Francisco Louçã ganhou as eleições na Grécia e os comunistas, que o desprezam, gabaram-lhe o feito; Costa, que o acha pouco credível na Europa, e demasiado radical nas medidas para a economia, também. Catarina Martins, a excelente menina que por razões obscuras lidera o BE, essa, delirou - compreensivelmente.
A esquerda existe, e o PS faz parte dela, mesmo que os comunistas gostem de acreditar, e dizer, que não. Não é novidade (os comunistas já votaram em Soares, ainda que tapando o nariz, quando tiveram que escolher entre ele e a direita fássista, de cuja pertença Soares foi naquela maré desonerado) mas a reacção às eleições veio separar as águas e recordar-nos que se o centrão é suficientemente confuso para haver gente que está no PSD que poderia estar no PS, e reciprocamente, os dois partidos não são iguais.
Isto é bom. Há um nós e há um eles. E confirma para todos os bem-pensantes que sonham com blocos centrais que não apenas o PS não aprendeu nada com as três falências pelas quais é responsável mas também, se puder, tomará providências para conquistar uma quarta.
Porque o programa do Syriza, no que toca a medidas económicas e sociais, é um delírio (suspensão de pagamentos, renegociação de juros, aumento de impostos sobre empresas, utilização dos edifícios do Estado, bancos e Igreja para albergar sem-abrigo, cuidados de saúde grátis para certas categorias da população, investimento público, aumento do salário mínimo para 750 Euros, e um longo etc.). Ora, não é razoável deixar de ver que o eleitorado grego pode, por puro desespero, ter optado por caminhos que conduzem fatalmente ou à traição das promessas ou à saída do Euro. Mas partidos portugueses responsáveis, que não estão sob a pressão da desesperada situação grega, têm a obrigação, excepto o PCP e os lunáticos do BE, de ver que o programa do Syriza implica que, no resto da Europa, vigore também aquele tipo de solidariedade que consiste em dizer: sustentem-nos, se querem que o Euro não vá ao ar.
O PS, com austeridades, não quer nada. E Costa só não se comprometeu ainda senão com algumas das muitas benesses com que está disposto a acenar para comprar votos porque não tem a certeza se a Europa vai bancar.
Até pode ser que a burocracia europeia compre, numa versão edulcorada, a chantagem do Syriza. Mas tarde ou cedo os eleitorados dos países pagantes darão um murro na mesa. E convém lembrar que se o Syriza teve uma subida meteórica, e o Podemos é a coqueluche para lá de Badajoz, também o AfD pode um dia ganhar.
Costa, coitado, ficou encantado com a Facilitação Quantitativa (os senhores economistas, que eu saiba, ainda não inventaram uma tradução para o acrónimo QE, por isso adianto-me) sem se dar conta que a maior parte da dívida pública portuguesa parqueada no BCE se destina a ser transferida para o BdP, tal como a maior parte de dívida nova.
Por outro lado, a dívida grega pertence agora aos eleitores europeus (nós detemos entre 1,1 e três mil milhões de Euros, não tenho pachorra para apurar o número certo), dado que os bancos já tiraram o cavalo da chuva.
Portanto, se a lógica não for uma batata, o que hoje tanta gente celebra pode ser, de uma maneira ou outra, o fim do Euro.
Eu só não celebro porque o futuro tem uma inclinação excessivamente marcada para ser imprevisível; e porque, mesmo que os Gregos sejam vítimas das escolhas que fizeram, e a luz que julgam ver no fim do clássico túnel não seja mais do que outra clássica locomotiva, não nos devemos regozijar com o mal dos outros - até porque pode ser também o nosso.
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