O bom do Boaventura, catedrático em Achismo e empresário de inúmeros combatentes da revolução que tem no payroll e vai conseguindo espalhar pelo mundo, do parlamento ao governo portugueses, ao parlamento europeu, deu mais uma entrevista.
A um jornalista tão subserviente como qualquer ditador pode aspirar a ter a entrevistá-lo, daqueles cujas perguntas não fazem mais do que rasgar auto-estradas para o entrevistado ter o caminho livre de trânsito e de interrogações ou contraditório para expôr o brilho e a superioridade moral, inquestionados como se fossem inquestionáveis, do seu pensamento, abriu o coração e a boca para dizer as asneiras do costume baseadas nos lugares comuns do costume, as denúncias do capitalismo, do colonialismo e do patriarcado. O costume.
De tudo o que ele disse acharam por bem resumir a entrevista no título emblemático "A democracia nunca foi compatível com o capitalismo".
A ser verdade a tese, não haveria nenhuma democracia a funcionar em nenhum país onde o sistema económico em vigor seja o capitalismo.
Há alguma evidência empírica a questioná-la, nomeadamente o facto de nalguns países onde vigora como sistema económico o capitalismo vigorarem sistemas políticos que parecerem exibir algumas das características próprias da democracia, como a liberdade, ou as liberdades básicas próprias das democracias, a escolha e legitimação dos detentores circunstanciais dos orgãos de soberania através de eleições livres e universais, e um Estado de direito salvaguardado pelo princípio da separação dos poderes. Mas ela não foi questionada na entrevista.
Há mesmo alguma evidência empírica a sugerir que a democracia nunca foi compatível com qualquer sistema que não fosse o capitalismo, e certamente que não com o socialismo, como o facto de todos os regimes socialistas se terem rapidamente, sempre que não foi o seu ponto de partida, transformado em estados totalitários que negam aos cidadãos as liberdades mais básicas, com sistemas políticos de partido único, e sujeição de todos os poderes, nomeadamente o judicial, ao partido único. Mas esta evidência também não foi introduzida na discussão pelo entrevistador.
Para ser rigoroso, há-que reconhecer que em países que foram separados ao meio pelo jogo de xadrez geoestratégico entre o capitalismo e o socialismo, a metade socialista foi baptizada de "democrática" e a metade capitalista não. A Coreia socialista ainda se chama República Democrática Popular da Coreia e a capitalista simplesmente República da Coreia. A Alemanha socialista chamou-se República Democrática Alemã, e a capitalista República Federal Alemã. Neste sentido o entrevistado paraaece ter alguma lógca. Mas só doidos, que os há, e ele é um deles, eram ou são capazes de acreditar que esses países onde vigoravam ou vigoram sistemas de partido único sujeitos a censura férrea e vigiados por polícias políticas omnipresentes e omnipotentes eram ou são democracias, de modo que o nome de baptismo não constitui prova de democraticidade, e subsiste alguma, ou para dizer a verdade, toda a, evidência de que a democracia pode ser compatível com o capitalismo mas é incompatível com o socialismo.
Mas a asneira é livre, pelo menos nas democracias que funcionam em países com sistema económico capitalista, e certamente que na democracia portuguesa, que é uma delas, a defesa dos totalitarismos também, com excepção do facismo, cuja defesa ficou expressamente proibida no Ponto 4. do Artigo 46º da Constituição da República Portuguesa votada em 1976, e a negação dos crimes dos totalitarismos também, incluindo a dos crimes dos socialismos, com excepção do negacionismo do holocausto do nacional-socialismo alemão que é criminalizado em múltiplos países.
Pelo que as asneiras do Boaventura Sousa Santos não são novas, nem ilegais, nem ilegítimas, nem há mesmo nada a dizer sobre elas.
O que é mais interessante e digno de nota na entrevista não são as respostas. São as perguntas. É a subserviência do jornalista que se apaga como representante dos leitores para colocar ao entrevistado as questões, e o confrontar com as contradições, que eles gostavam que ele esclarecesse e se assume como representante do entrevistado que apenas lhe abre o caminho para debitar inquestionado o seu discurso, se presta a fazer entrevistas em estilo Dupont & Dupond que poderiam muito bem ser feitas na República Democrática Popular da Coreia aos seus queridos líderes sem trazer dissabores ao entrevistador.
E as perguntas são tão reveladoras do resultado da entrevista que vale a pena transcrevê-las sem necessidade de transcrever as respostas, que se intuem das perguntas sem grande risco de erro. Pelo que as transcrevo, acrescentando apenas excertos da resposta anterior quando as perguntas os citam implicitamente.
Deixo esta magnífico exemplo de entrevista a um querido líder socialista, mesmo que não seja líder de coisa nenhuma a não ser dos revolucionariozinhos de gabonete a quem dá emprego, que pode ser instrutivo para os que, por recearem, ou terem esperança, que venha aí o socialismo, e gostariam de enveredar pelo jornalismo numa futura democracia socialista, podem encontrar nos ensinamentos do jornalista Nuno Ramos de Almeida um verdadeiro guia para a sobrevivência profissional de jornalistas num regime socialista.
Boas aquisições de competências!
A madrassa com mais sucesso em Portugal é o Centro de Estudos Sociais da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra dirigido pelo conhecido académico das ciências sociais Boaventura Sousa Santos.
Uma das funções que a notabilizam é oferecer lugares de retaguarda como investigadores a políticos, sindicalistas, académicos e activistas do marxismo, dotando-os dos meios de subsistência, financiados pelos contribuintes, necessários para prosseguirem condignamente a revolução socialista quando secam os meios de subsistência, igualmente financiados pelos contribuintes, decorrentes dos lugares que ocasionalmente ocupam no sistema que combatem. E o CES tem os seus ilustres investigadores espalhados por instituições como o Parlamento, o Parlamento Europeu ou mesmo o Governo da República.
Mas uma madrassa não se limita a tornar mais confortável a vida material dos líderes para se poderem dedicar melhor à causa espiritual, tem um papel importante na radicalização de fiéis. O CES acolhe, e até oferece doutoramentos, a candidatos à radicalização, criaturinhas fracas de espírito e de carácter que acreditam na superioridade do seu credo, de estar no lado certo da história, que, para mostrar a sua fé inabalável na ditadura do proletariado, papagueiam para defender uma ditadura como a venezuelana as palavras de ordem do velho testamento marxista como "oposição de direita e extrema-direita", "suposto regime ditatorial", "carácter fascista e golpista da oposição", "episódios de violência instigados e executados por forças paramilitares organizadas pela direita", "oposição de oligarcas golpistas", e, claro, "imperialismo dos Estado Unidos da América", para além de uma algarviada que me abstenho de seguir, à uma, por falta de espaço, às duas, por falta de tempo, e às três, porque não tem ponta por onde se lhe pegue e não vale a pena continuar a gastar tinta, mesmo virtual, com ela. Com o toque modernaço de designar a imprensa que não está alinhada com eles como mainstream, modernidade que partilham, aliás, com a alt-right. Uma boa redacção no esquerda.net que junte todos estes ingredientes e que apoie solidamente outra recente do imã garante um lugar na academia ao candidato.
Qual é o segredo da sobrevivência destas madrassas? A Constituição da República Portuguesa que, por um erro estúpido decorrente do medo em que se vivia na época em que foi redigida, proibiu no nº 4 do Artigo 46º, não as organizações que perfilhem a ideologia totalitária, mas apenas as organizações que perfilhem a ideologia fascista, abrindo as portas da permissividade a todos os fascismos que têm outras designações e que esta e outras madrassas como ela defendem, nomeadamente o socialismo.
Na semana passada, O Público enviava este destaque no email da manhã:
"O Público hoje: E agora uma breve interrupção na política nacional: a entrevista a Yanis Varoufakis"
Notem bem: "interrupção na política nacional".
Que veio fazer Varoufakis a Portugal? Entre outras coisas grandiosas que disse numa intervenção com sala repleta e televisionada pela RTP, veio dizer:
Varoufakis veio fazer política nacional. Veio interferir tal como a esquerda internacional interferiu no processo grego pré e pós-referendo.
Obrigado, Boaventura. "Ninguém" percebe o que pretende e como usa a universidade e os nossos jovens para implementar a sua agenda pessoal comunista de venezuelização de Portugal.
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