Desta vez o Partido Socialista não adormeceu na fila e apresentou-se a eleições com mais do que a habitual retórica de primeiro as pessoas, da modernidade, da economia digital, ou da economia verde, que desta vez complementou com o Cenário Macroeconómico preparado por uma equipa de doze sábios que garantiu a fundamentação científica do seu programa eleitoral. Crescimento, desemprego, deficit, dívida, tudo garantido com base em científicas folhas de cálculo preparadas em Word. Como garantida ficou a possibilidade substituir a austeridade pelo crescimento económico. Multiplicador do retorno de cada euro de rendimento devolvido aos portugueses em receita fiscal resultante do crescimento económico proporcionado por esse euro? Quatro. Quatro euros de retorno fiscal por cada euro devolvido aos portugueses. Não me venham falar do milagre dos pães, nem da Rainha Santa! Pela primeira vez em Portugal, estamos, não ainda a caminho do socialismo, mas já no verdadeiro Socialismo Científico.
Chegados aqui, vale a pena fazermos a título de parêntesis uma breve reflexão sobre o Socialismo Científico, uma coisa leve que não lhe questione demasiado o rigor analítico e ético nem chateie os apontadores de herejes. Nunca ninguém conseguirá perceber o que é realmente o socialismo científico sem ver este extraordinário e encantador filme cubano sobre Cuba, que mostra como é que a coisa funciona na prática, além de fazer a comparação entre o ensino do Socialismo Científico e o da Economia de Mercado. Mil vezes, recomendo.
Posto isto, passemos ao caso português do Socialismo Científico.
A receita?
Só que o mundo continuou a andar à roda e, para atalhar razões, devolveram-se os rendimentos aos portugueses mas a economia não cresceu. Como anunciou o próprio presidente do partido do governo, "É possível que as nossas previsões não se venham a confirmar". Uma possibilidade remota, mas garantida. Não aconteceu o que o Cenário Macroeconómico tinha garantido que aconteceria. O Socialismo Científico falhou. Num aparte, toda a gente com dois dedos de testa sabia que iria falhar, mas isso agora não vem ao caso.
Falhada a primeira receita, qual é a nova receita?
A receita parece a mesma, mas é completamente diferente. Devolver rendimentos aos portugueses era a receita do Socialismo Científico, enquanto devolver rendimentos aos portugueses é a receita do Humanismo Socialista.
A sério? Não sejamos parvos. A receita é a mesma, e será sempre a mesma, e o seu verdadeiro desígnio é.
Por enquanto tem resultado bem. Quando a factura aparecer aos portugueses, porque os multiplicadores são negativos e são eles que a vão pagar, logo se verá?
Blogs
Adeptos da Concorrência Imperfeita
Com jornalismo assim, quem precisa de censura?
DêDêTê (Desconfia dele também...)
Momentos económicos... e não só
O MacGuffin (aka Contra a Corrente)
Os Três Dês do Acordo Ortográfico
Leituras
Ambrose Evans-Pritchard (The Telegraph)
Rodrigo Gurgel (até 4 Fev. 2015)
Jornais