Todos os partidos têm entre os seus militantes gangsters, não no sentido alegórico de pessoas cujo carácter e métodos de actuação reprovamos e que se movimentam individual ou colectivamente para contrariar os nossos interesses ou o que interpretamos ser o interesse colectivo, mas no sentido literal de andarem com malas de dinheiro ou darem, ou mandarem dar, valentes cargas de porrada a quem se lhes atravessa no caminho e atrapalha no exercício da actividade.
A política também se destina a determinar quem gere os recursos públicos, e a possibilidade de gerir recursos públicos é um atractivo irresistível para quem vê nela uma oportunidade para os gerir para seu benefício pessoal, pelo que a política atrai gente desonesta, e, tal como noutras profissões que têm inerente a delegação de alguma autoridade que aconselha a serem de acesso revervado a gente honesta, desde polícias, a magistrados, a fiscais de obras, é virtualmente impossível encontrar métodos eficazes para a detectar e lhe impedir o acesso à profissão. E os partidos também não tem métodos para impedir a admissão de gente que se filia para vir a ter a possibilidade de gerir recursos públicos em seu favor, nem de esta encontrar ou trazer para dentro do partido mais gente com as mesmas ambições, a mesma flexibilidade ética e capacidades que complementem as suas em diferentes áreas de actuação, incluindo, mas não exclusivamente, o exercício de violência física quando é conveniente.
Esta gente que exerce cargos políticos com a finalidade de se apropriar de recursos públicos em seu benefício pessoal provoca danos colectivos evidentes, a corrupção está mais do que caracterizada e qualificada para valer a pena enumerá-los aqui, e é, e bem, pelo menos nos tempos mais recentes porque nem sempre foi, mas também é verdade que nem sempre foi alvo de uma reprovação social tão intensa e generalizada como é actualmente, de modo que talvez se possa dizer que a justiça, para além de se guiar pela Lei, como devia, também se parece guiar pela pressão social, como não é óbvio que deva, perseguida pela justiça. Perseguição que também está mais do que caracterizada e qualificada para valer a pena detalhá-la aqui.
Mas, em paralelo com este efeito pernicioso, esta gente também proporciona um importante benefício de que nem sempre toda a sociedade se apercebe e, consequentemente, de que nem sempre se coloca em posição de usufruir. É que esta gente costuma ter uma apurada sensibilidade e capacidade de avaliar o carácter dos outros no domínio de serem favoráveis ou, pelo menos, permissivos, às suas actividades, ou de serem intolerantes com elas e, comulativamente, capazes de, pela denúncia ou mesmo pelo exercício do poder, as contrariar.
Ou seja, esta gente tem uma capacidade mais apurada do que o comum dos cidadãos, militantes ou eleitores para identificar
e essa capacidade pode ser preciosa para as pessoas honestas mas sem a sensibilidade nem a informação de que ela dispõe fazerem através dela uma avaliação dos candidatos que tem que escolher para diversos cargos electivos, por critérios que muitas vezes serão exactamente opostos aos dela.
E, infelizmente, não faltam oportunidades para nos apoiarmos nas escolhas de gangsters partidários para avaliarmos o carácter de personalidades de políticos que, por um motivo ou outro, gostaríamos de conseguir avaliar.
Umas das clássicas foi a sova que os militantes socialistas de Felgueiras aplicaram ao, à época, presidente da Federação Distrital do Porto do Partido Socialista, Francisco Assis, quando se deslocou a Felgueiras depois de, na sequência de lhe ter sido decretada pelo tribunal a medida de coação de prisão preventiva no processo em que era arguida por motivos de corrupção, a presidente da Câmara Municipal de Felgueiras ter fugido para o Brasil, a federação liderada por ele lhe ter retirado a confiança política e ter solicitado aos restantes vereadores socialistas a apresentação da demissão para provocar a dissolução da Câmara Municipal e criar a oportunidade convocar eleições intercalares para eleger um novo presidente, e perante a recusa destes em se demitirem, lhes ter retirado a confiança política também a eles.
Mais do que relatado, o episódio foi filmado e ficou escrito na pedra como um documento que perpetua o modo de actuação dos gangsters dos partidos.
E este episódio disse, a quem lhe interessava saber, que o PS tinha no seu seio gangsters capazes de recorrer à agressão física, neste caso ao linchamento, para defender os autores, prescindo de lhes chamar alegados porque os preciosismos da linguagem juridicamente precisa são essencias para o exercício da justiça num estado de direito mas dispensáveis para cidadãos como eu tirarem as conclusões que entendem dos factos que conhecem, de actos de corrupção, mas que também que tinha dirigentes capazes de enfrentar, mesmo colocando em risco a sua integridade física, os autores de casos de corrupção e os seus apoiantes em diversas vertentes de apoio, desde o institucional à agressão física.
E disse, a quem isto interessa, e independentemente de partilhar com ele opiniões, ideologias e interesses partidários, ou os seus contrários, que o Francisco Assis se revelou um político de uma dignidade admirável.
E disse também que os gangsters souberam muito bem identificar quem estava com eles e quem estava contra eles, ou seja, quem lhes fazia fretes e quem lhes fez frente. A presidente da CM Felgueiras fazia-lhes fretes, os vereadores socialistas também, e o Francisco Assis fez-lhes frente. Eles nunca se enganam e por isso nunca enganam que olha para o que eles fazem.
Mas o PS não é, ainda que não se conseguisse deduzir do que eu disse no início que penso que é suficiente claro para o fazer, o único partido onde militam gangsters. No PPD/PSD também os há, e também com provas dadas.
Há, por exemplo, dirigentes locais condenados por agressões a outros dirigentes locais e autarcas do mesmo partido. Há dirigentes distritais não-condenados por fraude fiscal qualificada e falsificação de documento no fim de um processo em que se deu como provado que receberam uma pequena fortuna de construtores civis em malas de dinheiro. Quase resistia a juntar a estes exemplos de gangsters clássicos que praticam a agressão física ou trasportam dinheiro em malas os de novos gangsters, os perfis verdadeiros ou falsos que são colocados nas redes sociais para lançar porcaria sobre adversários internos no partido, mas desisti de resistir e apresento um modesto exemplo retirado de um perfil do Facebook de alguém que é alegadamente, e aqui recorro ao alegadamente por poder não se tratar de uma pessoa real mas de um perfil falso, se bem que com origem facilmente contextualizável, militante do PSD e critica o ainda presidente do partido com a elevação que se pode comprovar.
Os gangsters estão lá, as suas qualidades e capacidades comprovadas, e os danos sociais que causam concretizados.
Mas, e o tal benefício potencial que se pode retirar da observação das escolhas que eles fazem e, através delas, a aferição que fazem do carácter dos escolhidos e dos preteridos, a expectativa revelada por eles próprios de quem lhe pode fazer fretes e quem lhe pode fazer frente?
Nesta caso concreto é clarinho como a água. Todos apoiam o mesmo candidato à presidência do PSD, e o candidato que eles apoiam não é o candidato Pedro Santana Lopes. É o outro.
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