Quinta-feira, 23 de Fevereiro de 2017

A correlação entre conveniência do segredo e a tendência para a trafulhice

Até a CIA desclassifica os seus documentos ao fim de algumas décadas, e os documentos da CIA referem-se a façanhas como assassinar políticos e pessoas normais, promover golpes de estado para derrubar governos democraticamente eleitos, inventar ficções para pretextar a proclamação de guerras que fazem milhares de vítimas, financiar grupos terroristas para fustigarem os inimigos estratégicos dos EUA, até para protegerem a discrição dos engates dos presidentes, uma galeria de horrores, coisas cada qual mais indigna que a outra cometidas em nome, nem sempre com sustentação real, do interesse nacional.  Ao fim de algumas décadas, não tão poucas que ponham em causa a eficácia das operações desclassificadas, não tantas que os participantes não corram o risco de virem a ser sujeitos ao vexame público por ainda estarem vivos, estão cá fora. Coisas de democracias maduras, em que se conciliam a necessidade de eficácia da acção do Estado que, por vezes, depende do segredo, com a de transparência do Estado perante os cidadãos, para saberem como são governados pelos seus representamtes, que necessita de publicidade.

Não em Portugal.

2017-02-23 Carlos César - Cavaco.jpg

Em Portugal, a publicação de um livro de memórias por um ex-presidente em que revela conversas privadas com um ex-primeiro-ministro, como se as conversas entre orgãos de soberania fossem um assunto privado e, portanto, isento de escrutínio público, e o jeito que não dá a isenção do escrutínio público? é um escândalo, uma delação intriguista, e é preciso perceber o significado de delação para quem ainda viveu, nem que tenha sido a infância e a juventude, num regime político que recorria à delação para manter um monopólio da representação que, como os monopólios económicos, promove o bem-estar dos monopolistas à custa do bem-estar do país, ou os interesses privados à custa do interesse público. E o apelo ao segredo é tanto mais intenso quanto os participantes nas conversas têm intervenções que prefeririam manter em segredo a ver reveladas. É até clássica uma definição de ética que consiste mais ou menos em fazer, mesmo em privado, o mesmo que se faria se o que se faz fosse tornado público. Quanto menos éticos, mais os participantes se sentem ofendidos com as revelações de conversas privadas entre orgãos de soberania, públicos, mas que gostariam de ser isentos do escrutínio público, e mais facilmente acusam o divulgador de falha ética.

Como dizem os minhotos, eu eu tenho sido aqui menos minhoto do que sou geneticamente e por coração, o caralhinho que os foda!

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 23:22
link do post | comentar | ver comentários (1)
Terça-feira, 30 de Abril de 2013

A Itália tem novo governo de defesa dos partidos

 

Na imagem, o "Onorevole" Maurizio Gasparri do PDL partido de Berlusconi, à entrada do parlamento durante a eleição do novo presidente da república italiana, “saúda” os simpatizantes do Movimento 5 Estrelas.

 

Pois é, a Itália tem um novo governo que segundo li em certos blogs e jornais portugueses é reconhecido como um “governo de união nacional”. Nada mais erróneo. O novo governo é a solução de recurso do PD e do PDL de Berlusconi para conter com uma almofada de tempo a evolução perigosa do Movimento 5 Estrelas. Como eleições agora representavam para aqueles partidos um risco demasiado grande de vitória de Grillo que ainda é o primeiro partido nas intenções de voto, os dois antagonistas crónicos resolveram criar um “governissimo” como aqui se diz.

 

As fragilidades são enormes e as dissensões já começaram com alguns ministros a dizerem que a retirada do imposto IMU (correspondente ao português IMI) não era possível na totalidade. Berlusconi diz que ou é cancelado o imposto como prometido por Enrico Letta (o novo primeiro-ministro) ou o PDL não apoia o governo e retira os seus ministros.

 

É evidente que é um governo de recurso, nascido apenas com o propósito de aguentar a situação e que será incapaz de reformar o que quer que seja. Tudo normal para a Itália portanto. 

publicado por João Pereira da Silva às 13:04
link do post | comentar
Quinta-feira, 11 de Abril de 2013

Democracia ou partidocracia?

 

Prepara-se uma situação que permita o controlo da evolução do contexto político favorável aos partidos dominantes em Itália, excluindo da decisão as forças refomistas internas ao Partido Democrático e do Movimento 5 Estrelas de Beppe Grillo. Eis a resposta que Bersani do Partido Democático e Berlusconi preparam:

 

O presidente da república italiana não é escolhido por voto directo popular. É indicado pelos partidos e votado pelas câmaras. Não obstante o défice de representação que poderíamos assumir, tem imenso poder no regime: deve assinar cada lei do governo, pode demitir o governo, pode nomear um governo de iniciativa presidencial (como fez com Monti) e tem um poder informal muito determinante na génerica balbúrdia que é a política italiana.

 

Como aos partidos do arco não interessa eleições antecipadas pois Grillo e Renzi estão no horizonte como potenciais vencedores, aqueles optam por nomear o seu presidente, um "gerador de consensos e garante da estabilidade" que permita no próximo futuro uma solução de estabilidade que interesse às cliques do PD e do partido de Berlusconi. O interesse dos eleitores? Fica para segundo plano. - Uma situação que não pode acabar bem.

 

A negociação já começou e os nomes começam a rolar: Massimo D'Alema, Romano Prodi, Emma Bonino e outros. Assim que houver desenvolvimentos volto aqui. 

publicado por João Pereira da Silva às 16:16
link do post | comentar | ver comentários (1)

Pesquisar neste blog

 

Autores

Posts mais comentados

Últimos comentários

https://www.aromaeasy.com/product-category/bulk-es...
E depois queixam-se do Chega...Não acreditam no qu...
Boa tarde, pode-me dizer qual é o seguro que tem??...
Gostei do seu artigo
Até onde eu sei essa doença não e mortal ainda mai...

Arquivos

Janeiro 2020

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Agosto 2018

Julho 2018

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Novembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Agosto 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Links

Tags

25 de abril

5dias

adse

ambiente

angola

antónio costa

arquitectura

austeridade

banca

banco de portugal

banif

be

bes

bloco de esquerda

blogs

brexit

carlos costa

cartão de cidadão

catarina martins

causas

cavaco silva

cds

censura

cgd

cgtp

comentadores

cortes

crise

cultura

daniel oliveira

deficit

desigualdade

dívida

educação

eleições europeias

ensino

esquerda

estado social

ética

euro

europa

férias

fernando leal da costa

fiscalidade

francisco louçã

gnr

grécia

greve

impostos

irs

itália

jornalismo

josé sócrates

justiça

lisboa

manifestação

marcelo

marcelo rebelo de sousa

mariana mortágua

mário centeno

mário nogueira

mário soares

mba

obama

oe 2017

orçamento

pacheco pereira

partido socialista

passos coelho

paulo portas

pcp

pedro passos coelho

populismo

portugal

ps

psd

público

quadratura do círculo

raquel varela

renzi

rtp

rui rio

salário mínimo

sampaio da nóvoa

saúde

sns

socialismo

socialista

sócrates

syriza

tabaco

tap

tribunal constitucional

trump

ue

união europeia

vasco pulido valente

venezuela

vital moreira

vítor gaspar

todas as tags

blogs SAPO

subscrever feeds