Quarta-feira, 21 de Novembro de 2018

Senhor Eucalipto

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O Senhor Eucalipto da esquerda à esquerda do PS, uma espécie de crescimento rápido que seca tudo à sua volta com doses maciças de populismo mediático carinhosamente regado e estrumado pela comunicação social portuguesa, com especial destaque para a que é financiada por generosos capitalistas mecenas da silvicultura científica como o doutor Pinto Balsemão ou os herdeiros do engenheiro Belmiro de Azevedo, e que substituiu no parlamento por árvores jovens que ainda não chegaram a criar raízes profissionais, e provavelmente nunca as virão a criar, as velhas árvores autóctones das espécies "operários", "camponeses" e alguns "intelectuais" que populavam anteriormente esta região situada do lado esquerdo do parlamento para quem os vê de frente, e do direito para quem está sentado nas bancadas, decidiu escrever uma carta aberta ao primo.

O que diz a carta não estou em condições de vos revelar porque é um conteúdo reservado para assinantes do jornal que a publica, um dos que citei acima, e eu não adquiri esse privilégio. E ainda que o tivesse não o revelaria por respeito à privacidade devida à correspondência entre membros de uma mesma família, neste caso a dos eucaliptos, como não revelaria o conteúdo de cartas abertas trocadas entre giestas ou entre carvalhos, com ou sem "u" para parafrasear um conhecido poeta português.

Porque o conteúdo é privado, mas também porque não tem interesse nenhum, limitando-se que deve certamente a repetir a cassete das teorias da conspiração genéricas dos populistas e específicas desta seita específica, a da denúncia dos grandes interesses capitalistas, dos académicos comprados por eles e dos políticos submissos com medo de os travar. Como se costuma dizer, não há inimizades como as que se cultivam no seio da família.

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 09:55
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Segunda-feira, 1 de Maio de 2017

Les beaux esprits se rencontrent

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Os incentivos entusiásticos da redacção do Público e as grandoladas da Marisa Matias não foram suficientes para levar o candidato Jean-Luc Mélenchon, o da esquerda radical, como diz a direita, ou o da social-democracia moderada, como diz a esquerda radical, à segunda volta das eleições presidenciais francesas, e na segunda volta o populismo ficou todo por conta da candidata Marine Le Pen, que vai confrontar o candidato europeista Emmanuel Macron.

Na segunda volta de umas eleições como as presidenciais francesas, em que apenas concorrem dois candidatos, todos os eleitores e opinadores são bem vindos a explicar as suas motivações e decisões, e todos as podem ter e exprimir inovadoras e diferentes das de cada um dos outros, mas para o que conta só há três posições possíveis: ou se vota num dos candidatos, ou se vota no outro, ou não se vota em nenhum.

Pelo que a esquerda moderna europeia de que o Mélenchon, e o Bloco de Esquerda, o Podemos, o Syriza, o Partido Trabalhista do Jeremy Corbyn se este não tivesse acabado de chegar do paleolítico contraditório com o qualificativo moderna, e os sectores emergentes do Partido Socialista que vieram para a boca do palco com a erecção (termo de engenharia civil, nada de piadolas) do António Costa, fazem parte, a esquerda não sovietista, se viu na iminência de ter que tomar uma posição sobre o que fazer, ou o que recomendar, no caso dos que não são eleitores recenseados nas eleições presidenciais francesas, na segunda volta destas eleições.

À primeira vista parecia uma decisão fácil: a única forma segura de impedir a ascensão da extrema-direita ao poder é o voto no Macron. E impedir a (re-)ascensão da extrema-direita é a sua maior razão de ser, pelo menos a dar crédito à retórica a que recorre permanentemente, apontando perigos de reascensão da extrema-direita até em políticas de partidos que, no entanto, outros consideram moderados, como o PSD e o CDS. Na política nacional, porque, nas assembleias municipais, até em medidas de executivos socialistas eles chegam a vislumbrar a mão da extrema-direita. A extrema-direita é, pois, o seu maior inimigo. Não é?

Não se sabe. Porque na verdade esta esquerda tem quase tudo em comum com a Marine, incluindo a vontade de sair da União Europeia e do Euro, a desconfiança relativamente ao grande capital e aos mercados e a vontade de re-erguer barreiras económicas para estancar as ameaças da globalização aos american french (and portuguese, and spanish, and greek, and british) jobs, percebendo-se que têm tanta determinação em barrar as importações quanto esperança em conseguir manter as exportações no pressuposto que o resto do mundo é parvo e não os topa, assim como o gosto pelo exercício musculado do poder quando o exercem, que não o gosto pela submissão a poderes musculados quando outros os exercem, e convergem até no ódio aos judeus, sendo que uns odeiam os judeus massacrados pelo nazismo no século passado enquanto os outros odeiam os que os vizinhos árabes se têm esforçado nas últimas décadas, com diligência mas insucesso, por massacrar. A maior diferença entre os populismos da esquerda moderna e da Marine Le Pen está no posicionamento perante as migrações, sendo que o desta aprecia a construção de muros para evitar a imigração, enquanto o daquela abomina estes e prefere os que servem para impedir a emigração, ou a fuga ao comunismo.

No entanto, apesar de os geómetras explicarem que virar 180º à esquerda resulta exactamente no mesmo ângulo que virar 180º à direita, e com tanto em comum, os radicais de esquerda declaram-se inimigos mortais dos de direita, e vice-versa. Com alguma razão do ponto de vista estratégico, porque competem com propostas idênticas pelos mesmos eleitorados.

Por isso, o discurso de reconhecimento da derrota na primeira volta das presidenciais do Mélenchon foi um choque para quem esperaria dele uma recomendação inequívoca de voto contra a Marine na segunda volta, sendo que, uma vez que só entram dois candidatos na segunda volta, o único voto seguro contra a Marine é o voto no Macron. Até o Álvaro Cunhal engoliu sapos e recomendou aos comunistas o voto no Mário Soares na segunda volta das presidenciais de 1986, se necessário de olhos tapados para não terem um ataque de nervos dentro da cabine de voto. Mas o Álvaro Cunhal era um político profissional que não hesitava em mutilar a sua própria liberdade de voto para votar no candidato menos desfavorável aos objectivos políticos do Partido, e estes radicais pequeno-burgueses de fachada socialista são uns meninos que dão mais importância às suas idiosincrasias do que à causa da revolução. De modo que o Mélenchon não recomendou o voto no Macron, tendo dito que a esquerda devia ponderar muito bem o sentido de voto na segunda volta de um modo confuso que significa que, quem se quiser abster, se pode abster à vontade, mas quem quiser votar na Marine não vai para o inferno por isso, até porque o voto é secreto. Um modo retorcido de, sendo-lhe proibido mandar votar na Marine, recomendar o voto nela.

Escândalo! De tal modo que foi necessário os mais proeminentes fazedores de opinião da esquerda moderna europeia virem em auxílio do Mélenchon para evitar a sua cruxificação pela populaça de direita irritada por ele não mandar votar no seu candidato preferido e pela de esquerda que não lhe queria perdoar não ter claramente apelado ao voto contra a extrema-direita.

Em Portugal ergueu-se o Francisco Louçã, que já resumiu o dilema colocado pela segunda volta das eleições no sugestivo título "O escroque contra a fascista" (o historiador Manuel Loff, da mesma tribo política, tinha dado ao seu próprio comentário o título semelhante "O banqueiro e a neofascista platinada", recorrendo no entanto a um tom mais sexista que, populismo oblige, tão bem cai na sua clientela), por um lado, ilustra bem a dificuldade da escolha e, por outro, mostra uma tentativa de isenção e objectividade do conselheiro de estado português na formulação da sua recomendação às massas para que ela lhes pareça ainda mais recomendável.

E o que recomenda ele? Para dizer a verdade, eu não consigo perceber o que é que ele recomenda ao certo, e nisso acompanha a recomendação iguamente viscosa do Mélenchon. Mas, mesmo sendo a conclusão confusa, há aspectos possíveis de aferir, até quantificadamente, na sua análise.

A parte da crítica ao Macron, 

  • "...Entendamo-nos: o início da campanha da segunda volta correu pessimamente a Macron. Deslumbrado, festejou no domingo os 24% como se já tivesse a presidência no papo, esqueceu-se de que lhe faltam outros 27%. Arrogância. Esqueceu-se de que houve uma greve geral contra o seu governo há um ano. Insensibilidade. Esqueceu-se de que a lei que tem o seu nome foi imposta pelo Presidente por fora do parlamento dada a revolta dos próprios deputados do PS. E que lei: cartas de condução, resíduos radioactivos, segredo comercial, transportes públicos em autocarros, regras para os notários, cinco a dez mil milhões em privatizações, facilitar os despedimentos colectivos, reduzir indemnizações por despedimento, empréstimos entre empresas, o programa de Macron foi essa lei. Pesporrência.

    Portanto, Macron deve mexer-se para conseguir os 27% que lhe faltam e faria bem em dar garantias aos trabalhadores que dele desconfiam. Mais valia que mostrasse o que o separa de Le Pen, uma candidata perigosíssima, xenófoba e com tintas fascistas, que tem de ser vencida. Em vez disso, para animar a festa, um dos conselheiros de Macron, Jacques Attali, decidiu exibir a sua cor: no dia em que Macron ia visitar uma fábrica ameaçada de fecho explicou que a globalização é isso mesmo, despedimentos, e que a resistência é uma “anedota“. Não havia de haver desconfiança?

    Desenvolvido o programa do candidato, temos desde o despedimento de 120 mil funcionários públicos até ao corte de 10 mil milhões em subsídios de desemprego, como também um aumento do investimento público. No plano europeu, é puro hollandês: um ministro das finanças europeu, um parlamento da zona euro e, cereja em cima do bolo, “convenções democráticas” em todos os países durante o último semestre deste ano.

    Suponho que é por isso que surge o apelo: na falta da confiança e perante o perigo, usa-se o que está à mão, como em 2002 quando, como bem lembrou Tavares, o “lema informal” da esquerda era “votem no escroque (Chirac) contra o fascista (Le Pen pai)”. Há 15 anos, resultou; agora tem pelo meio o fracasso europeu, a vergonha Hollande e tudo o que alimentou Le Pen. Pergunto-me portanto quem se vai comover hoje com este apelo a votar no “escroque” e durante quanto tempo alguém pensará que a promoção do “escroquismo” é estratégia vencedora. Se isto é forma de combater a abstenção, então entrega os pontos. Se é a alternativa que sobra, então só retrata a degradação das direitas...",

consome-lhe 403 palavras e 2.440 caracteres.

Já a crítica à Marine, 

  • "Ora, há todas as razões para votar contra Le Pen",

ocupa-lhe 10 palavras com 48 caracteres.

Pelo que o leitor que, como eu, não consiga perceber a recomendação de voto do Francisco Louçã, mas, ao contrário de mim, porque me estou nas tintas para a recomendação dele, a tente decifrar por confiar na lucidez do conselheiro de estado e pretender adoptá-la para formar a sua própria posição, se fundamentar a sua análise na amplitude das críticas aos dois candidatos, chegará à conclusão que, se ambos são criticáveis, um deles é 40,3 vezes mais criticável do que a outra (em palavras, mas 50,8 vezes em caracteres), o que, se permite tolerar a abstenção, sugere com alguma veemência subentendida o mal menor, o voto na candidata menos criticada contra o candidato mais criticado.

E porque recomendará o Francisco Louçã o voto na Marine Le Pen? Não sei dizer. Se calhar, acompanho o raciocínio do António Barreto quando, em entrevista recente, tentou explicar o apoio do PCP ao governo do António Costa:

  • "...Estes quatro anos foram duros e difíceis. E o Governo de Pedro Passos Coelho estava a começar a obter resultados no último ano. Havia a possibilidade de voltar a ser Governo. Isto, para o PCP, era insuportável. Conceder o benefício do êxito à direita, ao BCE, ao FMI, à UE… Era insuportável para o PCP...".

A esquerda pode recomendar, sem o dizer explicitamente, o voto na Marine Le Pen, ou pelo menos recusa recomendar o voto que mais seguramente impede a sua vitória, talvez na esperança de tentar evitar uma experiência de governo, ainda para mais europeísta, que receie que possa vir a correr menos mal.

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 12:52
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Sábado, 7 de Janeiro de 2017

O Ministro das Finanças já tem sucessora

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O Ministro das Finanças Francisco Anacleto Louçã fez duas importantes comunicações ao país esta semana.

  • Na primeira, anunciou que o Novo Banco vai ser nacionalizado, medida que suscitou apoio entusiástico generalizado, incluindo o da família Espírito Santo, da secretária de estado das finanças Manuela Ferreira Louçã, e do presidente do maior partido da base de apoio do governo bloquista Carlos César. Este medida permite isentar os bancos que operam em Portugal de terem que reembolsar o empréstimo de 3.900 milhões de euros que o Estado fez ao Fundo de Resolução de que eles são titulares e por cujas respponsabilidades respondem, confirmando a carta de conforto que já lhes tinha sido anteriormente anunciada pelo porta voz do ministério Mário Centeno, que já os isentava do risco de virem a ter que fazer contribuições extraordinárias para o fundo, e dá aos contribuintes a oportunidade de serem eles a salvar mais um banco com o seu próprio dinheiro, deste vez pelo custo muito em conta de apenas 390 euros por português, pouco mais de mil euros para uma família de três pessoas. Uma pechincha!
  • Na segunda, designou como sua sucessora no Ministério das Finanças da República Socialista Soviética de Portugal a sua ghost writer e sucessora na linha dinástica bloquista Mariana Mortágua. Ficará com a incumbência de conduzir a renegociação da dívida quando ela se tornar impagável, objectivo para o qual o governo tem focado todas as suas capacidades e competências com resultados cada vez mais inegáveis.

Estão ambos de parabéns, e estamos nós.

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 15:27
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Quinta-feira, 5 de Janeiro de 2017

O milagre da gravata

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O Bloco de Esquerda insurgiu-se desde sempre contra a utilização de dinheiro público para salvar bancos.

(Eu sou do tempo em que ser de esquerda era ambicionar uma sociedade onde a miséria fosse, se não erradicada, pelo menos minimizada na medida do possível, onde não se passasse fome e as pessoas pudessem viver em condições de higiene e salubridade minimamente decentes e ter acesso a tratamentos na doença e à educação, se tivessem vontade e cabeça para estudar. Quis o destino que o modelo de sociedade e de economia que se aproxima mais de possibilitar esta ambição seja o de democracia liberal com economia de mercado e um nível de estado social minimamente sustentável por ela, e eis-me aqui neoliberal de esquerda.

Mais tarde, vim a perceber que ser de esquerda não é ter esta ambição e procurar as soluções que a consigam concretizar no domínio das possibilidades, mas sim exigir que seja o estado, mais do que a regular a economia e os agentes económicos, que somos todos nós, o agente económico que se dedica à produção, desejavelmente em regime de monopólio, dos bens e serviços e, acima de tudo, dos disponibilizados pelo estado social, coisa que em breve fará um século que está provado que não faz nem bem nem com eficiência no consumo de recursos.

Mais tarde ainda, foi-se tornando claro que ser de esquerda já não tem nada a ver com aquela ambição, mas apenas com o controlo da sociedade pelo estado para defender grupos de interesse específicos, que incluem corporações como a função pública e os sindicatos, mas não os mais desfavorecidos e em risco de cair, ou ser impedido de sair, da miséria, que não há sindicatos de desempregados nem de sem-abrigo, em detrimento dos dos que não fazem parte desses grupos de interesses. Isto sem nunca abandonar a retórica, marketing oblige, da defesa dos mais desfavorecidos, que lhe rende votos quando os mais desfavorecidos são também desfavorecidos de lucidez e informação.

E tornou-se também evidente que para se ser verdadeiramente de esquerda é necessário padecer de uma disfuncionalidade cognitiva permanente relativamente à origem do dinheiro colocado à disposição do estado para gastar, ignorando persistentemente que é o dinheiro dos cidadãos passados, quando o estado tem poupanças, actuais, quando se financia com os impostos que lhes cobra, e futuros, quando se endivida para eles pagarem mais tarde, formulando as suas políticas como se o dinheiro caísse do céu. Quem diz caído do céu pode também dizer doado pelas instituições europeias que o vão buscar aos cidadãos europeus, ou por credores que o emprestam sem a preocupação de o vir a receber um dia mais tarde. Dinheiro que há-de aparecer, se Deus quiser.

É este o motivo mais ponderoso para o Bloco de Esquerda ser sempre contra o resgate de bancos com dinheiro público, admitindo que não é necessário porque eles podem ser resgatados com dinheiro caído do céu, ou podem ser deixados falir porque dinheiro caído do céu haverá de compensar os pobres da perda das suas poupanças se o seu banco falir, e um milagre há-de garantir que quem é compensado são apenas os pobres a que recorre na sua retórica e não os ricos.)

No mundo real, quando um banco chega a uma situação de risco de falência, e para evitar o risco de disrupção económica e social que a perda das poupanças e investimentos confiados a esse banco por particulares, empresas e outras instituições teria grande probabilidade de desencadear, resgatam-se os bancos. E resgatam-se por uma de duas vias alternativas:

  • a nacionalização, em que o estado, ou seja, os contribuintes, cobre todas as reponsabilidades do banco e garante o reembolso de todas as poupanças e investimentos que estavam à sua guarda;
  • a resolução, em que se definem as regras que determinam que responsabilidades com depositantes e investidores devem ser garantidas, e a quais deve ser dado o calote, se cria um banco novo para onde estes clientes são transferidos, e se cria um fundo de que todos os bancos são titulares e responsáveis para capitalizar o banco novo de modo a assegurar as responsabilidades com esses clientes, sendo o fundo inicialmente capitalizado com dinheiro emprestado pelo estado, remunerado com juros e para ser mais tarde reembolsado pelos bancos titulares do fundo usando, nomeadamente, a receita da venda do banco novo se ele for vendido, e sendo responsáveis pelo reembolso do resto se a receita da venda não for suficiente.

Na primeira, os contribuintes cobrem todas as reponsabilidades do banco falido. Como aconteceu em Portugal no BPN e no Banif. Na segunda, os contribuintes adiantam aos outros bancos o dinheiro para assegurarem as reponsabilidades que se determina que devem ser cobertas, a juros, e para ser reembolsado por eles. Como aconteceu em Portugal com o BES e deu origem ao Novo Banco.

O Conselheiro de Estado Francisco Louçã acabou de pedir ao governo a nacionalização do Novo Banco. O que significaria desobrigar os outros bancos de reembolsarem o estado pelo crédito concedido ao fundo de resolução, ou seja, fazer serem os contribuintes, e não os outros bancos, a suportar as responsabilidades, seleccionadas de acordo com o critério definido, do BES.

Para quem sempre se insurgiu contra a utilização de dinheiro público para salvar bancos, defender a utilização de dinheiro público em vez de dinheiro dos outros bancos para salvar o Novo Banco é uma grande progressão. Merecia ser nomeado para um Conselho de Administração de um banco, num cargo não executivo para salvaguardar a saúde financeira do banco contemplado, ou, pelo menos, para um Conselho Fiscal.

É o milagre da gravata que passou a usar nas reuniões do Conselho de Estado.

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 17:09
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Domingo, 28 de Agosto de 2016

Projectos falhados

O Francisco Louçã diz, com o tom de voz que o Manuel Alegre lhe baptizou uma vez, antes de terem sido companheiros de estrada e de o seu apoio e o do BE terem sido decisivos para, em conjunto com o do PS e o do MRPP, subtrairem mais de 300 mil votos aos mais de 1,1 milhões que ele tinha conseguido antes sózinho e sem nenhum apoio, e a concorrer à esquerda contra o Mário Soares, o Jerónimo de Sousa, o Garcia Pereira e o próprio Louçã, de cardeal, mas que talvez seja mais de pároco de aldeia onde toda a gente se foi embora e só restam os velhotes meio surdos e analfabetos que o ouvem com reverência por não o conseguirem ouvir bem e muito menos perceberem o que ele diz, que "A União Europeia é um projeto falhado".

De projectos falhados percebe ele.

O Francisco Louçã nasceu para a política a idolatrar a 4ª Internacional, que não foi propriamente um projecto de sucesso. Terá andado, especulo sem saber ao certo, mas haverá por aí quem certamente saiba, pelas campanhas do Otelo? até o Otelo ser preso e condenado por terrorismo, e mais tarde aministiado, e da Pintasilgo? que também não foram propriamente projectos de sucesso. Participou na fusão de herdeiros de uma misturada de Internacionais que, num golpe de génio, ou de sorte? pouco interessa, cresceu à custa do mediatismo das causas fracturantes até as causas fracturantes terem sido devoradas ao pequeno-almoço pelo PS do Sócrates e o Bloco se ter transformado num partido, não do taxi, mas do monovolume, que dificilmente se podia considerar um projecto de sucesso quando ele deu lugar a outros. Apoiou vocalmente a aventura do Syriza na Grécia, de quem se tornou mesmo um assessor notável, que se transformou no projecto de sucesso que a história mais tarde veio a revelar na modalidade "bater o pé a Bruxelas enquanto há dinheiro e quando o dinheiro se acaba meter o rabinho entre as pernas", e não apoiou tão vocalmente, mas também não se lhe conhecem desapoios, a revolução bolivariana da Venezuela que se está a revelar num caso de sucesso quase inédito na História da humanidade ao conduzir à miséria o povo do país com maiores reservas de petróleo no mundo com vasta assessoria, paga a peso de ouro, do partido irmão, do regime bolivariano e do BE, Podemos. Até o apoio do BE ao candidato Manuel Alegre foi o caso de sucesso que se viu e depreende da leitura do parágrafo anterior.

Posto isto, e dada a sua experiência de décadas de envolvimento convicto em projectos falhados, qual é o projecto a quem o Francisco Louçã aponta o dedo, cruzando referências de Maquiavel com referências da "Guerra dos Tronos" como falhado?

A União Europeia, esse mesma, o grande projecto democrático do século XX, senão o maior da história da humanidade, que foi eregido como uma muralha de liberdade e prosperidade contra a retórica socialista de todas as internacionais que prometia o jardim do paraíso mas só foi capaz de oferecer penúria e prisão intra-muros aos desgraçados que lhe cairam nas garras, o que aliás continua a fazer aos cada vez menos povos que ainda lhe continuam a cair nas garras.

Dada a preferência demonstrada do Francisco Louçã por projectos falhados, e de democraticidade muito duvidosa, este pessimismo face ao projecto europeu e à sua falta de democracia é uma excelente notícia para os europeístas. Talvez ainda não esteja tudo perdido.

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 00:23
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Sexta-feira, 15 de Julho de 2016

O Louçã resolve

Juntaram-se as melhores cabeças de Portugal para resolver o problema do deficit, e resolveram-no.

Quem são elas? Toda a gente sabe. O professor Francisco Anacleto Louçã, conselheiro de estado no reinado do professor Marcelo e bloquista eterno, os investigadores do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra coordenado pelo conhecido sociólogo rapper Boaventura "de" Sousa Santos e que deu à Pátria figuras como a eurodeputada Marisa Matias, o deputado José Manuel Pureza ou a ministra Maria Manuel Leitão Marques, para não falar do histórico sindicalista Manuel Carvalho da Silva, coordenador do Observatório de Crises e Alternativas, em cujo âmbito as Oficinas sobre Políticas Alternativas desenvolveram nos anos de bruma da troika a solução política salvífica agora divulgada, e mais alguns ajudantes de escritor dos quais me permito salientar um tal de Manuel Pires para esclarecer que não sou eu. Sem esquecer o prefaciador, o presidente da Assembleia da República Eduardo Ferro Rodrigues.

E como é que o resolveram? Fácil. Tivesse-se retirado a troika do caminho e o desemprego ter-se-ia reduzido automaticamente, e "Nós damos um exemplo no livro: se um em cada cinco dos desempregados e um em cada dois dos que saíram de Portugal durante a 'troika' estivessem a trabalhar cá, o défice português seria zero, porque se pagariam menos cinco mil milhões de euros de subsídio de desemprego e o aumento da receita da segurança social – por causa das pessoas que estariam a trabalhar – seria de 1.300 a 2.700 milhões de euros. Não teríamos défice simplesmente". Como diz o outro, só não vê quem não quer ver.

Encontrada a solução, e entendido que a solução se refere ao passado mas pode facilmente ser transposta para o futuro pela aplicação do princípio que menos austeridade resulta em mais emprego, e está de facto a ser usada para fazer crescer o investimento, o emprego e a economia com os resultados conhecidos através da devolução dos rendimentos aos portugueses, ainda pode haver mentes mesquinhas e economicistas que duvidem do princípio. Que desconfiam que, se a troika não tivesse vindo com o programa de austeridade, o desemprego teria na mesma aumentado em consequência da insustentabilidade dos desequilíbrios económicos e financeiros que a antecederam, e não da tentativa de os eliminar com o programa de assistência. Que desconfiam que o mal-estar do doente se deve, não à quimioterapia, mas aos cigarros que fumou até lhe ter sido diagnosticada a doença. Dúvidas mesquinhas de pessoas mesquinhas.

Tanto mais que a solução enunciada é realmente inovadora e formidável. Conseguir, reduzindo o desemprego em apenas um quinto, cortar cinco mil milhões de euros no subsídio de desemprego que custa menos de dois mil milhões para todos os cinco quintos é obra, já não do domínio da ciência económica, mas do domínio da alquimia, como dizia por aí um companheiro do Gremlin Literário. Ou, talvez, e para ser mais rigoroso, já que estamos a falar de cientistas sociais e não de vendedores da banha da cobra e eu sou mais dado às matemáticas que às ciências dos materiais, é a aplicação dos números imaginários à Economia para a libertar das grilhetas dos números reais.

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publicado por Manuel Vilarinho Pires às 11:00
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Quinta-feira, 5 de Maio de 2016

Livres das grilhetas do euro, poderemos ser felizes e socialistas

Ao contrário de Portugal, cujo governo persiste em ignorar teimosamente as sugestões construtivas do Bloco de Esquerda e aumentou o salário mínimo em apenas 5%, deixando inquietas as pessoas que "sentem que a sua experiência, a sua competência, a sua responsabilidade é completamente desconsiderada", o governo da Venezuela acabou de aumentar o salário mínimo em 30%.

Não é só por má vontade. É também porque o governo português, apesar de socialista, está agarradinho pelas grilhetas do euro. Ao contrário, o governo socialista venezuelano pode imprimir, enquanto tiver dinheiro para papel e tinta, notas de bolívar.

Também é verdade que a inflação na Venezuela anda pelos 700%. O que significa que, para comprar o que um bolívar conseguia comprar há um ano, agora são necesssários oito. Como os venezuelanos foram aumentados 30%, agora ganham 1,30 bolívares por cada bolívar que ganhavam há um ano. Recebem mais, a vantagem de serem aumentados por um governo socialista bolivariano. Mas o que recebem vale seis vezes menos do que valia o que recebiam há um ano, ou seja, quem tinha dinheiro para comprar um quilo de carne há um ano, agora tem dinheiro para comprar um quilo de arroz. O que não chega sequer a ser um problema, porque já não há carne nem arroz nas lojas. Enfim, tudo junto resulta naquilo que os assessores do Podemos ensinaram, a troco de modestíssimos honorários, o governo venezuelano a designar pela "Suprema Felicidad Socialista".

Como chegar então ao ambicionado patamar da suprema felicidade socialista em Portugal? Uma solução prometedora seria marimbarmo-nos para o pagamento da dívida, lançar a bomba atómica e deixar o banqueiro alemão com as pernas a tremer. Mas as palavras terão sido fortes, com uma imagética excessiva, e o próprio proponente hoje em dia esmoreceu o ímpeto reformista da cruzada. A melhor alternativa parece ser sairmos do euro e retomarmos a impressão de escudos, com que podemos pagar salários cada vez mais elevados, até deixarmos de ter dinheiro para imprimir mais dinheiro.

É verdade que, sem o euro e a senhora Merkel (a senhora Merkel é doutorada em Química quântica, mas nem por isso deixa de ser senhora) e o senhor Schäuble a tomarem conta dele, governos de demagogos irresponsáveis poderão devolver livremente os rendimentos aos portugueses aumentando os salários para cima de uns trinta por cento à custa de desvalorizar a moeda para um oitavo do valor que tinha. Mas o que é isso comparado com a suprema felicidade socialista de voltar a ter aumentos, contratos colectivos de trabalho, e lojas vazias, mas com a felicidade de poder atribuir a responsabilidade de estarem vazias aos especuladores e inimigos da revolução?

 

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 21:48
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Segunda-feira, 29 de Fevereiro de 2016

Uma certa tristeza nestes dois

Pacheco Pereira diz melancolicamente que há uma certa tristeza nisto tudo: na mãe que afoga as filhinhas na maré, no corrupto magistrado que vai de cana, no vereador que quer pôr umas árvores e na câmara que quer arrancar outras, na actrizinha que vem mostrar os progressos do cancro de que padece aos fãs, no pescador que morre afogado, no namorado traído que significa o seu desagrado com duas facadas na moça arredia - e, sobretudo, na televisão que nos serve estas misérias em doses cavalares, nos intervalos de sessões intermináveis de futebol.

 

Mas isto ainda não é nada. Que a grande maçada, o que transtorna Pacheco, é "a impotência do poder político democrático face ao poder económico [que] castrou governos eleitos e submeteu-os a entidades obscuras como os mercados".

 

Tivessem os mercados nome e outro galo cantaria. Mas os malvados vinham à sorrelfa emprestar-nos dinheiro, a taxas de juro proibitivas, e punham-se na Senhora da Alheta com os proveitos, que escondiam "numa caixa de correios das ilhas Caimão".

 

Tudo isto para salvar a banca, que no fim não salvaram: "Uma mistura de interesses, negligência, incompetência e uma nonchalance ideológica com custos gravíssimos, deixou de herança uma crise de milhares de milhões, que todos sabem de quem foi a responsabilidade. É por isso que Passos fala dizendo enormidades, como as que disse sobre o Banif, o banco que dava lucro e por isso não se tocava, e Maria Luís está lá no fundo da bancada muito silenciosa a ver se ninguém a vê".

 

Um verdadeiro pesadelo. E interminável porque, agora que o governo tem a bênção do BE e do PCP, e é dirigido pelo compagnon de Quadratura, poder-se-ia razoavelmente esperar que, finalmente, se começasse a "bater o pé aos credores" e a famosa TINA (there is no alternative) fosse remetida para o caixote da história, que é o destino fatal de todas as políticas que não têm o beneplácito de Pacheco.

 

Mas não. O Orçamento recentemente aprovado pela maioria é filho de pai incógnito, porque nem é o que o PS levou a Bruxelas, e que era saudavelmente "expansionista", nem, t'arrenego, o do PCP e do BE, nem muito menos o da Oposição. Isto Pacheco, por acaso, não diz. O que diz é que "é 'normal' o ministro das Finanças de Portugal receber ordens por email de Danièle Nouy, uma alta-funcionária bancária francesa com funções no BCE, mandando entregar o Banif ao Santander".

 

Dito de outra forma: Costa, como Passos, cumpre ordens de Bruxelas, precisamente o que se dizia ser o principal pecado do governo defunto. É certo que a contragosto - e isso chega para continuar a ter o apoio de Pacheco, até mais ver. Mas, entretanto - entristece.

 

Quem é mais afoito é Anacleto Louçã, que difere de Pacheco pelo facto de, dizendo basicamente as mesmas coisas, delas retirar consequências. Acha assim que "a liberdade de circulação de capitais é uma forma de regulação" (é mesmo, precisamente da mesma forma, e pelas mesmas razões, que a liberdade de comércio protege o consumidor), que "a única condição para que um Estado tenha condições para uma política de emprego e distribuição social é ser capaz de controlar os capitais" (tradução: para o Estado se apropriar do capital privado e instaurar a sociedade socialista é necessária a autarcia económica) e que a "banca privada será a forma de permitir a fuga de capitais" (entre outras coisas, Louçã, entre outras coisas. E ainda bem que os capitais podem fugir, senão desapareceriam, depois de confiscados, sob a forma de consumo e dos elefantes brancos do investimento público - enquanto durassem).

 

Há sim uma certa tristeza nisto tudo - e nestes dois também.

 

 

 

publicado por José Meireles Graça às 13:06
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