Eu sou do tempo em que os militares barbudos que andavam pelo país a alfabetizar as populações ensinando-lhes os princípios básicos do socialismo não punham os pés no Alto Minho. Com razão ou sem razão, os minhotos partiam do princípio que a finalidade dos comunistas era expropriar-lhes as terras. Provavelmente os governantes da época nunca o terão chegado a proclamar preto no branco, nem sequer o truculento Vasco Gonçalves, mas o facto de terem deixado os comunistas ocupar e expropriar os grandes latifúndios do Alentejo, e não só do Alentejo, não constituía uma prova sólida em contrário da hipótese. Na dúvida os minhotos optavam por uma prudente atitude de eles que venham, mas só entram por cima do meu cadáver, destruiram com violência algumas sedes do PCP, racharam algumas cabeças, e a mensagem foi percebida e nem os soldados barbudos nem os comunistas lá apareceram a fazer ocupações. Nem faziam falta, que a sociedade civil minhota não precisava deles para nada.
Mas isto era no tempo e que eu tinha 18 anos, e o mapa de resultados das eleições, entre as de 25 de Abril de 1975 para a Assembleia Constituinte e as Autárquicas de 1 de Outubro de 2017, nomeadamente no Minho, evoluiu e ganhou tons de rosa onde não os tinha.
Evoluiu o mapa, e evoluiram as mentalidades.
Em 2018 o primeiro ministro socialista diz coisas sobre a propriedade privada como "Os municípios têm todo o poder para entrar nas propriedades privadas e fazerem o cus [os leitores mais atentos à pureza ortográfica que me perdoem mas, aderindo parcialmente, se não ao Acordo Ortográfico, pelo menos aos seus princípios de ortografia segue pronúncia, é assim que se escreve] proprietários não fizeram. E mais. Têm o direito de tomar posse daquelas terras e de se cobrarem, seja pela venda do material lenhoso, seja pela exploração daquelas terras, das despesas que tiverem por conta dos proprietários que não fizeram o que têm que fazer até ao próximo dia 15 de Março.", que não me lembro de alguma vez terem sido ditas por um primeiro-ministro no tempo do PREC, e no tempo do PREC teriam sido mais do que suficientes para os minhotos racharem cabeças e rebentarem com sedes, se fossem ditas por comunistas mais voluntariosos no local, ou, quem sabe? organizarem uma invasão militar de Lisboa, se fossem ditas pelo primeiro-minstro.
Traduzindo, as palavras do primeiro-ministro têm sempre que ser traduzidas para Português para serem devidamente interpretadas, os proprietários têm até 15 de Março para limparem de matos os terrenos em redor das casas e em redor dos agregados habitacionais, quer os terrenos lhes proporcionem rendimentos para pagar a limpeza, quer não, quer os proprietários tenham dinheiro para a fazer, quer não, e se não o fizerem as autarquias têm legitimidade, e um encorajamento do primeiro-ministro, para tomar posse dos terrenos privados para fazerem elas a limpeza e não os devolverem até extrairem deles rendimentos que paguem o custo da limpeza, que pode ser no dia de São Nunca.
Ou seja, exactamente aquilo porque os minhotos no tempo do PREC estavam dispostos a defender a sua propriedade, se necessário recorrendo à força das armas. Vamos a caminho do socialismo.
E os minhotos?
Os minhotos estão mansos. Tenho muita pena.
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