Por estes dias associei uma série de "filmes" que nos têm sido servidos nos últimos tempos a um (bom) livro que estive a ler.
Os filmes:
O QUE OS FINLANDESES PRECISAM DE SABER SOBRE PORTUGAL
O improvável binómio WAR-ART, segundo aprendi recentemente, é muito intrincado e a relação entre ambos tem muito de salvífico.
Em recente visita à National Gallery (Londres), uma amiga falou-me da "Picture of the Month" que era exposta numa das salas do museu durante os últimos anos da Segunda Grande Guerra. O assunto interessou-me e quis saber mais...
Nos meses que se seguiram à declaração de Guerra, Londres preparou-se para a violenta chegada desta até si: foram construídos abrigos anti aéreos, muitas crianças foram evacuadas e máscaras de gás distribuídas pela população. Também a coleção da National Gallery tinha que ser posta a salvo e muitas foram as soluções estudadas.
Para começar levou-se a cabo um levantamento das casas, em zonas menos propensas a bombardeamentos, que pudessem albergar as obras. Mas havia muitas restrições práticas, desde logo quanto à largura das portas, espaço na casa, condições de temperatura e humidade. Muitas das experiências não correram bem..."The owner is nice, ruled by his wife, a tartar, anxious to have NG pictures instead of refugees or worse"- um exemplo de uma anotação à margem de uma das casas visitadas.
Surgiu então a possibilidade da coleção ser levada para o Canadá, mas Churchill - no seu estilo carismático- opôs-se dizendo :"Hide them in caves and cellars, but not one picture shall leave this island". E ainda bem que foi assim, porque muitos foram os barcos bombardeados durante a travessia do Atlântico.
Finalmente, depois de meses de planeamento, a coleção acabou por ser transportada para o País de Gales, onde ficou protegida em minas abandondas, secretamente.
O diretor do museu - Kenneth Clark, então nos seus thirties- foi responsável por muitas destas decisões e também a ele se deve a visão do "Picture of the Month", iniciada em 1942.
A NG tinha-se mantido aberta ao público e, embora despojada da sua coleção, albergava concertos - os famosos Lunch-Time Concerts by Myra Hess, que duraram os 6 anos do London Blitz - e algumas exposições quer de obras de colecionadores privados, quer de artistas recentes - a quem Clark queria preservar dos horrores da guerra e da provável morte.
Mas, com a aquisição do quadro "Margareth de Geer" (Rembrandt) e o sucesso da sua mostra por 3 semanas numa sala - otherwise empty - da Galeria, surgiu a a questão: porque não repetir esta experiência, numa base regular, a partir da coleção permanente?
E assim aconteceu. O primeiro quadro foi de Ticiano, "Noli Me Tangere". E muitos outros se sucederam, acompanhados pelo ritmo seguro dos concertos da hora de almoço.
A NG tornou-se num "defiant outpost of culture right in the middle of a bombed and shattered metropolis" (Herbert Read). No meio do pó, dos destroços de Londres, do cinzento dominante: a cor vibrante, a estética, o sentido da permanência.
In wartimes, art can save.
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