Agora que estamos aqui em privado a esta hora tardia, aproveito para vos fazer uma confissão: ainda não percebi bem para que serve a Web Summit.
Já percebi que é um evento, coisa para cujo acolhimento agora parece que estamos especialmente vocacionados, eventos e hotéis de charme para hospedar os participantes, onde toda a gente quer estar, de políticos a figuras do show-business e do desporto, de jornalistas a presidentes executivos, de investidores a empreendedores, de sectores tecnológicos mas também do retalho, construção, escritórios de advogados e agricultura. Andei a documentar-me. Uma coisa assim do tipo quem não vai fica apeado, como foi em tempos o TGV.
Já percebi que as entradas custam 700 euros mas também podem custar 5.100, ainda mais caro que ir ver os três tenores ao Pavilhão Atlântico, o que com 50 mil visitantes rende uma pipa de massa, e que há gente mortinha por arranjar uma e se traficam no mercado negro graças à iniciativa Inspire Portugal de os organizadores venderem, por sugestão do António Costa, 2.016 bilhetes por dia a 1% do preço a jovens realmente empreendedores que depois os revendem no Facebook a quem dá mais.
Já percebi que é uma conferência modernaça, com oradores de t-shirt ou camisola de gola alta a passear wireless pelo palco com microfone na orelha e tablet na mão, assim um bocado no estilo das missas da IURD ou dos concertos dos Rolling Stones.
Para que serve ao certo, e porque é que se paga tanto dinheiro pelas entradas é que não consigo perceber? Uma espécie de bilhetes para o céu levado à cena num teatro?
Mas mantenham alguma reserva sobre esta minha ignorância, que se os comunistas descobrem ainda vêm para aqui chamar-me cretino da direita ou, pior ainda, antiquado.
Já sabemos que a luta é a Fenprof que a determina, não os cretinos da direita.
Mas os cretinos da direita têm limitações, cognitivas, ainda mais graves.
Quando colocados perante a evidência de em 2015 terem emigrado menos 18,5% portugueses e de terem imigrado mais 53,2%, entre estrangeiros que entraram e portugueses que regressaram, do que em 2014, em que por sua vez já tinham emigrado menos e imigrado mais do que em 2013, são capazes de distorcer as conclusões que é lícito tirar do facto para admitir que era a economia a retomar gradualmente a sua capacidade de reter mais portugueses e acolher mais estrangeiros. A esboçar o crescimento.
Nada de mais errado, e o jornal Público, como lhe é clássico, foi consultar "investigadores" em ciências sociais capazes de desfazer essas perniciosas impressões antes de elas contaminarem e enganarem a opinião pública com a impressão viral que a crise já estava a ser resolvida ainda durante a legislatura anterior.
O que aconteceu então?
O antropólogo Jorge Malheiros, visita frequente do esquerda.net, onde já tinha prognosticado no início de 2014 que a inversão do surto de emigração que então se verificava só seria possível com a criação de emprego estável, explicou agora que a emigração não se reduziu em 2014, e de novo em 2015, pela melhoria da economia do país, mas por um certo capital de esperança criado em 2016 pela reposição dos salários na função pública, que como toda a gente sabe era a maior vítima da sangria da emigração, em 2017 pelo aumento do salário mínimo para 557 euros, e em ambos os anos pelo aumento dos impostos indirectos. Só de antecipar estas medidas, os portugueses começaram em 2014 e 2015 a refrear a sua vontade de emigrar. Em que manicómio investiga este "investigador"? No Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa. Pago por todos nós.
A pimenta subiu-lhe ao bigode, ao sindicalista Mário Nogueira, por andar a ser desafiado para aparecer em vez de continuar a ser um sindicalista cordeirinho que cala e consente tudo o que nos chega deste governo em matéria de educação.
E ele continua sem aparecer, tal e qual os dirigentes da antiga União Soviética desapareciam nas semanas ou meses antes de ser anunciada a sua substituição, muitas vezes por ponderosos motivos de saúde que o partido mantinha em discrição* para não distrair o povo, mas agora mandou um recado, e, e isto prova que é mesmo ele o genuíno autor do texto, no seu habitual estilo elevado que prova que, ao contrário do que os cretinos da direita, os dirigentes, deputados, comentadores ou jornalistas que servem quem durante quatro anos tanto castigou os portugueses têm a mania de sugerir, ele é mesmo um Professor, e com P maiúsculo, que podemos perfeitamente imaginar a dar às nossas crianças lições sobre as grandes realizações do socialismo soviético ou sobre os crimes do imperialismo neoconservador ianque.
A única coisa que os cretinos da direita afinal conseguiram acertar foi mesmo no facto de ele ter desaparecido por em menos de um ano, o ministro da Educação já ter recebido mais vezes a FENPROF do que Crato em todo o mandato, ou seja, por o ministro ser um fantoche da Fenprof. Aliás, o motivo exacto pelo qual o desafiam a aparecer em vez de calar e consentir, mesmo sabendo que o apelo nunca vai resultar.
Nada mal para cretinos...
* Ressalva: corrigido por simpática chamada de atenção do camarada Aristides na caixa de comentários
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