Terça-feira, 2 de Outubro de 2018

Um programa económico de governação socialista

De acordo com alguns autores, o melhor que temos na Europa para nos proteger dos socialistas e da sua voragem pelo despesismo eleitoralista e irresponsável que conduz inevitavelmente ao abismo financeiro e do seu fascismo normalizador politicamente correcto são os movimentos, e tenho alguma dificuldade em baptizá-los porque os populistas dizem que não existe populismo, a extrema-direita diz que não há extrema-direita, os nacionalistas dizem que não há nacionalismo, e todos dizem que quem usa esses qualificativos para os designar é socialista ou idiota útil do socialismo, mas chamemos-lhes, sem grandes preocupações de rigor e mesmo que não sejam, apenas por uma questão de dar a entender claramente de quem estamos a falar como se usássemos uma alcunha conhecida em vez do nome verdadeiro que nem toda a gente conhece, populistas de extrema-direita nacionalista.

2018-09-30 Salvini Maio.jpg

Além de tudo o mais, estes populistas da extrema-direita nacionalista vão-nos defender contra a entrada massiva de refugiados muçulmanos, mesmo sendo verdade que em Portugal terão a missão facilitada pelo facto de não haver assim muitos refugiados muçulmanos interessados em refugiar-se cá. Mas a atitude vale, nem que seja pelo simbolismo, e portanto eles vão-nos proteger dos refugiados muçulmanos.

Já o socialismo é um problema de que precisamos mesmo de mais protecção do que temos, de tal modo se anuncia como triunfal o passeio que António Costa parece ter pela frente, de vitória eleitoral anunciada e de canja contra uma direita que parece incapaz de se afirmar como uma alternativa, tanto mais quanto por vezes se parece querer afirmar mais como um complemento, um contrapeso ao complemento bloquista do outro lado da balança, do que como uma alternativa ao socialismo.

Estamos, portanto, condenados a mais 4 anos de socialismo ou menos, se o próximo governo de António Costa conseguir rebentar com isto, por exemplo por acontecer um abrandamento do contexto global de crescimento económico que tem sustentado em Portugal o crescimento e o aparente equilíbrio das contas públicas, antes de completar o seu mandato. E o que podemos esperar do socialismo?

Vamos esquecer as propostas mais radicais que ainda há meia dúzia de anos eram repetidamente defendidas como sensatas, quase um dever para defeder as populações das garras do fascismo financeiro "de Bruxelas", como o repúdio da dívida, ou a saída do Euro, ou mesmo da União Europeia, e atentemos apenas ao que pode ser actualmente um programa económico de governação socialista:

  • O governo deve reduzir a dívida em percentagem do PIB, não através da austeridade que reduz a despesa pública nem dos impostos que aumentam a receita, mas através do crescimento económico.
  • A União Europeia devia rever as regras da estabilidade financeira, por exemplo retirando o investimento público do perímetro cálculo do deficit.
  • As dívidas do governo aos fornecedores devem poder ser pagas em títulos de dívida de curto prazo, mas estes títulos devem ser retirados do perímetro da dívida pública para efeito da verificação das regras comunitárias.
  • Aumento das penas, incluindo penas de prisão para evasão fiscal, mas amnistia fiscal para os contribuintes em dificudades para liquidarem as dívidas ao fisco.
  • Reversão de reduções de pensões e de aumentos da idade de reforma.
  • Possibilidade de aposentação antecipada para que tem carreiras contributivas longas.
  • Cortes nas pensões milionárias.
  • Instituição de rendimento mínimo universal financiado por fundos europeus e sujeito à obrigação de os beneficiários aceitarem pelo menos uma das três primeiras ofertas de emprego que tiverem.
  • Aumento do investimento em agências de emprego para melhorar a colocação de desempregados.
  • Criação de um banco público de investimento para financiar a economia.
  • Reforma do regime de resgate de bancos para castigar os gestores e reguladores e proteger os aforradores e pequenos accionistas.
  • Aligeiramento das regras de prudência na concessão de crédito para não dificultarem a concessão de crédito às pequenas empresas.
  • Impedir a reprivatização de bancos resgatados pelo Estado.
  • Impedir os bancos de executar hipotecas sem decisão judicial prévia.
  • Garantir a aplicação do salário mínimo.
  • Proibir estágios não-remunerados.
  • Relançar a companhia aérea de bandeira como empresa pública e impedir a continuação da privatização do seu capital.
  • Condicionar a continuação em laboração das indústrias poluidoras à minimização dos seus impactes ambientais.
  • Aumentar a severidade da regulamentação à indústria do jogo e dos casinos.

Em resumo, agradar a tudo e a todos com dinheiro caído do céu, de mistura com a vocação para a aldrabice que faz da prestação de contas um exercício de toda a dose desorçamentação de que se é capaz, tudo debaixo de uma capa moralista de defesa dos mais desfavorecidos contra a voragem do capitalismo e da elite financeira e contra o garrote "de Bruxelas".

Isto poderá perfeitamente vir a ser a vertente económica do próximo programa de governo socialista concertado entre o PS costista e o BE, admito que não lhes seja necessário incorporarem as sugestões igualmente socialistas de combate à especulação imobiliária do PSD de Rui Rio, mesmo que este se disponha a colaborar com eles pela defesa do interesse nacional acima do interesse egoísta do partido, por não precisarem dele para nada, e que o velho PCP continue a sua descida no plano inclinado para a irrelevância desde que, ao apoiar o governo costista, prescindiu dos travões que lhe retardavam a descida, por também não precisarem dele para nada. Isto no cenário que hoje em dia parece mais provável de o PS ganhar em 2019 as eleições que perdeu em 2015, sem maioria absoluta mas com capacidade para formar uma maioria absoluta com o apoio parlamentar ou governativo do BE.

E é disto que se espera que os populistas da extrema-direita nacionalista nos consigam proteger.

E como é que eles nos vão proteger do socialismo?

Através de um programa económico de governação populista nacionalista alternativo, de que para não inventar podemos ir buscar, a título de exemplo, o do actual governo italiano:

  • O governo deve reduzir a dívida em percentagem do PIB, não através da austeridade que reduz a despesa pública nem dos impostos que aumentam a receita, mas através do crescimento económico.
  • A União Europeia devia rever as regras da estabilidade financeira, por exemplo retirando o investimento público do perímetro cálculo do deficit.
  • As dívidas do governo aos fornecedores devem poder ser pagas em títulos de dívida de curto prazo, mas estes títulos devem ser retirados do perímetro da dívida pública para efeito da verificação dos limites comunitários.
  • Aumento das penas, incluindo penas de prisão para evasão fiscal, mas amnistia fiscal para os contribuintes em dificudades para liquidarem as dívidas ao fisco.
  • Reversão de reduções de pensões e de aumentos da idade de reforma.
  • Possibilidade de aposentação antecipada para que tem carreiras contributivas longas.
  • Cortes nas pensões milionárias.
  • Instituição de rendimento mínimo universal financiado por fundos europeus e sujeito à obrigação de os beneficiários aceitarem pelo menos uma das três primeiras ofertas de emprego que tiverem.
  • Aumento do investimento em agências de emprego para melhorar a colocação de desempregados.
  • Criação de um banco público de investimento para financiar a economia.
  • Reforma do regime de resgate de bancos para castigar os gestores e reguladores e proteger os aforradores e pequenos accionistas.
  • Aligeiramento das regras de prudência na concessão de crédito para não dificultarem a concessão de crédito às pequenas empresas.
  • Impedir a reprivatização de bancos resgatados pelo Estado.
  • Impedir os bancos de executar hipotecas sem decisão judicial prévia.
  • Garantir a aplicação do salário mínimo.
  • Proibir estágios não-remunerados.
  • Relançar a companhia aérea de bandeira como empresa pública e impedir a continuação da privatização do seu capital.
  • Condicionar a continuação em laboração das indústrias poluidoras à minimização dos seus impactes ambientais.
  • Aumentar a severidade da regulamentação à indústria do jogo e dos casinos.

Em resumo, agradar a tudo e a todos com dinheiro caído do céu, de mistura com a vocação para a aldrabice que faz da prestação de contas um exercício de toda a dose desorçamentação de que se é capaz, tudo debaixo de uma capa moralista de defesa dos mais desfavorecidos contra a voragem do capitalismo e da elite financeira e contra o garrote "de Bruxelas".

É igual ao programa económico de governação socialista? É.

E como é que estão a reagir os mercados a este programa? Como sempre reagem a programas socialistas.

2018-10-02 Yields Italy 2018 td.jpg

Se nos vier alguma vez a calhar na rifa vai voltar a ser um passeio dos alegres para novo resgate? Vai.

Mas sem refugiados muçulmanos.

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 12:20
link do post | comentar

Pesquisar neste blog

 

Autores

Últimos comentários

https://www.aromaeasy.com/product-category/bulk-es...
E depois queixam-se do Chega...Não acreditam no qu...
Boa tarde, pode-me dizer qual é o seguro que tem??...
Gostei do seu artigo
Até onde eu sei essa doença não e mortal ainda mai...

Arquivos

Janeiro 2020

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Agosto 2018

Julho 2018

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Novembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Agosto 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Links

Tags

25 de abril

5dias

adse

ambiente

angola

antónio costa

arquitectura

austeridade

banca

banco de portugal

banif

be

bes

bloco de esquerda

blogs

brexit

carlos costa

cartão de cidadão

catarina martins

causas

cavaco silva

cds

censura

cgd

cgtp

comentadores

cortes

crise

cultura

daniel oliveira

deficit

desigualdade

dívida

educação

eleições europeias

ensino

esquerda

estado social

ética

euro

europa

férias

fernando leal da costa

fiscalidade

francisco louçã

gnr

grécia

greve

impostos

irs

itália

jornalismo

josé sócrates

justiça

lisboa

manifestação

marcelo

marcelo rebelo de sousa

mariana mortágua

mário centeno

mário nogueira

mário soares

mba

obama

oe 2017

orçamento

pacheco pereira

partido socialista

passos coelho

paulo portas

pcp

pedro passos coelho

populismo

portugal

ps

psd

público

quadratura do círculo

raquel varela

renzi

rtp

rui rio

salário mínimo

sampaio da nóvoa

saúde

sns

socialismo

socialista

sócrates

syriza

tabaco

tap

tribunal constitucional

trump

ue

união europeia

vasco pulido valente

venezuela

vital moreira

vítor gaspar

todas as tags

blogs SAPO

subscrever feeds