Exmo. Senhor Anónimo:
Notei a V/ carta de 23 de Outubro pºpº, recebida anteontem, sobre o assunto em epígrafe [Necessidade de actualização do Comprovativo de Identidade e Assinatura].
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VV. Exªs têm o desplante de me notificar para comparecer num dos vossos balcões/lojas para o efeito de exibir o meu Cartão de Cidadão, que “se encontra expirado”. Ou seja, acham normal que vá perder tempo e dinheiro a um dos vossos estabelecimentos para o efeito de cumprir uma exigência meramente burocrática, ao abrigo de um diploma legal, a Lei 83/2017, cuja disposição pertinente não invocam (nem poderiam, tal disposição não existe).
Não se encontra o Cartão em apreço caducado, porque foi tempestivamente renovado. E do facto dei em devido tempo, porque me foi pedido, informação, esclarecendo que o número permanecia o mesmo. Acrescento agora que a minha assinatura continua igual, porque não fui entretanto vítima de qualquer acidente de índole vascular ou outra que me tivesse alterado a escrita, e que eu próprio guardo as feições com que tenho vivido desde a primeira e todas as várias vezes que perdi tempo com inutilidades no vosso balcão de Fafe.
Fui ler a lei que referem (em diagonal, que tem 191 artigos que só por si terão feito o ganha-pão de milhares de burocratas e parasitas sortidos), que se destina a combater o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo (o que bastava para considerar grotesca e até insultuosa a invocação de uma tal lei para me obrigar a incomodar-me para exibir um documento a um funcionário cujo tempo decerto poderia ser destinado a actividades mais úteis), e apenas encontrei um artº, o 23º, que remotamente poderiam invocar, quando reza, na alínea d): “Existam dúvidas sobre a veracidade ou a adequação dos dados de identificação dos clientes previamente obtidos”.
Claro que VV. Exªs não têm dúvidas, nem razão para a as ter, apenas inventaram uma maneira cómoda para os vossos serviços, e incómoda para os clientes, de passarem a imagem, imagino que para a entidade de supervisão, de grande empenho no referido combate.
Mas como pudicamente solicitam que que me desloque a um vosso balcão, mas logo a seguir formulam ameaças, e portanto o que estão a fazer é exigir, informo o seguinte:
Estou disponível, em qualquer dia e hora, para receber um funcionário vosso, na minha residência ou no meu local de trabalho, para lhe exibir o meu Cartão de Cidadão actual, exactamente igual ao anterior que serviu para abertura da conta, salvo na data de validade, que é agora 25/09/2022.
Recebam VV. Exªs, como habitual, de cumprimentos, quanto baste.
José xxxxx xxxxxxxx xx Meireles Graça.
CC nº xxxxxxxx
Contribuinte nº xxxxxxxxx
Travessa xx xxxx xxxxx, nº xxx, xxxx-xxx Guimarães.
Senhora xxxxx xxxxxxx:
Notei a carta de V. Exª da refª supra, com data de 12 de Outubro mas apenas hoje recebida, redigida na língua de pau a que já me habituou, e usando liberalmente da costumeira má-fé.
Com efeito:
O meu cartão de débito, que nunca perdi de vista, foi utilizado abusivamente, sem que a segurança que deve rodear a sua utilização a isso tenha obstado, por um “comerciante” que se recusam a identificar.
Donde eu concluo que VV. Exªs não contactaram verdadeiramente ninguém, não sabem do que estão a falar e tomam como prática normal da relação fornecedor/cliente a simples aldrabice.
Dos bancos antigos todos sabem o que pensar. Dos novos, pelo visto, é ingenuidade esperar que sejam um pouco melhores.
Passe V. Exª muito bem, que eu fico melhor graças a Deus.
Sou do tempo em que para meter gasolina se perdia pouco tempo, não se sujavam as mãos nem se poluía o ambiente com luvas de plástico jogadas fora. Bastava uma gorjeta modesta para o abastecedor, que fazia ele próprio o troco para contas que eram quase sempre redondas.
O salário mínimo eliminou os abastecedores; o dinheiro vivo foi substituído pelo plástico, em nome de uma comodidade o mais das vezes ilusória; e nas bombas o cidadão orgulhoso exibe a carteira com o estendal dos cartões com os quais o banco o esbulha e o Estado lhe controla os movimentos, enquanto entope a fila para declarar com cidadã satisfação o seu número de contribuinte e introduz o código na maquineta.
O sonho dos estatistas é aliás acabar com o dinheiro vivo. E tempos virão, e não estão longe, em que o funcionário enxerido saberá com rigor quantos cafés tomo pela manhã, e quantos maços de tabaco compro, até ao momento em que um fascista qualquer (pode ser o actual ministro da saúde, ou o anterior, ou o ominoso ex-secretário de Estado Leal da Costa, a liberdade tem poucos amigos) decida que o celebrado SNS não pode servir do mesmo modo quem cuida e quem não cuida adequadamente de si, por muito que os vícios já estejam carregados de impostos.
Na prática, não é possível viver sem um banco. Sei porque tentei. E até o pobre diabo que não tem mais do que a sua reforma acaba por ser forçado a ter uma conta, para não se expor a filas intermináveis para descontar o vale postal. Salvo se for cigano, caso em que as filas podem, como nos hospitais, ser ignoradas.
O Estado agradece. E o banco também, que pilha com naturalidade as contas à sua guarda sob os mais diversos pretextos, sob a atenta supervisão de farinha do mesmo saco, paga a peso de ouro.
Há poucos anos escolhi portanto um banco que não cobrasse comissões, no caso o banco CTT.
Até agora, não me cobrou nenhuma. E satisfeito estava até que um dia me apareceu um débito sob a designação PayPal Cherry China, portanto de uma organização que nunca usei, para pagar a uma firma que não conheço uma despesa que não fiz, com um cartão que nunca me saiu do bolso para aquele efeito.
O incidente deu origem a uma inacreditável saga. E amanhã, para este post não ficar demasiado longo, publicarei o último e-mail que, farto desta gente até aos olhos, dirigi à atrevida que me escreveu a recomendar-me que me dirigisse ao “comerciante em causa”, como se eu soubesse quem é.
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