O Reino Unido tem para a troca um primeiro-ministro que vinha de férias a Aljezur, viajava na Easy-Jet, e ganhou todas as eleições a que concorreu desde que começou a liderar o seu partido, mas se demitiu por ter perdido um referendo. Moço bem parecido, mesmo de t-shirt, calções e mocassins, e europeísta convicto, mas que nunca cedeu um cêntimo dos contribuintes britânicos à voracidade da máquina de gastar dinheiro de Bruxelas.
Portugal, em troca, ganhou um primeiro-ministro que passa a vida em Paris como emplastro da Selecção, viaja de Falcon, perdeu todas as eleições a que concorreu desde que lidera o partido, e só sai se for corrido à paulada. Moço burgesso, mesmo de casaquinho de basebol no banco de trás de um Falcon, fala grosso sobre Bruxelas e tem na manga a interpretação inteligente dos tratados, mas acaba por comer tudo o que põem no prato.
Hoje foi um bom dia: o regresso aos mercados tem sido denunciado, desacreditado, desmontado com mais ou menos eficiência e convicção por toda a esquerda, sem uma única voz dissonante. É portanto uma coisa boa, e digo-o sem ironia.
Lendo os especialistas fica-se com uma grande dor de cabeça por causa dos prazos, dos spreads, dos yelds, do mercado primário, do secundário, das taxas, da tomada firme, dos hedge funds e dos outros funds que não são hedge. Não interessa: o céu de chumbo teve uma aberta e passou por ela um raio de Sol. E como a economia também vive de expectativas e de confiança, chapeau Gaspar! - bem jogado.
Claro que uma taxa de juro superior à da troika, cujo empréstimo tem um prazo de 11 ou 12 anos, e às taxas a que se financiam economias que não estão em recessão, só parece aliciante pelo contraste com o passado recente e o sinal de inversão de tendência; e que nada faz sentido sem o regresso do crescimento e a diminuição da dívida pública, sobre a qual as novidades são descoroçoantes. Mas, num dia de festa, abrir a boca faz sobretudo sentido para por ela despejar o champanhe.
E mais ainda quando esta não foi a única boa notícia do dia: o anúncio de Cameron, se não derrama pelos corações dos Portugueses que ligam a estas coisas nenhuma particular alegria, e pelo contrário é fonte de alguma consternação, é para este Português motivo reforçado para, hoje, não poder conduzir: pode ser o princípio do fim do pesadelo concentracionário que pacientemente vem sendo construído desde Maastricht e o Euro. E que isto não é apenas uma possibilidade teórica é confirmado pela reacção desta personagem ilustre.
Sai mais uma taça.
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