Eu hoje vou-vos revelar um segredo que peço que tratem discretamente, nomeadamente evitando divulgá-lo nas redes sociais.
Por junto, fui para aí uma dúzia de vezes ver futebol no estádio. Mais ou menos meia-dúzia quando era miúdo, a maioria deles com o vizinho do lado dos meus pais que era sócio do Benfica e nos levava, uma vezes a mim outras ao meu irmão, à Catedral da Luz, uma vez com o marido de uma colega da minha mãe que era sócio do Sporting ao Estádio de Alvalade, e uma vez com o meu pai ver um Portugal-Suécia no belíssimo Estádio Nacional que, se bem me lembro, Portugal perdeu por 2-4. E outra meia-dúzia ver jogos da Selecção Nacional quando a minha filha chegou à idade de se interessar por futebol. O que significa que não vale a pena perguntarem-me o que é um lateral ou se é mais ofensivo jogar em 4-3-3 ou em 2-5-3, que eu não consigo mais do que inventar uma resposta pela pinta da pergunta, porque não sei de ciência certa. Por favor, tratem esta informação discretamente.
Mas hoje vou falar de bola.
Qual deles é o melhor?
Mas tenho um activo que impressiona as gerações mais jovens, que o confundem com uma competência: vi jogar em campo o Eusébio e vi jogar em campo o Cristiano Ronaldo.
E por isso já aconteceu perguntarem-me a opinião sobre qual dos dois joga melhor. Pergunta a que eu, para não decepcionar o jovem que se ilude com a minha ciência desportiva e deposita em mim a esperança de o ajudar a resolver este importante dilema, não fujo a responder e respondo assim.
O Cristiano Ronaldo tem uma capacidade atlética como o Eusébio nunca teve. Mas também é verdade que se o Eusébio tivesse hoje a idade que o Cristiano Ronaldo tem também teria provavelmente uma capacidade atlética como nunca teve quando tinha essa idade.
O Cristiano Ronaldo trabalha que nem um cão e tem uma força de vontade extraordinária quando está determinado a ganhar, e está normalmente, exactamente como o Eusébio trabalhava que nem um cão e tinha uma força de vontade extraordinária quando estava determinado a ganhar, e estava normalmente. E quando, depois e apesar de deixar tudo o que tinha no campo, perdia, chorava como uma criança injustiçada, porque tinha sido mesmo injustiçado.
O Cristiano Ronaldo tem um talento extraordinário, e o Eusébio também tinha. E posso exemplificar os dois. Reparei pela primeira vez na existência do Cristiano Ronaldo nos dois jogos finais do Euro 2004, que vi completos por estar de férias, e lembro-me de me ter impressionado com as fintas e movimentos endiabrados que fazia, e de ter comentado essa impressão junto de amigos com quem me cruzava habitualmente nas férias, que vinham do Porto e diminuiram o talento do rapaz dizendo que fazia uns rodriguinhos mas não concretizava. Eles podiam saber de triangulações e jogadas em profundidade, podiam até assinar a Sport-TV, mas a história deu-me razão e tirou-a à tirada infeliz deles, que eu desconfio que se devia ao facto de o Cristiano Ronaldo ser do Sporting, como eu era e eles sabiam, e não do Porto, como eles eram todos, e até tinham tomado o Scolari de ponta por ter substituído o Baía pelo Ricardo, opção que se acabou por revelar genial nos quartos de final com a Inglaterra numa noite em que o torneio de Bridge no Centro de Bridge de Lisboa foi cancelado para se ver a bola. E num dessa meia-dúzia de jogos que vi em criança vi o Eusébio marcar um golo de canto directo contra o Porto, e ainda hoje me lembro da trajectória improvável que fez a bola curvar, ao cair sobre a pequena-área na frente da baliza, do arco comum de projecção horizontal recta que tinha seguido desde o pontapé até chegar à frente da baliza, para uma curva acentuada que a fez entrar inesperadamente. Uma trajectória substancialmente diferente na natureza da curvatura do livre que o Cristiano Ronaldo marcou contra a Espanha neste mundial, em que a bola iniciou a trajectória numa direcção que a levaria ao lado da baliza mas toda a trajectória foi uma curva suave que a levou para dentro da baliza. No canto, a bola só curvou, acentuada e repentinamente, quando chegou à frente da baliza. Eu não faço cálculos de aerodinâmica há muitas décadas, e não tomem isto por ciência certa, mas especulo que a bola pode ter sido atirada com um efeito muito poderoso mas que não a fez curvar enquanto teve velocidade, e quando reduziu a velocidade ao cair na pequena área o efeito pode-se ter tornado preponderante para a fazer curvar. Seja porque motivo tenha sido, foi um golo do caraças.
Mas não me lembro de o Eusébio ter falhado um penalti, e já vi o Cristiano Ronaldo falhar um ao vivo no Estádio da Luz e outro em directo neste Mundial contra o Irão, e muito menos de ter dado alguma cotovelada na cara de um adversário, e no entanto era regularmente massacrado com violência pelos adversários. Como se não fosse bem um humano a reger-se pelas regras dos humanos, como se para ganhar lhe bastasse jogar à bola como sabia. Como se fosse um gentleman.
E ver tipos que não são capazes de fazer uma conta de subtrair a calcular, com a cabeça ou com os pés, trajectórias exóticas que nem a Ciência Física consegue deduzir nem nenhum Físico consegue simular em computador, como ver miúdos que cresceram em favelas onde a lei que impera é a da selva a crescerem para se tornarem gentlemen sportsmen é capaz de ser aquilo a que se chama a magia do futebol.
O Salvador Sobral deu uma entrevista.
O Salvador Sobral deu uma entrevista a uma televisão espanhola. E o que disse ele?
- Eu sou o Ronaldo da música mas pago impostos.
Grande lata! Um palerma malcriado, esquerdopata e drogado a ousar comparar-se com o Cristiano Ronaldo? E isto é uma selecção muito filtrada para não ultrapassar as fronteiras da civilidade dos comentários que vi nas redes sociais. Eu próprio não fiquei indiferente à parvoíce das afirmações dele, embora dando um desconto ao relato da comparação, que admiti ser uma adaptação de um diálogo que imaginei antes assim:
- Tu és o Ronaldo da música? - Sou, mas pago impostos.
E deixei no meu Facebook um comentário demolidor, não da megalomania que atribuí a um mero exercício de ironia para responder a uma pergunta parva, mas à crítica implícita do cantor aos problemas fiscais do Cristiano Ronaldo, escrevendo "Estas palermices ficam bem a uma estrela de variedades que nasceu em berço de ouro e que, além de ter uma irmã gira e talentosa, é conhecido por dizer piadolas palermas com uma descontração desconcertante. Mas o Cristiano Ronaldo que cresceu com os dentes tortos e uma coragem inimaginável da mãe já deve ter pago numa vida só mais impostos do que toda a linhagem somada dos Condes, Viscondes, Barões e Senhores de Sobral que deu ao menino o berço de oiro onde nasceu e os dentes certinhos, incluindo os banqueiros.".
O Salvador Sobral tem de facto algum historial de afirmações um bocado palermas que parecem exercícios catalogáveis na categoria que noutros tempos se designava como politicamente incorrecta, hoje em dia os conservadores assumem que politicamente incorrectos são eles e que tudo o que tenha inspiração socialista ou liberal (no sentido que os anglo-saxónicos dão ao termo) é apenas politicamente correcto, termo que passou aliás a ser usado como um insulto ainda mais injurioso que comuna para os despachar sintetica e expeditamente em qualquer discussão, ou noutros tempos ainda mais recuados mas que eu sou suficientemente velho para recordar, para escandalizar os burgueses.
Tal como o soissante-huitard Daniel Cohn-Bandit fazia um exercício de puro mau-gosto quando em 1975 sugeria no seu livro "Le Grand Bazar" jogos sexuais entre crianças e de crianças com adultos no jardim de infância onde trabalhava, de que mais tarde se veio a arrepender quando as palermices escritas para escandalizar os burgueses que as tomassem por descrições de práticas reais em vez de meras provocações para os assustar passaram a ser interpretadas como a confissão de antigos crimes de pedofilia num contexto em que a pedofilia ascendeu na hierarquia dos crimes aos níveis mais odiosos, o Salvador Sobral também tem tido diversas tiradas de puro mau-gosto, como quando disse num concerto de apoio e angariação de fundos para as vítimas de Pedrogão Grande "Eu sinto que posso fazer qualquer coisa que vocês batem palmas. Vou mandar um peido a ver o que acontece", que aliás parece uma apreciação bem fundamentada da sua experiência de passagem rápida do anonimato ao estrelato e um lamento à falta de sentido crítico e de exigência que o novo estatuto parece despertar no seu próprio público, ou "A coca ajuda-me muito" noutra entrevista a outro programa de televisão espanhola. Não passam de palermices politicamente incorrectas, coisa de que não vem grande mal ao mundo por o cantor não fazer o que faz para nos pastorear mas simplesmente para nos entreter, mas que lhe asseguram um ódio de estimação entre as pessoas que ofende com estas provocações.
Já a parte da resposta que insinua que as práticas fiscais do Cristiano Ronaldo que originaram o processo que o fisco espanhol lhe instaurou que acabou num acordo em que ele se comprometeu a pagar "voluntariamente" quase 20 milhões de Euros e o Estado espanhol a não o condenar a uma pena de prisão efectiva, são censuráveis, por contraponto com as dele, que são limpas, pode conter uma certa dose de injustiça, tendo em atenção que o futebolista é certamente um dos maiores contribuintes individuais para o fisco espanhol, pagando anualmente do seu bolso muitos milhões de Euros de impostos que o governo espanhol depois redistribui entre os outros espanhóis das formas que entende e que a lei prescreve, e que a prática em questão, não reconhecer como usufruidos em Espanha e não declarar em Espanha rendimentos de actividades que ele exerce noutros países, por exemplo a utilização da sua imagem em publicidade comercial que passa em Portugal, tem algum sentido, e que o acordo "voluntário" se deveu mais à força bruta do fisco e à sua capacidade para o condenar a uma pena de prisão do que ao reconhecimento pelo futebolista da ilicitude das suas práticas fiscais. Podendo tratar-se de um abuso do fisco espanhol sobre um contribuinte para lhe extorquir ainda mais dinheiro, de a business proposition he wasn't allowed to refuse no sentido corleonico da expressão, mais valia ao cantor ter-se abstido de criticar o futebolista.
E portanto o Salvador Sobral diz palermices, é megalómano e concorda com os abusos do fisco sobre os contribuintes.
Isto seria uma grande verdade se ele tivesse dito na entrevista o que se disse que ele disse. Só que ele não disse nada do que se disse que ele disse. À pergunta "- Tu eres el Cristiano Ronaldo de la musica?" ele respondeu "- Ui!", e à disparada logo de seguida "- Pero pagas impuestos?" ele respondeu "- Pago impuestos." (minuto 16:07).
De resto, uma entrevista de um miúdo modesto e inteligente num Espanhol correcto onde até cabem críticas à política cultural do governo socialista português e à distância entre as expectativas que suscita nos agentes culturais e o que depois está efectivamente disposto a distribuir por eles. E a interrogação sobre se a energia que exibe ultimamente se deverá, não à cocaína, mas à cortizona que tem tomado por causa da sua condição de saúde?
Mas para que interessam os factos quando os factos estragam uma boa história? Para nada. Então podemos manter o resumo original da entrevista.
- Eu sou o Ronaldo da música mas pago impostos.
O Marcelo teve um rendez-vous
Depois de desmaiar em Braga por causa de uma intoxicação alimentar que terá apanhado na Rússia o Marcelo, let's skip the "Professor Rebelo de Sousa", foi aos Estados Unidos da America falar com o Donald Trump.
Os seus níveis de energia talvez se devam também a algum medicamento que lhe deram para acordar do desmaio, porque mal chegou à Casa Branca deu ao Donald Trump um passou-bem que o ia arrancando do chão, talvez um golpe aprendido quando era praticante de Aikido, talvez aprendido no seu rendez-vous anterior como o presidente macho-alfa Vladimir Putin.
Mas a energia do passou-bem não se comparou com a da conversa, que foi registada para a eternidade pelas televisões logo a seguir a uma declaração do presidente Trump sobre a substuição de um dos juízes do Supremo Tribunal que a precedeu.
E entre o que eles disseram, o que quiseram dizer e o que pensaram, a conversa foi mais ou menos isto.
- Anyway I'd like to tell that we have a very long lasting friendship and partnership...
- Yes.
- ... it started the moment we recognized you...
- Thats right.
- ...we were the first neutral country to recognize United States of America independence...
[assentar com a cabeça]
- ...although we had as our oldest ally England...
- Hum, hum.
- ...so it was courageous at that time, and I don't know if you know it, but your founding fathers celebrated the independence with our wine, with Madeira wine, they made a toast...
- Good taste!
- ...with our Madeira wine, it's a long story...
[Ganda seca, este gajo pediu aos assessores a história da amizade entre Portugal e os EUA e não se vai calar enquanto não a desboninar toda e ainda vamos no século XVIII]
- ...Madeira island also gave to the world Cristiano Ronaldo, don't forget that Portugal has the greatest football player in the world...
- Oh... [Tirem-me daqui]
- ...Cristiano Ronaldo is now in Russia, by the way, my friend Putin sent a "Hi" to you...
[Tenho que ver se arranjo uma coisa qualquer para dizer a ver se ele fecha a matraca]
- ...Cristiano Ronaldo has balls the size of watermellons, you can see it in his statue, balls of Madeira, wooden balls...
- Right, thats right.
- ...so if you go to Russia before the championship ends Cristiano Ronaldo will still be there and you can send him my "Hi"...
[Já sei!]
- ...as Portugal will still be there and wanting to win...
- So tell me, how good is he as a player, are you impressed?
- I'm very much impressed, he's the best player in the world...
- So, will Cristiano ever run for president against you?
- O caralhinho é que ele me tira o lugar! Pensas que o filho de uma criada de servir alguma vez chega a presidente, seu chimpanzé de cabelo alaranjado? Portugal is not just the United States!
Seguiram-se perguntas da comunicação social sobre o tema que realmente lhes interessava naquela sessão, a substituição do juiz do Supremo Tribunal que se reformou, e o Marcelo ficou sossegadinho durante o resto da sessão. A pergunta tinha resultado.
Tem sido no facebook um sem-fim de piadas foleiras sobre o Beppe Grillo do Sporting, para o qual tenho dado com gosto o meu contributo. Bruno de Carvalho terá como dirigente desportivo bastantes qualidades e pessoalmente muitas, mas como figura pública tem uma que sobreleva as demais, que consiste em ser um cómico involuntário, a variedade que dá mais vontade de rir. O homem julga que aquele mundo da bola, em que vive, tem mais importância do que o Serviço Nacional de Saúde; o Sporting mais do que a Autoridade Tributária ou a Santa Casa; ele mais do que o procurador-geral da República; e as tricas em que não cessa de se enredar mais do que os sarilhos de que Trump não se consegue libertar.
Queria, o pobre, reformar o futebol, um mundo tradicionalmente corrupto, como se isso estivesse ao alcance de um chefe de claque, uma contradição tão patente como a de um comunista querer assegurar a liberdade de expressão para não-comunistas.
Não conseguiu, nem podia. A corrupção no futebol existe porque satisfaz necessidades: vende horas intermináveis de debate e a notoriedade de não-pessoas que, sem isso, seriam anónimas, além de quantidades invejáveis de jornais desportivos que sustentam uma miríade de jornalistas; engrandece dirigentes, que adquirem o estatuto equívoco de Al Capones de trazer por casa, porque se se desse o caso de serem sérios seriam trucidados como ingénuos; unta as mãos e alimenta as carreiras de figuras obscuras de empresários e facilitadores, quando não os próprios dirigentes; fornece uma desculpa, e confortáveis sentimentos de auto-compaixão, às massas de fãs de clubes menores, que não veem a caterva de jogadores preguiçosos e ineptos que recheiam o plantel da equipa da terra mas veem, porque para não ver precisavam de ser cegos, as arbitragens tendenciosas em favor dos três grandes; e reforça o sentimento tribal de pertença a um dos três clubes que inclinam tradicionalmente o campo a seu favor, e que por serem os com maiores recursos discutem entre si o campeonato, atribuindo-se a vitória a um deles consoante o sucesso das manobras que nos bastidores garantem em certas épocas árbitros amigos.
Previsivelmente, sportinguistas que noutras áreas da vida se portam com um módico de gravidade reagem como os católicos fanáticos quando se lhes goza o Papa, os economistas quando se lhes discute a ciência e as feministas quando se lhes põem reservas às quotas: ficam possessos. Um amigo, cordato e civilizado, destratou-me por ter dito, no Facebook, que
Os sócios do Sporting são cómicos: queixam-se da demência do demente que elegeram. Os socialistas que reelegeram Sócrates também se queixam da desonestidade dos políticos.
Não faz mal: uma das razões porque os adeptos vão ao futebol é porque nos estádios se podem comportar como selvagens, que ninguém leva a mal. E a paixão clubista, bem vistas as coisas, é uma desculpa muito melhor do que outras para a malcriadez: seria decerto um consolo saber, quando Costa insulta Cristas no Parlamento, que o faz por ser do Benfica, e não pela razão chã de ser simplesmente grosseiro e mal-educado.
Terei pena se Bruno for embora: o homem é o bruto mais simpático que conheço e escasseiam, no nosso país onde crianças cancerosas recebem quimioterapia em corredores gelados, motivos de galhofa. E a única consolação, e esperança, é que se fala, para o substituir, do bombeiro Marta, homem com a truculência bastante, o verbo inspirado e a grosseria q.b. para fazerem um digno sucessor. Milita a favor deste candidato ainda o facto de, sobre a sua especialidade, que são incêndios, não dizer praticamente senão asneiras, donde talvez os sportinguistas concluam que, de futebol, é capaz de entender alguma coisa.
O Europeu já lá vai e o entusiasmo também - na mesma terra onde a arrogância tradicional dos hospedeiros levou uma ensinadela quis o acaso que um atentado nos viesse lembrar que o corpo do Ocidente tem um tumor, que dele nos vamos ocupar nos próximos tempos, sempre que pulsar, a ver se atinamos como impedir que cresça, e se o podemos lancetar ou extirpar. Esse tumor é o islamismo, mesmo que a maior parte dos meus colegas médicos não concorde com o diagnóstico, por julgar tratar-se de uma inflamação passageira, a curar com rezas multiculturais e mezinhas solidárias.
Dos atentados terroristas falarei noutra maré, porque creio que não faltarão ocasiões - a nossa insignificância e a exiguidade da comunidade muçulmana põem-nos, relativamente, ao abrigo de atentados (ainda que a diligência do patético Costa, a convidar imigrantes, e o patrocínio do homúnculo Medina, a subsidiar a construção de mesquitas, façam o possível para nos atrair mais esse atributo da modernidade suicida), mas lá que haverá mais atentados na Europa - haverá. O Islão não é compatível com a irreligiosidade das consciências e dos comportamentos, nem com um Estado neutro em matéria de costumes e igualitarista no que toca a direitos das mulheres, e portanto a identidade das comunidades muçulmanas só pode afirmar-se contra a identidade dos nacionais dos países que as acolhem, logo que as dimensões lhes permitam ter bairros, escolas e instituições próprias.
Mas este post não é sobre atentados, é mesmo sobre futebol. O futebol dentro das quatro linhas, a despeito dos esforços dos comentadores, não é difícil de perceber: as regras não são muitas (menos de 20), o objectivo é evidente, e só não ganha sempre o clube ou selecção que tem melhores jogadores porque o jogo, sendo de equipa, obriga a que cada um se abstenha de brilhar, a benefício de quem esteja mais bem colocado para progredir, sob pena de ver os seus esforços anulados pela defesa contrária; e obriga a que o treinador disponha as suas peças no terreno de modo a anular o que a equipa contrária sabe fazer (o que implica conhecê-la) e tire o melhor partido do que os jogadores próprios sabem fazer nas posições que lhes convêm (o que implica conhecê-los). Isto, mais a preparação física, o ocasional golpe de génio de jogadores sobredotados (como Cristiano ou Quaresma), o espírito de sacrifício, a capacidade de ler o jogo e fazer as correcções necessárias, com a prata de que se dispõe, faz a equipa ganhadora - sempre que a combinação destes factores for mais hábil, ou inerentemente melhor, do que a do opositor.
É preciso também sorte. E mesmo que a sorte não explique uma sucessão de vitórias, nem o azar uma sucessão de derrotas, não existe menos por isso: quem achar que, no futebol e na vida, a sorte e o azar não existem, pode trocar por acaso favorável e acaso desfavorável - sempre a coisa, ficando igual, parece diferente e mais aceitável.
Este paleio parece, e é, lógico, mas sabe a pouco. Sucede que Tunku Varadarajan, o autor lincado no início (cidadão britânico nascido na Índia e vivendo em Brooklin, diz a wikipédia) captou na carreira da nossa selecção algo que intuímos lá esteve. E podemos então pensar, se nos quisermos deixar embalar por arroubos nacionalistas, que o nosso Ronaldo foi dizendo para os seus botões que:
Aqui ao leme sou mais do que eu:/Sou um povo que quer o caneco que é teu;/E mais que Deschamps, que me a alma teme/E roda nas trevas do Stade de France,/ Manda a vontade, que me ata ao leme,/Do engº Ferdinand.
Gosto de acreditar que a selecção de todos nós, por alguma alquimia difícil de explicar, nos representou com as nossas qualidades e os nossos defeitos.
Porque, além do mais, se não quisermos pensar assim, teremos que concluir que Fernando Santos, como Mourinho antes dele, trocou a beleza do espectáculo pela eficácia - as equipas de Mourinho também não costumam jogar bonito.
E isto devia preocupar as pessoas que gostam de futebol e não apenas da pertença a uma paixão clubística, e que gostariam de chamar ao interesse pelo jogo quem disso anda arredio - a maior parte da população. Porque os estádios da maior parte dos clubes em Portugal estão quase sempre mal cheios, ou meio vazios. O espectáculo da selecção atraiu, pela paixão, pelo drama e pela expectativa, até mesmo quem não vê jogos habitualmente - somos todos portugueses, mas não somos todos, nem sequer a maior parte, a despeito do massacre televisivo, adeptos de futebol.
Querem os estádios cheios, são entendidos em futebol, e gostariam que quem não teve quem em pequeno lhe incutisse o vício do clube, que é na realidade a desculpa para o conforto de pertencer a uma tribo, visse o espectáculo? Resolvam dois problemas: um é o da violência nos estádios, que afasta as mulheres e as famílias; e outro é o das regras, que consentem, e recomendam, que mais importante do que marcar golos é não os sofrer. Os nossos treinadores, artigo de exportação cobiçado em todo o lado, fazem émulos. E, a prazo, o futebol tenderá a parecer, salvo o ocasional fogacho, um jogo de xadrez executado por robôs.
Mas eu, como se vê, de terrorismo, e de futebol, não entendo nada.
Sobre as tretas do futebol, creio que as pessoas prudentes não devem convidar dirigentes ou árbitros para suas casas sem mandar esconder as pratas; sobre Jorge Jesus, que é capaz de ser óptima companhia para quem tenha paciência para lhe aturar o ego e a ignorância; e sobre a acção do Benfica contra Jorge que há um artigo do Código de Processo Civil (456º) que reza: Diz-se litigante de má-fé não só o que tiver deduzido pretensão ou oposição cuja falta de fundamento não ignorava, como também o que tiver conscientemente alterado a verdade dos factos ou omitido factos essenciais e o que tiver feito do processo ou dos meios processuais um uso manifestamente reprovável, com o fim de conseguir um objectivo ilegal ou de entorpecer a acção da justiça ou de impedir a descoberta da verdade.
E o que é que tudo isto interessa? Interessa muito: que do mundo do futebol e seus actores posso defender-me não lendo o esterco noticioso e mudando de canal; mas não tenho defesa contra a mobilização dos tribunais para, em vez de tratarem de assuntos sérios, se ocuparem das guerras do alecrim.
O futebol é dos seus actores e do seu público; os tribunais são de todos e um órgão de soberania - que não deve ser abandalhado.
(Originalmente publicado no Senatus, em 5 de Novembro 2011)
Não sei como é que se chama o treinador do FCP. Mas acaba de explicar, na sala de imprensa, que empatou o jogo com o Olhanense porque "houve uma certa permissidade". Depois justificou a "não concretização" da grande penalidade dizendo que não sei quê, e terminou considerando que a equipa provou a sua superioridade porque "não permitiu qualquer situação".
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