o Professor James Lawrence Powell escolhe as suas palavras, podemos deduzir que, no seu entender, os "climate deniers" - ou "negacionistas do clima", uma referência inqualificável e irrelevante aos "holocaust deniers" - são nada menos do que nazis.

 

Pessoalmente, duvido da credibilidade (científica ou outra) de alguém que negue a existência do clima. Mas, caso exista, confesso que tenho alguma curiosidade em saber quem é esse cientista tão exótico.

 

2.) A imagem mais forte que "ilustra" o texto é um gráfico circular (pie chart) que diz: “24 reject global warming”.

 

Isto é verdade? Conheço quem ponha em causa os factores antropogénicos do aquecimento global. Actualmente, que eu saiba, nenhum cientista questiona o aquecimento global em si.

 

Além disso, há cientistas que não acreditam nos factores antopogénicos do aquecimento global (baseado nas emissões de CO2), e que não estão incluídos na lista de 24 para que aponta o link. Como, por exemplo, o Professor Tim Ball (Dep. of Climatology, Univ. of Winnipeg), o Professor Paul Reiter (IPCC & Instituto Pasteur), o Professor Richard Lindzen (IPCC & M.I.T), o Professor Patrick Michaels (Dep. of Environmental Sciences, Univ. of Virginia), o Professor Philip Stott (Dep. of Biogeography, Univ. of London), o Professor Syun-Ichi Akasofu (Director do International Arctic Research Center), ou o Professor John Christy (Univ. of Alabama in Huntsville & IPCC).

 

3.) O post apresenta uma outra imagem, que é um gráfico de barras com o número de “papers” sobre aquecimento global publicados em cada ano, desde 1991 até 2012.

 

"The gold standard of science is the peer-reviewed literature", diz Powell no primeiro parágrafo. Todo o texto se refere a “peer-reviewed literature” e a “articles”. "Papers" e "articles" não são a mesma coisa. Como interpretar isto? É gralha?

 

Por outro lado, e já que se comparam os estudos que apontam para factores antropogénicos nas alterações climáticas com os que rejeitam estes factores, seria interessante que o gráfico de barras mostrasse as datas (bastariam os anos) em que uns e outros foram publicados.

 

4.) Por fim, o Professor James Lawrence Powell faz uma série de afirmações puramente especulativas:

 

“Of one thing we can be certain: had any of these articles presented the magic bullet that falsifies human-caused global warming, that article would be on its way to becoming one of the most-cited in the history of science.”

 

“Within science, global warming denial has virtually no influence. Its influence is instead on a misguided media, politicians all-too-willing to deny science for their own gain, and a gullible public.”

 

Não vou comentar estas frases que são, pela sua natureza, incomentáveis. Impedem qualquer crítica séria. Estão no domínio da mera opinião. Ignoram com estrépito todas as exigências do método científico ("the gold standard of science") e só podem ter interesse no estudo de outras disciplinas.

 

__________

 

Is this science?

 

Someone sent me an intriguing post from Professor James Lawrence Powell a few days ago.

 

1.) The title is: "Why Climate Deniers Have No Scientific Credibility – In One Pie Chart”.

 

What exactly are “climate deniers”? Are they people (or scientis) who deny the existence of climate? Where are these people? Where do they speak? What "peer-reviewed literature" have they published, so that Professor Powell can deny their “scientific credibility”?

 

Given Professor Powell's scientifically careful choice of words, "climate deniers" - an unspeakable and irrelevant allusion to "holocaust deniers"- are nothing less than nazis.

 

I do personally doubt of the credibility (scientific or not) of someone who denies the existence of climate. But in case there is one, I would like to know who such an exotic scientist might be. Just out of curiosity.

 

2.) The strongest picture on the post is a pie chart that reads: “24 reject global warming”.

 

Is that so? I know people who question the anthropogenic factors of global warming. At the moment, no one questions global warming itself.

 

Furthermore, there are scientists who do not believe in anthropogenic factors of global warming (based on CO2 emissions) and are not included in the 24 linked list. As for instance, Professor Tim Ball (Dep. of Climatology, Univ. of Winnipeg), Professor Paul Reiter (IPCC & Pasteur Institute), Professor Richard Lindzen (IPCC & M.I.T), Professor Patrick Michaels (Dep. of Environmental Sciences, Univ. of Virginia), Professor Philip Stott (Dep. of Biogeography, Univ. of London), Professor Syun-Ichi Akasofu (Director of International Arctic Research Center), or Professor John Christy (Univ. of Alabama in Huntsville & IPCC).

 

3.) Another picture on the post is a column chart showing the "number of global warming papers by year", since 1991 until 2012.

 

"The gold standard of science is the peer-reviewed literature", Powell states in the first paragraph. All along he refers to “peer-reviewed literature” and to “articles”. “Papers” and "articles" are not the same thing. Where do we stand? What are we talking about? Was it a misprint?

 

On the other hand, the post compares studies that point to "human-caused" factors of global warming with studies that "reject" them. So it would be interesting if the column chart had included the dates (years would be enough) in which both were published.

 

4.) Eventually, Professor James Lawrence Powell makes a series of purely speculative statements:

 

“Of one thing we can be certain: had any of these articles presented the magic bullet that falsifies human-caused global warming, that article would be on its way to becoming one of the most-cited in the history of science.”

 

“Within science, global warming denial has virtually no influence. Its influence is instead on a misguided media, politicians all-too-willing to deny science for their own gain, and a gullible public.”

 

I am not going to comment on these statements; by nature, they rule out serious criticism. They are merely a matter of opinion. They blatantly ignore the "gold standards of science" and they could be of interest only to another discipline.

 

publicado por Margarida Bentes Penedo às 15:45
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