Domingo, 19 de Junho de 2016

Em defesa da escola pública, mantenham o Mário Nogueira a tempo inteiro na Fenprof

Para quem é, bacalhau basta, mas...

Hoje, o ministro da Educação em exercício, o professor Mário Nogueira, demonstrou a maior das vantagens da existência da Fenprof: manter afastados da rede do ensino e do contacto com os alunos professores ignorantes, incompetentes e desonestos como ele, mesmo que, sendo requisitados ao ministério, os seus salários continuem a ser pagos pelo orçamento do Estado e a onerar os contribuintes.

E porquê especialmente hoje? Porque hoje, para além das lenga-lengas da retórica demagógica habitual, da defesa da escola pública à subsidio-dependência dos colégios privados, aventurou-se pelos números que, ao contrário da retórica, que é atestável por meras opiniões, são sindicáveis com factos.

E que números usou o Mário Nogueira? Os do Tribunal de Contas, entidade mais séria que ele e o seu sindicato, como ele próprio sublinhou no discurso, que, em 2012, publicou o relatório nº31/2012 "Apuramento do Custo Médio por Aluno" da auditoria realizada durante o ano de 2011, com referência ao ano escolar de 2009/2010, para responder à solicitação originada pela Resolução da Assembleia da República n.º 95/2011, de 28 de Abril.

E que números foi ele buscar ao relatório do Tribunal de Contas? O custo médio por aluno de todo o ensino público, do 1º Ciclo do Ensino Básico até ao Ensino Secundário, que é de 3.890€.

E esse número é comparável com o custo médio por aluno das turmas em colégios abrangidas por contratos de associação? Não, porque essas turmas não cobrem o 1º Ciclo do Ensino Básico. O custo médio por aluno nas escolas públicas nos níveis cobertos pelos contratos de associação, o 2º e 3º Ciclos do Ensino Básico e o Ensino Secundário, é de 4.648€

Já é mais elevado que o custo de 4.522€ que ele apresentou para os alunos de turmas abertas em colégios ao abrigo de contratos de associação. E como é que ele calculou este número? Como o custo de cada turma é de 80.500€, seria o custo médio por aluno se as turmas tivessem em média 17,8 alunos. Mas como a dimensão média das turmas destes ciclos é de cerca de 23 alunos, o custo médio por aluno nos colégios com contrato de associação é de 3.500€. Ou seja, cerca de 25% abaixo do custo dos alunos a frequentar as escolas públicas.

Ou por ignorância, ou por incompetência, ou por desonestidade, o Mário Nogueira partiu de dados reais para chegar a uma conclusão radicalmente oposta à realidade, que os alunos a frequentar colégios com contrato de associação custam mais 16% do que se estivessem em escolas públicas. Outro tema interessante, para uma discussão futura, que não aqui e agora, é ver um sindicato a defender a solução que, segundo os seus cálculos, fica mais barata, um indício de que os sindicatos não serão tão insensíveis como aparentam aos encantos do economicismo. Aprendam eles a fazer contas, e ainda os veremos um dia a defender o aumento do número de alunos por turma, ou dos horários dos professores, para poupar 16% aos contribuintes. Mas não aprendem, não vale a pena sonhar alto.

É verdade que, para a multidão acéfala e ululante que vai ouvir sindicalistas como ele nestas manifestações, mais de 80 mil almas segundo a aritmética dele, o dobro da manifestação dos amarelos, cerca de 15 mil segundo a da PSP, menos de metade da manifestação dos amarelos, a adesão dos números à realidade é completamente irrelevante. Não estão lá para pensar e analisar, estão lá para aplaudir e ecoar palavras de ordem.

Mas, para quem faz as contas, um aluno a frequentar o 2º ou 3º Ciclos do Ensino Básico ou o Ensino Secundário numa escola pública custa em média ao Orçamento de Estado 4.684€ por ano, mas custa apenas 3.500€ por ano se estiver a frequentar um colégio com contrato de associação.

Conclusões?

Cada aluno a frequentar o ensino público num colégio com contrato de associação custa em média menos 25% do que se estivesse a frequentar uma escola pública.

Uma boa medida de defesa da escola pública é manter o Mário Nogueira até à reforma a tempo inteiro na Fenprof, longe dos alunos, e esta medida vale bem o custo para os contribuintes do salário dele, que continua a ser pago pelo ministério.

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 00:57
link do post | comentar
Segunda-feira, 23 de Maio de 2016

Encarnados e amarelos

 

O sr. Daniel Oliveira escreveu e publicou um textinho no facebook a proclamar o seu sentimento sobre os contratos de associação. Passada uma hora* editou, aplicou-lhe uma expressiva facada, e voltou a publicar - sem qualquer nota, sem explicação. Como se estivesse assim, alterado, desde o princípio.

 

Porque é que alterou? Não sabemos, nem podemos ter a certeza. Mas entre uma versão e a outra está a resposta de Carlos Guimarães Pinto, no Insurgente.

 

Fica a história, para quem se interessar pelos processos da esquerda. Com as alterações “nas cores convencionais”: a encarnado o que o sr. Oliveira fez desaparecer; a amarelo o que acrescentou.

 

DO-Escolas-2016-05-23-Sublinhado.jpg

 

__________ 

 

Nota*: 

Não passou “uma hora”, mas sim 2 minutos. Hoje o facebook já dá horas concretas, ontem dava um arredondamento muito grosseiro. O post teve 4 edições, bastante seguidas (7 minutos da primeira à última). A grande facada aconteceu entre as 11:58 e as 12:00. O sr. Oliveira veio aqui protestar, com bons motivos, fica um agradecimento e a devida correcção.

(2016.05.24, às 14:31)

 

 

publicado por Margarida Bentes Penedo às 16:38
link do post | comentar | ver comentários (4)
Terça-feira, 10 de Maio de 2016

Equívocos

Ele tem as filhas numa escola privada mas, "se houvesse na minha zona de residência uma boa escola primária pública era lá que elas estavam".

 

Diz isto como quem faz uma original declaração de princípio mas coisa diferente não dirão os pais de todos os alunos que optaram pelo privado - só um imbecil é que opta por um bem mais caro quando tem outro igual mas mais barato à disposição.

 

Claro que o público não é na realidade mais barato - apenas quem paga são os pais todos, via impostos, quer tenham quer não tenham filhos em idade escolar, ou mesmo não tendo tido filhos, e não apenas ou sobretudo os pais dos utilizadores. E este é o primeiro equívoco - o de que o ensino em estabelecimentos privados é mais caro: só o é porque quem por ele opta paga duas vezes, como utilizador e como contribuinte. O que se sabe, contas bem feitas (isto é, incluindo todos os custos do Ministério da Educação e não apenas salários ou despesas arbitrariamente seleccionadas) é que o ensino privado é substancialmente mais barato.

 

Que o ensino seja público está muito bem: a educação básica é um bem público porque uma sociedade de cidadãos requer que se saiba ler, escrever, ter rudimentos de inglês, contar e raciocinar, que se conheça o mundo físico que nos rodeia e se tenha algum conhecimento de História e Geografia - tudo coisas que a escolaridade obrigatória, aliás, não garante, mas deveria garantir se a qualidade pedagógica fosse outra.

 

Mas há aqui um segundo equívoco, que é o de que ensino público e propriedade pública do estabelecimento são uma e a mesma coisa. Aos sindicatos, aos políticos, aos professores com vínculo, convém esta confusão, porque o poder dos sindicatos fica estilhaçado se os estabelecimentos tiverem múltiplos patrões e puderem, ao contrário do Estado, falir; aos políticos o poder fica cerceado se não puderem fixar quadros de pessoal, nomear direcções, decidir obras, contratar boys para lugares de direcção de um imenso aparelho burocrático; e aos professores convém uma autoridade distante, não um patrão cheio de idiossincrasias, das quais a mais saliente será normalmente a de querer agradar a quem lhe paga, que são os pais dos alunos.

 

Dois equívocos já são uma boa conta, mas há mais: diz-se, e é em muitos casos verdade, que os pais, na realidade, querem que os filhos passem de ano - a qualidade consiste na passagem em si, não no que os meninos sabem ou deixem de saber. Donde, a garantia da qualidade não é o que motiva o recurso ao ensino privado, que só a independência do estabelecimento público assegura. Mas os estabelecimentos privados figuram bem - melhor, geralmente - do que os públicos nos rankings, donde o argumento não convence.

 

Acrescenta-se que os estabelecimentos privados seleccionam os alunos, descartando os lerdos, ou troublemakers, porque fariam baixar as médias. Casos? Inspecções que detectem, e punam, a segregação? Bem, não há - cada qual diz o que quer.

 

E que os meninos que podem pagar o colégio são oriundos de meios socioeconómicos mais desafogados, pelo que têm acesso a bens culturais em casa que os avantajam. Será. Mas é preciso confiar na ganância do privado: se houvesse muito mais alunos que pudessem pagar podemos estar certo de que seriam acolhidos - nunca se viu um mercado que exista mas não surjam fornecedores para o satisfazer, se o puderem fazer com ganho.

 

Insinua-se ainda que a verdadeira razão pela qual se expandiram os casos de contratos de associação tinha mais a ver com gordas sinecuras para gente do PSD e do PS, proprietários de colégios, e menos com as carências do aparelho escolar aqui ou ali. Não duvido que haverá situações: podemos ter a certeza, quando visitamos uma casa e vemos um rato, que aquela casa não tem um rato mas ratos; e que quando haja dinheiros públicos associados a decisões discricionárias a corrupção aparece - o que vemos é sempre menos do que o que existe. Mas a pedra de toque da corrupção é o Poder combinado com a discricionariedade - o Estado, quase sempre. E não se pode combater a corrupção com mais Estado - ou acaso os milhões absurdos do Parque Escolar são uma história inocente?

 

Resta que a solução para este imbróglio já foi inventada e é o cheque-ensino. Mas não vai ver a luz do dia, entre muitas razões, por duas principais:

 

Uma é o medo. O medo de que as nossas criancinhas não sejam formatadas na laicidade mas numa catequização qualquer: católica antes de mais, de outras denominações também no futuro. É um medo razoável: com graus diferentes de intensidade, todas as igrejas querem, e é natural que queiram, que os comportamentos, e as leis civis e penais, traduzam a sua visão do mundo. Para quem, como eu, entende que a separação entre Igreja e Estado é um avanço civilizacional e que as convicções religiosas são do foro familiar e íntimo, não são matéria que deva ter uma relevância indevida no sistema público de ensino, a entrega acéfala a quem está equipado com os meios e a vontade para regressar a uma escola retrógrada só poderia fazer-se com cuidados acrescidos - que são conhecidos e viáveis. A tolerância é algo que se aprende, pratica e foi imposto, onde foi, às igrejas - não é algo que estas tenham imposto a si próprias, mesmo que tenham evoluído, como evoluíram, muito (nem todas: o Islão, por razões que não cabem aqui, é ainda medieval).

 

A outra é ideológica: a Esquerda, com excepção dos fósseis do PCP e dos seus primos que se imaginam modernos do BE, já aprendeu que a propriedade colectiva dos meios de produção não garante senão a miséria; mas ainda não percebeu que alguns bens que o Iluminismo criou, como a escola pública, ou outros que o Estado Social inventou, como a Saúde, são mais bem assegurados por concessão a privados do que por propriedade pública.

 

Como se vai resolver, então, o diferendo com os colégios a que o governo quer cortar as asas do financiamento?

 

Vai resolver-se da forma que hoje se resolvem em Portugal todos os problemas: com uma avaliação da relação de forças e, se necessário, com uma mistura de promessas e cedências. A Europa, desta vez, não está, como esteve no Orçamento e continua na sua execução, envolvida. Quem está é o PCP, representado pela FENPROF e o seu funcionário destacado para as funções de ministro da Educação; os professores prejudicados e os sócios socialistas de colégios; os pais aflitos; e o impacto que a barulheira possa ter na opinião pública, na medida em que seja possível calcular se se perdem ou ganham votos.

 

Costa fará o cálculo e a escolha. Porque o interesse público hoje é isto: é de interesse público tudo o que contribua para a sobrevivência da untuosa barrica ambiciosa que com a sua clique raptou o Poder; e não é tudo o que o prejudique no seu equilibrismo. A comunicação social e os politólogos chamam a isto, com discernimento, habilidade política.

 

E o jornalista que, contrariado, botou as suas meninas num colégio, como é que fica? Ele próprio diz: "É por ideologia que defendo a escola pública. Na verdade, eu é que não tenho verdadeira liberdade de escolha. Se tivesse, escolhia a escola pública. É por isso que o que faz falta é aumentar o investimento, para que toda a escola pública seja boa".

 

Ao fim de três bancarrotas; dos incontáveis milhões que nos entraram pela porta desde 1986, para nos modernizarmos; apesar de uma dívida que nunca, em momento algum da nossa história, foi tão alta, e não cessa de crescer; quando o contribuinte sufoca, exangue, ao peso de uma carga, e de abusos, demenciais: ainda há quem defenda mais investimento público.

 

Aos comunistas perdoo - quanto pior melhor, acham eles, e acharia eu se fosse comunista. Aos outros tenho dificuldade, sobretudo quando se trate de pessoas que circulem no espaço público pregando o evangelho - do disparate.

publicado por José Meireles Graça às 11:57
link do post | comentar | ver comentários (1)

Pesquisar neste blog

 

Autores

Posts mais comentados

4 comentários
1 comentário

Últimos comentários

https://www.aromaeasy.com/product-category/bulk-es...
E depois queixam-se do Chega...Não acreditam no qu...
Boa tarde, pode-me dizer qual é o seguro que tem??...
Gostei do seu artigo
Até onde eu sei essa doença não e mortal ainda mai...

Arquivos

Janeiro 2020

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Agosto 2018

Julho 2018

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Novembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Agosto 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Links

Tags

25 de abril

5dias

adse

ambiente

angola

antónio costa

arquitectura

austeridade

banca

banco de portugal

banif

be

bes

bloco de esquerda

blogs

brexit

carlos costa

cartão de cidadão

catarina martins

causas

cavaco silva

cds

censura

cgd

cgtp

comentadores

cortes

crise

cultura

daniel oliveira

deficit

desigualdade

dívida

educação

eleições europeias

ensino

esquerda

estado social

ética

euro

europa

férias

fernando leal da costa

fiscalidade

francisco louçã

gnr

grécia

greve

impostos

irs

itália

jornalismo

josé sócrates

justiça

lisboa

manifestação

marcelo

marcelo rebelo de sousa

mariana mortágua

mário centeno

mário nogueira

mário soares

mba

obama

oe 2017

orçamento

pacheco pereira

partido socialista

passos coelho

paulo portas

pcp

pedro passos coelho

populismo

portugal

ps

psd

público

quadratura do círculo

raquel varela

renzi

rtp

rui rio

salário mínimo

sampaio da nóvoa

saúde

sns

socialismo

socialista

sócrates

syriza

tabaco

tap

tribunal constitucional

trump

ue

união europeia

vasco pulido valente

venezuela

vital moreira

vítor gaspar

todas as tags

blogs SAPO

subscrever feeds