E se as eleições fossem hoje?
Como muito bem sublinhou BZ n' O Insurgente, se as eleições fossem hoje algo teria que ter corrido suficientemente mal na coligação de esquerda que sustenta o governo para o parlamento ter sido dissolvido por um presidente que se desfaz em manifestações de afecto pelo governo e ferroadas à oposição.
E algo pelo qual dificilmente a oposição pudesse ser responsabilizada já que, ao contrário do que exigiu o António Costa, e não só, a partir do momento em que atirou com o António José Seguro pela borda fora do partido, e apesar de o Pedro Passos Coelho continuar a usar na lapela um pin com a bandeira de Portugal, o que é por muitos interpretado como tendo a ilusão que ainda é primeiro-ministro, não tem feito qualquer apelo ao presidente para dissolver o parlamento antes do final da legislatura e antecipar eleições, nem qualquer apelo dessa natureza pareceria ter alguma probabilidade de acolhimento pelo presidente. Nem a lendária habilidade da propaganda populista desresponsabilizante dos socialistas, que chega ao ponto de justificar o falhanço do modelo económico do crescimento baseado na devolução dos rendimentos, explicando que o modelo não falhou mas os rendimentos devolvidos foram desviados para pagar as dívidas a que as famílias tiveram que recorrer para se aguentaram ao longo da crise da legislatura anterior, conseguiria apontar responsabilidades convincentes ao governo anterior e à oposição actual para um falhanço que desencadeasse uma crise política, embora certamente ensaiasse explicações pouco convincentes, como faz sempre.
Nesse contexto, se as eleições fossem hoje é natural que o PS levasse uma sova eleitoral, e não o resultado prometedor de 43%, quase a rondar a maioria absoluta, que a sondagem da insuspeita Universidade Católica divulgada esta semana lhe atribui, e que os inquiridos não tenham respondido de modo literal à pergunta "Se neste momento se realizassem eleições legislativas em que partido votaria?", mas antes manifestado a sua intenção de voto futura quando elas se realizarem, expectavelmente daqui a três anos.
E se as eleições fossem hoje daqui a um ano?
Neste caso, em que as eleições seriam suficientemente afastadas para as respostas não estarem contaminadas por um cenário de crise política iminente, mas suficientemente próximas para os inquiridos serem capazes de formular uma previsão realista da sua intenção de voto futura, já parece ser mais adequado inferir previsões a partir dos resultados das sondagens.
E de facto há um histórico significativo de sondagens da Universidade Católica realizadas um ano antes de eleições.
Um ano antes das eleições de 2011, a sondagem da Universidade Católica previa um resultado de 41% para o PS. O PS acabou por obter um resultado de 28%, apenas menos 13% que a previsão da sondagem.
Um ano antes das de 2015, previa um resultado de 45%. O PS acabou por obter um resultado de 32%, outra vez não mais do que 13% abaixo da previsão da sondagem.
Agora a sondagem prevê-lhe um resultado de 43%. O PS está, pois, à beira da maioria absoluta.
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