Tem sido no facebook um sem-fim de piadas foleiras sobre o Beppe Grillo do Sporting, para o qual tenho dado com gosto o meu contributo. Bruno de Carvalho terá como dirigente desportivo bastantes qualidades e pessoalmente muitas, mas como figura pública tem uma que sobreleva as demais, que consiste em ser um cómico involuntário, a variedade que dá mais vontade de rir. O homem julga que aquele mundo da bola, em que vive, tem mais importância do que o Serviço Nacional de Saúde; o Sporting mais do que a Autoridade Tributária ou a Santa Casa; ele mais do que o procurador-geral da República; e as tricas em que não cessa de se enredar mais do que os sarilhos de que Trump não se consegue libertar.
Queria, o pobre, reformar o futebol, um mundo tradicionalmente corrupto, como se isso estivesse ao alcance de um chefe de claque, uma contradição tão patente como a de um comunista querer assegurar a liberdade de expressão para não-comunistas.
Não conseguiu, nem podia. A corrupção no futebol existe porque satisfaz necessidades: vende horas intermináveis de debate e a notoriedade de não-pessoas que, sem isso, seriam anónimas, além de quantidades invejáveis de jornais desportivos que sustentam uma miríade de jornalistas; engrandece dirigentes, que adquirem o estatuto equívoco de Al Capones de trazer por casa, porque se se desse o caso de serem sérios seriam trucidados como ingénuos; unta as mãos e alimenta as carreiras de figuras obscuras de empresários e facilitadores, quando não os próprios dirigentes; fornece uma desculpa, e confortáveis sentimentos de auto-compaixão, às massas de fãs de clubes menores, que não veem a caterva de jogadores preguiçosos e ineptos que recheiam o plantel da equipa da terra mas veem, porque para não ver precisavam de ser cegos, as arbitragens tendenciosas em favor dos três grandes; e reforça o sentimento tribal de pertença a um dos três clubes que inclinam tradicionalmente o campo a seu favor, e que por serem os com maiores recursos discutem entre si o campeonato, atribuindo-se a vitória a um deles consoante o sucesso das manobras que nos bastidores garantem em certas épocas árbitros amigos.
Previsivelmente, sportinguistas que noutras áreas da vida se portam com um módico de gravidade reagem como os católicos fanáticos quando se lhes goza o Papa, os economistas quando se lhes discute a ciência e as feministas quando se lhes põem reservas às quotas: ficam possessos. Um amigo, cordato e civilizado, destratou-me por ter dito, no Facebook, que
Os sócios do Sporting são cómicos: queixam-se da demência do demente que elegeram. Os socialistas que reelegeram Sócrates também se queixam da desonestidade dos políticos.
Não faz mal: uma das razões porque os adeptos vão ao futebol é porque nos estádios se podem comportar como selvagens, que ninguém leva a mal. E a paixão clubista, bem vistas as coisas, é uma desculpa muito melhor do que outras para a malcriadez: seria decerto um consolo saber, quando Costa insulta Cristas no Parlamento, que o faz por ser do Benfica, e não pela razão chã de ser simplesmente grosseiro e mal-educado.
Terei pena se Bruno for embora: o homem é o bruto mais simpático que conheço e escasseiam, no nosso país onde crianças cancerosas recebem quimioterapia em corredores gelados, motivos de galhofa. E a única consolação, e esperança, é que se fala, para o substituir, do bombeiro Marta, homem com a truculência bastante, o verbo inspirado e a grosseria q.b. para fazerem um digno sucessor. Milita a favor deste candidato ainda o facto de, sobre a sua especialidade, que são incêndios, não dizer praticamente senão asneiras, donde talvez os sportinguistas concluam que, de futebol, é capaz de entender alguma coisa.
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